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Ester Brigton
Bônus 8/10

— Desculpa não ter vindo antes, eu não me sentia pronta para ter ver assim, Emma.— seguro na mao da minha amiga, que como de esperado, não respondia, não abria os olhos, não fazia nada.— É estranho não te ter la em casa e eu sinto sua falta todos os dias. Todas as vezes que entro no seu quarto e vejo seus livros, sua Bíblia, seus ursos na cama, menos você, é estranho.

Minha voz saiu em um sussurro trêmulo, carregado de saudade. O quarto estava tomado por um silêncio quase sufocante, e a imagem dela ali, tão quieta, era o oposto do que eu conhecia. Emma sempre foi aquela que enchia a casa de vida, de risadas, de conselhos inesperados, de longas conversas sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo.

— Você nem imagina o vazio que deixou, Emma... — minha mão apertou a dela levemente. — Eu sei que eu deveria ter vindo antes, mas cada vez que eu tentava... cada vez que chegava na porta, era como se um peso enorme me segurasse.

Engoli em seco, sentindo as lágrimas começarem a escorrer. Lembrei das manhãs em que a via sentada à mesa, perdida em seus devocionais, e como ela conseguia trazer paz só com sua presença.

— Lembra como você sempre me incentivava a buscar forças na fé? — continuei, com um sorriso triste. — Agora sou eu quem está aqui, tentando te lembrar disso. Você é uma lutadora, Emma... sempre foi. E mesmo que esteja difícil, eu sei que você ainda está aí dentro, ouvindo cada palavra.

Soltei uma risada leve, repleta de nostalgia e dor. Respirei fundo, tentando não me deixar levar pela tristeza.

— Então, por favor... volta pra gente, tá? A casa está vazia demais sem você. — Coloco uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.— Eu fui para a igreja ontem, foi estranho ter ido sem você e me lembrou da vez que fomos juntas.

— Lembra? Você me arrastou pra lá, dizendo que eu precisava “alimentar meu espírito”. Eu reclamei, disse que preferia dormir até mais tarde, mas você não aceitou um “não” como resposta. — Soltei uma risadinha, embora houvesse um nó na minha garganta. — E, olha só, eu adorei. Acabei voltando por conta própria pela segunda vez... por sua causa.

Meu olhar se voltou para o rosto sereno dela, como se ela estivesse apenas dormindo. Mas o vazio da sala e a frieza da sua pele me traziam de volta à realidade.

— A pregação de ontem... falava sobre fé nas horas difíceis, sobre confiar mesmo quando parece que não temos mais forças. — Senti minha voz tremer um pouco. — E eu pensei em você o tempo todo. Pensei em como você sempre foi a pessoa mais forte e cheia de fé que eu já conheci. E agora, Emma, eu... estou tentando ser forte por você.

Apertei sua mão novamente, em um toque esperançoso, como se aquele gesto pudesse transmitir toda a energia e amor que eu guardava.

— Quando você acordar, vou te levar de volta à igreja, ok? Vamos sentar juntas, e você pode me explicar tudo o que eu ainda não entendi. E prometo que não vou reclamar de nada. — Uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto, mas eu mantive o sorriso, tentando ser a amiga que ela sempre foi pra mim.

Tento acalmar minhas lágrimas e a minha respiração.

— As pessoas costumam me perguntar de você na faculdade, inclusive aquela Marina, a diretora, os professores. — Eles perguntam de você quase todos os dias, sabia? — Soltei uma risada fraca, lembrando das conversas que tive com Marina, a diretora que sempre teve um carinho especial por Emma. — Ela sempre me para no corredor e pergunta quando você vai voltar para os seus estudos brilhantes. Diz que a faculdade não é a mesma sem a sua dedicação, seu sorriso... e sua maneira de ver o mundo com tanto amor.

Suspirei, sentindo a dor no peito se intensificar.

— E eu... sempre respondo que você vai voltar em breve, mesmo que eu não saiba ao certo quando. Porque acredito nisso, Emma. — Apertei sua mão um pouco mais forte, na esperança de que, de alguma forma, ela pudesse sentir meu apoio, minha presença. — Você sempre dizia que as batalhas mais difíceis são para as pessoas mais fortes... e se tem uma coisa que eu sei, é que você é uma das pessoas mais fortes que conheço.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso da situação. Uma pontinha de culpa ainda persistia em mim, por não ter vindo antes, por ter hesitado em enfrentar essa realidade tão dura.

— E sabe... — respirei fundo antes de continuar. — Quando você acordar, vou contar todas as novidades, todos os detalhes do que aconteceu na sua ausência. Porque nada é igual sem você lá para ouvir, para rir, para me dar aquele olhar que só você sabe dar quando acha que eu estou sendo exagerada.

Dei um sorriso trêmulo e deixei minha cabeça cair sobre a mão dela, deixando as lágrimas molharem sua pele, como uma despedida silenciosa e uma promessa de que eu estaria ali, esperando.

— Vamos orar? — pergunto, mesmo sabendo que ela não vai me responder.

Puxei uma cadeira ao lado da cama e fechei os olhos, deixando o silêncio tomar conta do quarto. Minha respiração estava pesada, mas eu sabia que precisava continuar ali, que precisava ser forte por ela.

— Senhor, eu sei que o Senhor está ouvindo... — comecei, tentando segurar a voz que teimava em fraquejar. — Sei que nada é impossível para Ti e que Tua força está acima de qualquer fraqueza. Eu te peço que segure a mão da Emma, que não a deixe sozinha, mesmo que eu não consiga estar aqui o tempo todo.

Deixei as lágrimas escorrerem novamente, sentindo um misto de dor e esperança.

— Ela sempre foi Tua serva fiel, Senhor, sempre confiou em Ti... Então, por favor, esteja ao lado dela agora, neste momento tão delicado. Traga de volta o brilho dos olhos dela, aquela alegria que ela sempre carregou... E me dá forças também, Senhor, para ser a amiga que ela precisa agora.

Soltei um suspiro longo, sentindo um pouco do peso sair dos meus ombros.

— Emma, sei que você está ouvindo de alguma forma... — sussurrei, apertando a mão dela. — E sei que Deus está aqui com a gente, nos ouvindo, nos amparando. Ele nunca nos abandonou, e sei que também não vai abandonar você agora.

Minha voz baixou ainda mais, quase um segredo.

— Então, por favor, lute. Lute com tudo o que você tem, com toda a fé que você sempre teve. Porque todos nós estamos aqui, esperando, acreditando... e orando.

Milagres do Futebol // Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora