Capítulo 19

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Cheguei a casa com um sorriso parvo no rosto. Sorriso esse que mantive até fechar a porta do meu quarto. Foi aí que tudo me caiu em cima.

O que é que tinha acabado de acontecer? Não. Eu não podia ter cedido aos encantos dele assim tão facilmente. Senti-me desconfortável ao me lembrar do beijo que tínhamos trocado. Enquanto isso, um calor agradável espalhava-se no meu interior. Isso causou-me terror. Sabia que o beijo era suficiente para algo se desenrolar entre nós.

Ele deixava-me fora de controlo. Fazia-me dizer exatamente o contrário do que queria realmente dizer. Eu disse que gostava dele... Apetece-me bater-te neste exato momento, Sofia.

O melhor a fazer era dormir. Talvez isto tudo fosse só um sonho e amanhã eu iria acordar e rir-me...

...

E chegámos ao último dia de aulas da semana. Sexta-feira. Seria música para os meus ouvidos, se não fosse o problema alto de cabelo encaracolado que dava por nome de Clara. Ela iria atazanar-me até eu lhe contar sobre a minha saída com o bonitão. Como é que se esconde um beijo da nossa melhor amiga sem nos sentirmos culpadas por lhe estarmos a esconder alguma coisa? Tremia só de pensar.

Realizei a minha rotina antes de ir para as aulas. Depois, saí de casa em direção à escola. Tudo normal até aqui. Estava atenta até à minha sombra, para estar preparada para o eventual ataque de histeria. Por acaso até estava feliz, feliz por ela os fazer e feliz por, não oficialmente, ter beijado um rapaz bem giro, por quem todas as raparigas gritavam.

– Sofia! – Virei-me e sorri, pronta para as perguntas.

– Olá. – Disse-lhe.

– Então, conta lá, como correu?

– Hum... o que é que eu posso dizer...?

– Podes começar por me dizer se correu bem ou não.

– Sim, correu bem.

– Gostaste?

– Hum... sim, pode-se dizer que sim.

Clara olhou para mim como que a avaliar-me.

– O que é que aconteceu entre vocês? – Perguntou.

Encolhi-me um pouco, sentindo-me descoberta. Eu conseguia mentir, aliás, quando queria, até era muito boa nisso, mas com a Clara nada lhe escapava. Era a sorte de sermos melhores amigas há muito tempo, e um azar tremendo.

– Conheces-me bem.

– Conheço-te lindamente, vá, conta o que é que aconteceu.

Hesitei em contar-lhe, mas finalmente cedi, graças à pressão que ela me estava a exercer na mente.

– Ele... bom, nós... bom, eu... – Não sabia como dizer aquilo e estava a fazer um esforço para conseguir encontrar as palavras certas.

– Desembucha, rapariga.

OK! Eu e o Alexandre beijámo-nos. Pronto, já contei. 'Tás contente?

Não ouvi nada da boca da Clara além do silêncio, e um bem desconcertante. Olhei para ela, parecia-me que estava a conter o ar e, de repente...Um grito. Uau, ela parecia mais contente do que eu, e fui eu que o beijei...

Dei um salto com tamanho susto.

– O que se passa, Clars? Estás bem? Doí-te alguma coisa? Miúda, quantos dedos vês? – Estiquei dois dedos à frente da cara dela e ela afastou-os com um safanão, dando-me um choque tão tremendo, que gritei.

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