42

47 5 0
                                    

Hansi Flick
Bônus 3/10

O ar parece ficar denso à minha volta, e o silêncio do quarto se torna ensurdecedor. A visão dela ali, inerte, com tantos fios e tubos conectados ao seu corpo, me faz sentir uma dor profunda, como se tivesse perdido tudo, como se o tempo tivesse me escapado pelas mãos. Vinte e um anos. Vinte e um anos em que estive distante, seja pela minha própria escolha, seja pela vida que me levou para outros caminhos. E agora, ela está ali, lutando pela vida, e eu me sinto impotente, incapaz de mudar tudo o que aconteceu.

Fico parado, olhando para o rosto dela. Mesmo com a palidez e a fragilidade do momento, ainda vejo os traços dela, os traços de quem foi, de quem é, de quem sempre será minha filha, a menina que eu perdi ao longo dos anos. Eu poderia ter sido melhor, poderia ter sido presente, mas não fui. E o arrependimento me consome, como uma lâmina afiada, cortando cada pedaço de esperança que tento cultivar.

Me aproximo dela, sentando ao seu lado, e agarro sua mão, com força, como se tentasse passar toda a minha energia para ela. Como se ela pudesse sentir a dor que eu carrego e, com isso, acordar, abrir os olhos e me perdoar. Porque eu sei que, no fundo, essa é a única coisa que realmente posso oferecer a ela agora — a minha dor, a minha culpa, a minha presença.

É a primeira vez que pego na sua mão, após vinte e um anos. Ela nunca me deixaria fazer isso antes. Eu sei que Emma tem raiva de mim, e não a culpo por isso. Eu mereço todo o castigo. Mas ainda assim, dói, dói profundamente ver o ódio em seus olhos, sentir o desprezo que ela deixa claro a cada olhar que me dirige.

Eu continuo segurando sua mão, tentando não quebrar diante da intensidade do momento. O silêncio no quarto é pesado, mas é o único som que me acompanha. O som da minha própria respiração e, talvez, o som distante da luta dela pela vida. Cada segundo parece interminável, e a culpa me aperta como um nó em minha garganta.

Sinto o peso das minhas escolhas, das minhas falhas. Eu estive longe quando ela mais precisou de mim. Estive distante quando ela só queria a presença de um pai. Agora, é tarde demais para voltar no tempo, para corrigir tudo o que fiz de errado. A vida dela passou enquanto eu me perdia em outros mundos, em outras prioridades. E ela, Emma, a minha filha, cresceu sem mim. Sozinha.

Eu encaro seu rosto, tentando captar qualquer sinal de vida, qualquer movimento que mostre que ela ainda me reconhece, que ainda existe uma chance para nós. Mas não há nada. O silêncio é absoluto, o vazio entre nós é intransponível.

— Eu te amo, Emma — sussurro, a voz rouca pela emoção que me sufoca. — Eu sei que isso não vai apagar o que eu fiz, que não vai consertar tudo o que eu quebrei, mas eu te amo, filha. E por favor, me perdoe. Por tudo.

É difícil até mesmo dizer essas palavras. Elas parecem pequenas diante de tudo o que aconteceu, diante de toda a dor que eu causei. Mas é tudo o que tenho agora. Minhas palavras, minhas desculpas, e a minha presença, ainda que ela não queira mais nada disso.

Eu fecho os olhos por um momento, deixando que as lágrimas escorram pelo meu rosto. Eu nunca fui bom com sentimentos, nunca soube lidar com a dor, com o arrependimento. E agora, aqui, diante dela, percebo o quanto eu falhei. O quanto eu deveria ter sido melhor, mais presente, mais cuidadoso. Mas o tempo não volta, e o que me resta agora é esperar, esperar que um milagre aconteça, esperar que ela me perdoe, que ela me olhe e veja, finalmente, que eu aprendi a amar, que eu finalmente entendi o que realmente importa.

— Eu não sou digno do seu perdão, Emma. Mas eu estou aqui. Para o que você precisar. Sempre.— suspiro.— se eu pudesse voltava atrás e faria tudo diferente.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora