Encontrei o Samuel junto ao rio, sozinho, de costas curvadas e com uma pequena pedra na mão. Os seus olhos estavam distantes, perdidos e isso fazia-me doer o coração.
Avancei lentamente para ele. Pensava que ele não tinha dado por mim.
– Podes andar normalmente, eu não te vou fazer mal. – Não tinha deixado de olhar para o rio, o que me assustou quando se dirigiu a mim sem se mover.
– Desculpe... eu pensava que não tinha dado por mim, eu... eu posso ir-me embora se quiser.
Ele sorriu. Era lindo e muito jovem para a idade que tinha. Dava-lhe certamente uns vinte e cinco, não mais que isso. Na verdade, ele tinha uns 600. Era de louvar, estava muito bem conservado.
– Vem, senta-te ao pé de mim, jovem.
Engoli em seco e, calada pelo silêncio que tinha surgido entre nós, depois de ele dizer aquelas palavras, avancei. Avancei por entre as pedras e a relva, por entre as flores de cores vivas. Uma vaga familiaridade nascia enquanto caminhava por aquele lugar relaxante.
Sentei-me, silenciosa, e olhei para o homem que tinha abdicado de mim, para me proteger de algo que me era desconhecido.
– Do que queres falar comigo? – Foi Samuel a quebrar o silêncio com a sua voz cantada e doce.
– Como sabe que eu quero falar consigo? – Saiu-me, sem pensar, a pergunta ridícula. Interiormente, um muro estava a ser criado para eu me agredir, atirando-me contra ele.
– Conheço-te bem pequena. – Limitou-se ele a dizer, com o sorriso magoado.
– Por ser meu pai?
Isso acordou-o por completo. O seu sorriso magoado e triste deu lugar ao espanto. Os seus olhos azuis arregalaram-se, para desfigurar a sua beleza natural.
– Como sabes isso?
– Então, admite que é verdade...
– Não te vou mentir quando já sabes.
Acenei. Ele olhou de novo para o rio, pareciam cristais de uma beleza súbita com o pôr-do-sol.
– Sabes... sempre pensei que nunca te iria ver. – Sorria debilmente.
– Parece tão triste... porquê?
– Porque... – Suspirou. – Porque sinto falta de uma parte de mim.
– Uma... parte de si?
– Fazes-me tanto lembrar a tua mãe. Ela também não consegue esconder a vontade de fazer perguntas quando quer saber alguma coisa. Tive de a deixar ir por uma boa causa.
Ah... ele estava a referir-se à sua partida para o templo...
Riu, não como aqueles risos de felicidade. Foi mais um riso para desanuviar.
– Pode... falar-me dela? – Perguntei, hesitante.
Ele suspirou.
– A tua mãe, ela... ela é uma guardiã, pode-se assim dizer. Ela protege, com o seu poder, toda a cidade, todo o reino. E, como estamos em guerra agora...
– Porque é que estamos em guerra? – Interrompi-o.
– Porquê? Isto começou quando eu conquistei a terra de Mercúrio. Quando tu nasceste, ele soube e quis-te levar, para usar o teu poder para governar.
– Eu não tenho poderes.
– Tens, só ainda não os conheces, pequena. Se o Mercúrio te conseguir pôr as mãos em cima e em todo o teu poder, ele governará e tu morrerás...
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Cidade Oculta
FantasySofia é uma rapariga de 17 com uma vida relativamente normal. Está com os amigos, a família e com o seu guarda costas que a segue para todo o lado. Até que recebe um estranho colar de uma vizinha invulgar e conhece um rapaz misterioso que a faz...