Capítulo 11

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Tive um sonho calmo com uma cidade antiga. Era muito bonita, quente.

As pessoas eram simpáticas. Algumas vestiam-se à moda antiga e outras com roupas atuais. Era engraçado ver esta mistura pouco comum, mas é claro que tudo pode acontecer enquanto se sonha. Caminhei pelas ruas até às portas de um grande palácio.

Tentei abri-las, mas era escusado. Suspirando, encostei-me à parede do palácio, ouvindo o vento, os pássaros e uma bela voz de mulher a chamar o meu nome... Espera, uma mulher? A chamar o meu nome?

Estranho. De onde é que vinha esta voz?

Comecei a seguir a doce voz até que esta deixou de se ouvir. Ainda bem que assim foi, porque se eu tivesse dado mais um passo teria caído à água. Olhei em volta e vi que estava numas docas.

Como é que eu vim parar aqui agora? Ainda há pouco estava ao pé de um palácio. Desci as ruas assim tão rápido? Será que comecei a correr e nem dei por isso?

A mesma voz voltou a fazer-se ouvir, dizia-me agora que tinha de seguir até ao barco. Assim o fiz. Tinha de o fazer, tinha de saber o que se estava a passar e quem me chamava.

Estava mesmo a entrar no barco quando se fez luz. Olhei em volta, ainda meio abananada, e demorei dois minutos a perceber que estava outra vez no meu quarto, que tinha tido um sonho, um sonho bom, estranho... mas bom.

Queria e ia dormir mais um pouco, se não tivesse naquele preciso momento um punho a bater com toda a força na minha porta. Resmunguei algumas palavras, enquanto me levantava para abrir a porta. Quase levei um murro do meu pai, se não me tivesse desviado a tempo.

Olhei para ele. Parecia-me cansado, o meu pai, cujo nome não me apetece referir neste momento (vocês percebem o porquê, quando se está zangada e furiosa com os pais é melhor não se referir o nome, antes que saia algo pior pela boca fora).

Era de estatura média, para aí com um metro e setenta, ou talvez uns dois ou três centímetros a menos, olhos castanhos dourados. Tinha uma cara jovem, que neste momento mais parecia a cara de um bulldog.

– Sim, pai?

– Posso saber porque trancaste a porta, Sofia?

– Não queria ver ninguém, precisava de estar sozinha.

O meu pai suspirou.

– Vem, vamos jantar.

Acenei e segui-o sem dizer nada. Quando chegámos à sala, vi o Vasco já a comer. Sentei-me ao seu lado e fiz um esforço por o ignorar e à porcaria que estava a fazer. A minha mãe serviu-nos e eu comecei a comer.

Instalou-se entre nós um silêncio inquietante, até que a minha mãe o decidiu quebrar, virando-se para mim com um sorriso teatral.

– Então, querida, o que fizeste na escola? Os teus amigos estão todos bem?

Acenei, pois tinha comida na boca e não podia falar. Quer dizer, poder podia, mas não era a mesma coisa. Além disso, ia fazer uma grande porcaria e já bastava a que o Vasco estava a fazer, e não era enquanto falava com a boca cheia. Engoli a comida e olhei para ela.

– Sim, estão todos bem lá na escola. Hoje não fiz nada, porque nos foi apresentada a D.T..

– Ah, pois, é sempre o mesmo neste dia.

O silêncio voltou de forma tensa.

– Filha, gostava que me respondesses a uma pergunta. – Recomeçou a minha mãe, hesitante.

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