Capítulo 20

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Ele não estava interessado em mim.

Era tudo o que me vinha à cabeça. O Alexandre tinha-me mentido. Ele estava só a cumprir ordens de um tipo qualquer. Que cena foi aquela, mesmo? "Ele ia-me expulsar, sim, mas não o fez. Ficou provado que eu não tive culpa de que Mercúrio soubesse da identidade da filha. (...) ela é princesa do nosso reino."

Cheguei a casa em desespero. Demorei cerca de vinte minutos a convencer o Fábio de que precisava de ir para casa. De que não estava bem. Ele deve ter visto alguma coisa no meu rosto, porque assentiu sem mais tentativas de me arrastar para o interior da escola.

Corri até ao meu quarto e tirei da caixa o colar que a Guida me dera. Olhei para a pequena cascata que se via no interior. Cerrei a mão à volta do cristal lutando para não chorar. Agora percebia a forma como os meus supostos pais me tratavam, o carinho que davam ao Vasco, mas comigo sempre foi diferente. Pareciam que tinham... medo. Agora via tudo com mais clareza. A proteção! Era isso, a minha vida baseou-se numa mentira! A minha vida era uma mentira! Quem eram realmente os meus pais? Eu tinha de descobrir. E só poderia encontrar respostas num único lugar naquela maldita casa. A cave!

Apressei-me a ir para a cave e, quando lá cheguei, tranquei-me no seu interior. Não vi grande coisa que me ajudasse a saber quem eu era. Só via caixas e caixa cheias de pó e coisas velhas que eu conhecia bem. Dei uma vista de olhos pela superfície, sem tocar em nada. Não me chamava a atenção nada que lá estivesse.

Uma luz azul começou a brilhar na minha mão.

Comecei a ouvir uma bela melodia, uma melodia que conhecia bem. Era a mesma que eu ouvia em pequena, para poder adormecer. Procurei de onde vinha o som, até me fixar num manto enorme que cobria alguma coisa. Era daí que vinha a música.

Retirei o manto de cima do objeto e fiquei parada. Era um espelho, um grandioso e redondo espelho, como aqueles se veem nos filmes antigos. O espelho também brilhava com a mesma luz azul que o colar emitia.

A caixa de música estava ali, mesmo à vista. Tinha um buraco, onde supostamente deveria estar alguma coisa que pusesse a caixa a funcionar, mas esta estava a tocar sem a chave.

Toquei na caixa com a mão que segurava o colar e, automaticamente, vi-me sugada para dentro de um vórtice.

...

Acordei com o som de uma cascata, mesmo ao meu lado, e com algo a lamber-me a cara. Abri os olhos, aos poucos, e deparei-me com uma leoa, a observar-me.

Soltei um grito e recuei até ao monte de pedras da cascata. A leoa aproximou-se de mim, lentamente e de forma dócil.

Estava a tremer, a suar em bica. Olhava tão assustada para a leoa, que nem reparei onde estava. Comecei a ouvir a bela voz feminina do meu sonho.

– Não tenhas medo, minha querida.

– Quem é você? – Perguntei, assustada. A leoa olhou para mim, deitou-se e começou a farejar-me discretamente.

– Minha pequena.

– Onde estou? Que lugar é este! – Perguntei, interrompendo a suave voz desconhecida.

– Estás em Dajevá.

– Daje-quê?

O riso daquela mulher era lindo, aquecia-me o coração e confortava-me de uma maneira que nada nem ninguém alguma vez foram capazes de me confortar.

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