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Pedri González
Bônus 7/10

Deixo minhas flores amarelas ao lado da cama de Emma. Essa era minha primeira visita a ela e confesso, é muito estranho vê-la desacordada, cheia de agulhas e soro em suas veias.

Eu olhei para ela, minha amiga tão cheia de vida, agora deitada ali, imóvel. A última vez que nos vimos na confraternização de Gavi, estávamos rindo, planejando alguma coisa para o final de semana, falando sobre sonhos e desafios. E agora, ela estava aqui, e eu não podia fazer nada para ajudá-la.

Sentei-me ao lado da cama, ainda em choque. Coloquei minha mão sobre a dela, um toque leve, com medo de machucá-la de alguma forma, como se ela estivesse feita de vidro. Eu queria falar, queria dizer alguma coisa, mas as palavras pareciam fugir, como se qualquer coisa que eu dissesse fosse insignificante.

— Ei, Emma... sou eu, o Pedri — murmurei, tentando manter a voz firme, mas sentindo a garganta apertada. — Eu trouxe essas flores... amarelas. Achei que você gostaria de um pouco de cor aqui. Você sempre gostou de coisas assim, né? Algo que dê vida ao lugar.

Havia um silêncio tão profundo na sala que eu quase podia ouvir meu próprio coração batendo. Era estranho, ver alguém tão viva, tão cheia de energia, agora tão quieta. Eu queria poder fazer alguma coisa, queria poder trocar de lugar com ela, se isso significasse que ela ficaria bem.

— Você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço, Emma. Eu sei que vai sair dessa... não tem como alguém como você simplesmente desistir. Não você.

Respirei fundo, lutando contra as emoções que ameaçavam me dominar. Lembrei-me de todas as vezes em que ela esteve ao meu lado, sempre com aquele sorriso otimista, sempre me dando forças, mesmo quando eu achava que não conseguiria seguir em frente. Agora, era minha vez de estar aqui por ela, mesmo que tudo o que eu pudesse fazer fosse esperar.

— Eu preciso que você acorde para me ensinar mais sobre a bíblia, ainda tem muito que tenho que aprender — Um sorriso triste se formou em meus lábios. — comecei ler reis e estou ansioso para chegar na parte de Davi.

— Então, você tem que acordar logo, tá? Porque eu ainda não entendi metade das coisas que li na bíblia — murmurei, soltando uma risada fraca. — Eu não tenho ninguém pra me ajudar com as partes difíceis... aquelas que você sempre entende e explica de um jeito que eu consigo entender também.

Olhei para as flores amarelas ao lado dela, tentando me concentrar em algo que não fosse o estado dela. Essas flores sempre a faziam sorrir, como se fossem um pequeno pedaço de sol dentro de um vaso. E, de alguma forma, eu senti que talvez, quando ela acordasse e visse as flores, isso pudesse fazer com que o brilho dela voltasse.

— Ei, Emma, eu prometo que, assim que você acordar, a gente pode fazer qualquer coisa que você quiser. Se quiser, eu te levo para ver um jogo, te dedico um gol, mesmo você reclamando das vezes que a bola escapa do meu pé e os inúmeros cartões amarelos que o Gavi recebe... Ou então, podemos ir para o parque, igual você sempre sugere. O que você quiser.

Eu ficava repetindo essas promessas, talvez na esperança de que elas chegassem a ela, de que ela pudesse ouvi-las de alguma forma. Emma sempre tinha algo a dizer sobre tudo, sempre com aquele jeito dela, um pouco tímido, mas cheio de convicção. E agora, eu estava aqui, falando sozinho.

— Você não tem permissão para desistir, ouviu? — continuei, a voz quase embargando, mas segurei firme. — Davi também enfrentou muita coisa, você disse isso pra mim... Então, seja forte, tá?

O silêncio era tão grande que doía. Eu só queria que ela apertasse minha mão, desse algum sinal de que estava ouvindo, qualquer coisa. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, e fechei os olhos, tentando segurar as emoções que transbordavam.

— Emma, eu... você não faz ideia de como é importante pra mim. E de como eu preciso de você aqui. Então, por favor, luta. Você virou como uma irmã que nunca tive, uma amiga que posso contar, mesmo que eu não expresse muito.

Fiquei ali, esperando. Segurando sua mão, como se, de algum jeito, isso pudesse ajudá-la.

— Que tal uma oração? Você sempre me disse que uma oração move montanhas. — suspiro.

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me lembrar das palavras que ela sempre usava em suas orações, da maneira como ela conseguia tornar tudo tão simples e, ao mesmo tempo, tão cheio de significado. Segurei sua mão com mais firmeza, como se isso pudesse fortalecer minha própria fé.

— Senhor... — comecei, com a voz trêmula. — Eu sei que talvez eu não seja o mais religioso e que, às vezes, eu nem entenda direito o que a Emma me explica, mas estou aqui agora, pedindo por ela.

Senti meu coração apertar, e minha voz falhou por um segundo, mas continuei, tentando encontrar forças na memória dela, naquele sorriso que sempre me trazia paz.

— Eu peço que o Senhor cuide dela, que dê força para ela superar tudo isso... porque... porque não sei o que faria sem ela aqui. Ela é a pessoa que me lembra de olhar para o lado bom das coisas, de ter esperança, de acreditar que sempre há um caminho.

Apertei a mão dela com cuidado, desejando que, de alguma forma, ela sentisse minha presença, que soubesse que eu estava ali.

— Por favor, Senhor, devolve a ela aquele sorriso. Ajuda ela a voltar pra gente, pra todos que a amam. Prometo que vou cuidar dela, e nunca vou deixar de ouvir os conselhos dela... mesmo que eu não entenda tudo.

Abri os olhos e olhei para Emma, esperando, como se algo pudesse mudar naquele instante, como se ela pudesse acordar e me dar aquele sorriso meio irritado, dizendo que eu estava fazendo drama demais.

Mas o quarto continuava quieto, o som dos monitores ainda era a única coisa quebrando o silêncio. Senti uma mistura de frustração e esperança, uma vontade enorme de vê-la de volta, de ouvir sua voz outra vez.

— Volta logo, Emma. — murmurei, segurando sua mão com ainda mais força, como se estivesse tentando transmitir tudo o que sentia, todo o carinho e a preocupação que estavam me consumindo.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora