Capítulo 18

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Saí do carro e seguiu até ao interior do parque. Estava com medo do que poderia vir a acontecer.

– Relaxa.

Acenei lentamente, com os olhos fixos no chão.

– Ouve, trouxe-te aqui para te divertires.

Levantei a cabeça para ele, confusa.

– Porquê? – Perguntei-lhe.

Quando o fiz, Alexandre começou a parecer acanhado e envergonhado. Podia jurar que estava a fingir e aquilo era teatro.

– Bom, tu nunca tens liberdade. Pelo menos foi o que eu ouvi. – Passou a mão pela parte de trás do pescoço, num gesto que achei querido.

– Nunca ninguém tinha feito isso por mim. – Sorri. – Obrigada.

No olhar dele, vi um brilho terno e, de repente, o parque escuro e assustador tornou-se num local calmo e até romântico. Recuei um passo, mas Alexandre travou-me e voltou a puxar-me para si, abraçando-me. Envolvi o corpo dele com os meus braços, prendendo-o junto a mim.

– Não quero que te aconteça nada. – Admitiu ele, num suspiro. – E vou estar cá para te proteger e apoiar.

Acenei, encostando a cabeça ao seu peito. Notava que o seu batimento cardíaco estava acelerado e, para dizer a verdade, não era o único. Tirei a cabeça do seu peito o suficiente para olhar para os seus olhos, agora escuros. Mordi um pouco o lábio e Alexandre sorriu, prendendo uma madeixa do meu cabelo atrás da orelha. Vi nos seus gestos um desejo escondido que estava a lutar conter. De súbito, soltou-me.

– Anda, vamos sentar-nos ali. – Disse ele, esticando a mão para mim.

Dentro de mim, estava triste por ele ter deixado de me abraçar, mas resignei-me e segui-o, dando-lhe a mão. Parámos ao pé do velho chorão do parque. Dizem que é a árvore mais velha daquele parque e que era sagrada. Bom, velha lá isso era, mas sagrada não parecia nada. Parecia mais que tinha andado a fazer ioga e nunca mais se tinha endireitado. Sentei-me numa das suas raízes, sem saber muito bem o que fazer. O Alexandre sentou-se ao meu lado e ficámos os dois calados, o que começou a ficar irritante ao fim de cinco minutos.

– Ouve... – Comecei, hesitando logo na primeira palavra, temendo continuar.

Ele olhou para mim de lado, para depois virar totalmente a sua concentração para mim.

– Sim?

– Agora é que me lembrei. Sei que é estupido estar a perguntar isto, mas tenho de o fazer.

– Sim, pergunta à vontade.

– Tu e a professora Bárbara já se conheciam?

Ao perguntar isto, Alexandre ficou tenso e o seu olhar endureceu, ficando frio e distante.

– Porque perguntas? – O seu tom de voz tinha-se despegado da ternura de há pouco e continha agora, na sua essência, arrogância.

– Porque reparei na maneira como ela olhou para ti. Viu-se que não gostou lá muito de ti e acho que não foi só uma primeira opinião.

Ele suspirou, passando a mão pela cara. Não me respondeu. Pelo menos, não diretamente.

– Já vi que é um sim.

– E também viste que não quero falar sobre isso?

Fiz-lhe cara feia.

– Sofe.

– Sim? – Fui brusca ao responder-lhe.

– Se queres saber algo sobre mim, pergunta à vontade. Não tenho nada a esconder.

– Não parece.

– Não querer falar de uma rapariga do meu passado não faz com que eu esconda coisas.

– Foi assim tão grave? Tão doloroso?

– Diz mais "problemático".

– Estou a ver...

O Alexandre virou o corpo para mim, descansando os cotovelos nos joelhos.

– Vá, interroga-me.

Franzi o sobreolho. Depois lembrei-me.

– Ao colocares pressão em mim, acabo por não saber o que quero saber sobre ti.

– Uma coisa é certa. – Disse ele.

– Que coisa?

Alexandre pegou na minha mão e puxou-me para o seu colo encostando-se à árvore. – Nada sobre mim ou o meu passado importa. Fazeres perguntas ou não é indiferente, não vai mudar nada.

– Mudar o quê? – Perguntei olhando para ele.

Os seus olhos voltaram a adquirir a ternura de há pouco. Passou uma mão pela minha cara.

– O que sinto por ti.

O meu coração saltou quando de repente, Alexandre puxou o meu rosto para o dele e beijou-me. Foi um beijo suave. Talvez nem se pudesse considerar um beijo. Foi mais um roçar de lábios. Não o travei, muito pelo contrário, ainda o agarrei e me cheguei mais para ele, envolvendo o seu pescoço com os meus braços.

Alexandre prendeu o meu corpo contra si, num abraço apertado, mas leve. Naquele momento, sentia-me segura e, acima de tudo, feliz. Feliz por estar ali, por estar nos seus braços. O beijo, o roçar de lábios... ambos? Durou o tempo suficiente para eu ficar sem ar. Não que tenha demorado muito a ficar sem ar. Antes de tudo aquilo se desenrolar daquela maneira, já eu sentia os indícios de falta de ar. Encostei a testa à dele, respirando pesadamente. Senti uma das mãos dele a subir pelas minhas costas e voltarem a descer. Sorriu-me, dando-me mais um beijo. Passei a língua pelos lábios e ele riu.

– O que foi? – Perguntei, sorrindo.

– Achei graça ao teu gesto, nada mais.

Não sabia o que fazer a seguir, a única coisa que fazia era olhar para ele. Tinha fechado os olhos e encostado a cabeça à árvore. Podíamos ter ficado assim durante horas, no meu entender.

– Pensei que me detestasses. – A declaração dele tinha quebrado o nosso silêncio.

– E detesto.

Ele ergueu uma sobrancelha inquisidora para mim.

– Mas?

– Mas gosto mais de ti do que julgava.

– Porque mexo contigo.

– Não. Porque me pões maluca. Virada do avesso. Irritas-me e provocas-me e eu gosto. É estúpido, mas gosto.

– É bom saber que te consigo provocar.

– Mas não tornes isso num hábito. – Avisei-o, escondendo o sorriso que teimava em aparecer.




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