Acordei numa sala bafienta. Era tudo... negro. Demasiado sombrio para o meu modesto gosto.
Tentei levantar-me, mas a dor de cabeça que eu tinha era lancinante.
Posicionei-me, muito lentamente, de maneira a ter os joelhos a suportar o peso do meu corpo, juntamente com as mãos. A parte de trás do meu olho esquerdo latejava, o que era incomodativo.
Queria saber onde estava, mas, para além do facto de saber que a sala cheirava a bafio, só via pedra e musgo, que cobria as uniões desta com outras.
O barulho que vinha de um corredor chamou-me a atenção. Aquilo eram grades?
Não via um palmo à frente do nariz, basicamente. Isto porque o idiota que cuidava daquele lugar se esqueceu de que as tochas serviam para iluminar os lugares como, por exemplo, as masmorras que tinha visto em filmes.
Espera aí... eu estava numa masmorra?
O rato que passou por mim, correndo quase por cima dos meus dedos, respondeu à minha silenciosa pergunta.
Saltei para trás com um grito. O chão estava húmido e não havia janelas, nem um buraco sequer. O sentimento de claustrofobia começou a cobrir-me por inteiro.
Lembrei-me do Alex. Ele era a última lembrança que tinha, antes de ter desligado por completo. O seu rosto parecia contorcido pela dor e pela impotência, além do misto de raiva que era dirigida à criatura atrás de mim. A "dedos roxos".
Encostei a cabeça à parede e, para manter a presença de espírito e não dar em doida com tantas perguntas a que nem aquele rato medonho me podia responder, recordei o Alex. Não sabia há quanto tempo cá estava, até podia só cá estar há umas horas... como há semanas. Teriam passado semanas? Por favor, digam que eu não estou cá assim há tanto tempo...
É impossível ficar-se inconsciente durante um mês por causa de uma pancada na nuca... certo?
O problema é que, mesmo estando aqui há um minuto, eu já sentia falta dele. Sentia falta do seu lado divertido, tentando sempre ver o lado positivo nas coisas pessimistas que eu dizia. Sentia falta do seu lado carinhoso, de quando me abraçava, simplesmente porque me queria ter perto, saber que eu estava segura. Até do seu lado mandão e resmungão eu sentia falta! Principalmente, sentia falta de o ter ali, ao meu lado. A vontade que tive de o beijar naquele momento fez-me querer gritar. Amava-o, sabia disso, sempre soube. Desde o momento em que tinha posto os meus olhos em cima dele, soube que estava perdida. Mas, como não me deixava levar por contos de fadas, eu lutei contra o que sentia. Achava que era demasiado cedo para mim. Acreditava que um tipo como ele não se iria interessar por alguém como eu. De certa forma, acertei, ele estava comigo por causa do meu pai, que, pelo que percebi, seria bem capaz de o cortar ao meio.
Passos arrastados aumentavam de volume à medida que se aproximavam da minha cela. Mas não era o único som que os meus ouvidos captavam. Eles ouviam... algo a raspar na pedra, parecido com o som de um giz num quadro de lousa.
O som passou para as grades que me continham no interior e um vulto parou à sua frente. O punho estava cerrado na grade, enquanto a outra mão segurava a tocha... Como é que é possível uma chama ser verde? Não costumam ser laranjas?
Porque é que eu ainda me dava ao trabalho de colocar estas questões idiotas? É claro que a chama é verde. A chama até podia ser às pintas, que neste mundo seria super banal.
A "dedos roxos" era fantasmagoricamente iluminada pela chama. Começava a achar o chão gelado da cela deveras acolhedor, desde que estivesse longe daquilo.
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Cidade Oculta
FantasySofia é uma rapariga de 17 com uma vida relativamente normal. Está com os amigos, a família e com o seu guarda costas que a segue para todo o lado. Até que recebe um estranho colar de uma vizinha invulgar e conhece um rapaz misterioso que a faz...