38

100 9 9
                                    

Pablo Gavi

A falta de notícia nesse hospital é torturante. A cada minuto que passa, o silêncio se torna ensurdecedor, e a tensão aumenta dentro de mim. Eu tento encontrar algo para fazer, qualquer coisa que me distraia, mas minha mente sempre volta para ela. Emma. A incerteza sobre seu estado é como uma corrente invisível que me prende a esse lugar, e a cada segundo que passa, sinto o peso da impotência crescendo.

Passo as mãos pelos cabelos, frustrado. A ideia de que ela está ali, entre a vida e a morte, sem que eu possa fazer nada para ajudar, é sufocante. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando afastar o desespero. Mas é impossível.

— Cara, vamos lá fora tomar um ar. Vem! — Pedri me chama, já me puxando para o lado de fora.

Já era umas cinco da manhã, o sol já estava refletindo seus raios e iluminando ao redor. No lado de fora do hospital, estava bem movimentado: pessoas entrando e saindo, ambulância, médicos, enfermeiros.

A luz suave da manhã iluminava a fachada do hospital, trazendo um contraste estranho à dor e à ansiedade que eu sentia. O sol nascendo normalmente era um sinal de esperança, mas agora parecia apenas mais um lembrete de que o tempo continuava passando, indiferente ao que estávamos vivendo.

Pedri soltou meu ombro e se encostou na parede ao meu lado, sem dizer nada. Ele sabia que eu não estava a fim de conversa fiada, e a sua presença silenciosa era o suficiente para me ajudar a não enlouquecer completamente.

— Não consigo parar de pensar nela, Pedri, — confessei, quebrando o silêncio. — Cada segundo que passa parece que ela está mais longe de mim, e eu não posso fazer nada.

— Eu sei, cara. Sei que parece impossível agora, mas você tem que ser forte, por ela e por você. — Ele me olhou com seriedade. — Você sabe que Emma é forte. Se tem alguém que pode sair dessa, é ela.

Assenti, mas a dúvida continuava a me corroer por dentro. Sempre pensei que era forte, capaz de enfrentar qualquer coisa, mas agora me sentia completamente vulnerável.

— E se ela… — Minha voz falhou, e eu não consegui completar a frase. Só de imaginar a possibilidade, o medo tomou conta de mim, apertando meu peito.— Nosso último contato foi uma briga, Pedri! Você tem noção disso? Se ela.. se ela não conseguir resistir e..

Engoli em seco, sentindo o peso das palavras que eu mal conseguia pronunciar. Tinhamos discutido por algo que agora parece uma besteira. Algo insignificante, ridículo, mas que, na hora, parecia importar tanto. Agora, me torturava pensar que essa poderia ser a última lembrança que ela teria de mim.

— Gavi, você não pode pensar assim, cara. — Pedri apertou meu ombro com força, tentando me manter ancorado na realidade. — A Emma sabe que você se importa. Todo mundo briga, é normal. Isso não muda o que vocês significam um para o outro.

Mas, mesmo com as palavras dele, eu não conseguia me livrar da culpa. A imagem do rosto dela, aquela expressão de decepção quando virei as costas sem nem me despedir, era tudo o que eu via sempre que fechava os olhos.

— Eu só queria uma chance de dizer pra ela... que sinto muito. Que tudo aquilo não importa. Que eu...

Pedri suspirou, percebendo que não importava o quanto ele tentasse me consolar, nada substituiria o que eu precisava dizer diretamente para Emma. Ele sabia que, até eu ter essa chance, a angústia não iria embora.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora