Instituição Wolf Kimberley (Em Revisão)

Parte 83 (Lembranças)

8 anos atrás

É um dia claro de verão, o céu estava de um azul lindo e claro, as nuvens brancas pareciam feitas de algodão, enquanto eu estava ali deitada sobre a grama curta, dava formar as nuvens. Coelhos. Um cachorro. Um dinossauro. Um avião. Uma pessoa.
Um leve sorriso se formava no canto de meus lábios. Eu me sentia leve, apesar de ter estado chateada a alguns segundos atrás. Eram tão raros esses momentos, onde eu podia ser eu mesma, onde eu não precisava me esconder sobre uma armadura de ferro. Às vezes eu passava tanto tempo com essa armadura que chegava a pensar que nunca mais conseguiria tira-la. Por isso aproveitava cada segundo que podia quando eu finalmente podia ser eu, com medo de que um dia eu ficasse presa, sufocada dentro da armadura que eu mesma havia criado.
Porque eu não podia ser uma garotinha de dez anos normal? Porque eu não podia ter uma vida feliz e normal, com uma família normal?
No final não importava, eu sabia que nem sempre tínhamos aquilo que queríamos na vida, que nem tudo era fácil como deveria ser. Meu mundo não era rosa e colorido como o das outras garotas da minha idade. Meu mundo era negro, frio e solitário. Mas era o que eu tinha, e ainda assim era melhor do que nada.
-Você não pode ter medo de todos Docinho. –A voz de James soa me tirando do meu momento de paz, levanto sentando na grama de pernas cruzadas e encaro o jovem rapaz dois anos mais velho do que eu.
James era meu melhor amigo, o único que já havia me visto sem a armadura, eu não precisava usa-la com ele, mas ainda assim eu mantinha meu lado mais doce longe, eu ainda não sabia se podia confiar realmente nele. Eu não podia confiar em ninguém, porque com ele seria diferente?
-Quando se anda por um deserto durante muito tempo, de baixo do sol ardente, cercado de areia e sem nenhuma água. Depois de certo tempo, começamos a ter miragens, a ver rios, arvores, e comida quando na verdade não há nada ali. –Digo olhando nos olhos de James que me encara com uma sobrancelha levantada, tentando entender onde eu queria chegar. –Nossa mente nos engana, criando miragens. Até nosso próprio cérebro mente para nós James. O que lhe faz pensar que se pode confiar em alguém? O que lhe faz pensar que ninguém vai mentir para você, se até mesmo você mente para si mesmo?
-Não é assim que as coisas funcionam Docinho.
-É assim que o mundo real funciona James. É assim que o meu mundo funciona. –Chego mais perto, nossos rostos a apenas alguns centímetros de distância. –As pessoas mentem para conseguir o que querem, as pessoas matam, roubam, para ter o que querem. No meu mundo ninguém é confiável, no meu mundo, vence o mais forte.