Capítulo 13

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Tomás esperava, à porta de casa, por Carlos, para que fossem juntos para a escola. Ficou a olhar para os carros a passarem, as pessoas a conversarem e o movimento normal de uma cidade.

Por ele, passou um cão, um pastor alemão de raça pura. O cão parou e olhou para ele fixamente, como se o estivesse a avaliar. Tomás fixou-se no cão por alguns segundos, ponderando o que deveria fazer. Decidiu ignorá-lo.

"Que raio? O parvo ignorou-me."

Tomás deu um salto, assustando-se com o que estava a ouvir. Olhou para todos os lados, à procura de quem tinha falado. Não viu ninguém, mas voltou a ouvir a voz.

"Mas porque é que ele está a olhar para todos os lados freneticamente? 'Tá com medo de alguma coisa? Estes humanos são tão medricas. Ei! Duas patas!"

Tomás olhou para o cão.

"Sim, tu. Olha lá, 'tás com algum problema no pescoço, ou quê?"

Tomás fixou-se no animal, espantado. Isto não podia estar a acontecer. O cão estava a falar ou era coisa da sua imaginação?

"O que é que se passa agora? Sim, sou um cão, um animal que deves ver várias vezes ao dia, não?"

Tomás acenou, incrédulo.

– Tomás!

O cão olhou para onde vinham os gritos.

"Olha, o teu amigo está-te a chamar. Deves ir. Quando o meu dono me chama, eu vou logo. Por isso é que tenho esta liberdade toda. Tomás, certo?"

Tomás voltou a acenar e esticou o braço para o cão, que se aproximou e lhe lambeu a palma.

Carlos aproximou-se de Tomás e deu-lhe uma palmada nas costas.

– Para que é que foi isso? – Perguntou Tomás, zangado.

– Para ver se acordavas.

Tomás franziu o sobreolho.

– Do que é que estás a falar?

"Bom, eu vou indo, duas pernas, vemo-nos por aí!"

– Sim, sim, OK, adeus.

– O quê? – Perguntou Carlos.

– Hã?

– Disseste-me adeus, porquê? Nós vamos para a escola juntos, ainda agora começou o dia.

– Mas eu não estava a falar contigo. Eu estava a dizer adeus ao cão.

– Dizer adeus ao cão... Tomás... estás doente?

– Não, porque perguntas?

– Porque os cães não falam.

– Mas eu... Nem me vou dar ao trabalho, vamos para a escola, é o melhor a fazer.

– É... sabes o que é mesmo o melhor a fazer?

– O quê?

– Levar-te a um psiquiatra. – Informou Carlos.

Tomás olhou para ele desesperado, como se perguntasse "Estás a gozar certo?" Carlos começou a rir.

– Não tem graça!

– Oh, podes querer que tem. Tem, e muita! Se visses a tua cara...

– Para! Olha que vamos chegar atrasados.

Carlos endireitou-se rapidamente.

OK.

– Tu não existes, Carlos.

– Não? – Carlos beliscou-se. – Olha, eu acho que existo, mas podemos fazer assim: se a minha mão passar por ti, então não existo mesmo. – Carlos esticou o braço e bateu com a palma da mão no estômago do Tomás.

– Para que é que foi isso? – Perguntou Tomás, passando a mão pelo estômago.

– Então, quis testar e, como vês, existo. Tanto existo que te magoei.

Tomás revirou os olhos e começou a avançar para a escola.

– Espera por mim. – Carlos correu até ele.

Quando chegaram à escola, pouco passava das oito. Estava calor e fazia bom tempo.

– Tomás, Carlos aqui! – Gritou alguém ao fundo da porta de entrada para o edifício. Olharam ambos ao mesmo tempo, para ver o Daniel juntamente com o Rúben e o Hugo.

Todos se cumprimentaram e começaram a entrar.





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