Capítulo 38

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Mercúrio na multimédia!!!








Não sabendo bem como, consegui arrastar-me até à cama e envolvi-me com os lençóis. Enrolei-me numa bola para conservar o pouco calor que tinha. O gelo na minha pele assemelhava-se ao toque do beijo da morte e não me queria largar. Os meus dentes batiam uns nos outros, criando uma sinfonia cansativa e que seria proibida nos espetáculos de música de todo o mundo. Era exasperante.

Se a minha mãe estivesse aqui, já me tinha mandado parar com isto.

Sorri e afundei o corpo na cama, puxando as mantas até ao nariz. O aroma natural de uma pele masculina envolveu-me.

Alex...

Abracei-me. No meu pensamento, conjurei uma imagem dele ali, ao meu lado, a apertar-me contra o peito, a proteger-me. Rezava para que se encontrasse bem.

O som do trinco foi audível. Nem me dei ao trabalho de levantar a cabeça para ver a porta a abrir. Simplesmente, não tinha forças.

– Não sei porque é que o amo me continua a obrigar a olhar por ti. Preferia muito mais estar com o anjo agora... – À menção de Alex, levantei-me de um salto, sentando-me no colchão.

– Onde é que ele está? – Exigi saber.

– Porque queres saber? – Perguntou-me, desconfiada.

Yara trazia nas mãos um tabuleiro com comida, o que queria dizer que pelo menos metade do dia já tinha passado.

– Porque achas que quero saber? Ele é meu amigo! Exijo saber como é que ele está! – Gritei.

– Tu não estás em posição de exigir nada! – Afirmou rudemente. Depois, todo o seu estado emocional alterou-se, girando a alavanca para o modo suave. Ou seja, cínico. – Como é que achas que ele está? Ele está ótimo! Agora encontra-se com o amo. É por isso que eu estou aqui a entregar-te o jantar.

Jantar?

Perscrutei os vidros protegidos pelas cortinas. Reparava agora em quão escuro o quarto estava.

Ela pousou o tabuleiro e sentou-se na borda da cama, ao meu lado.

– Tirando, claro, as fraturas e o sangue que fiz escorrer daquele corpo poderoso. Ele até gritou, sabias? – O sorriso apaixonado dela deu-me náuseas. – Foi pena não poder ter ficado para assistir à conversa dele com o amo...

– Deixa-me adivinhar... Irias adorar.

– SIM! Mas bom, chega destas coisas. – Com um sopro, Yara fez o quarto iluminar-se e a lareira ganhar vida, com o fogo no seu interior. – Agora, vais comer e dormir. – Levantou-se para se ir embora. Antes de chegar à porta, estacou. Rodando nos calcanhares, Yara virou-se de novo para mim. – Ah, e aconselho-te a te preparares mentalmente para a cerimónia que se avizinha. Provavelmente, o amo quererá ver-te antes disso, mas, mesmo assim, deves arranjar um passatempo para ocupares a mente. Não te queremos louca na cerimónia.

Olhei para ela sem pestanejar. Ela só podia estar a brincar, certo? Como é que é que ela falava do meu terrível destino de forma tão leviana?!

– Des-desculpa? – A incredulidade era patente na minha voz. – Como queres que arranje um passatempo num quarto vazio destes?

– Usa a imaginação. – E saiu, trancando a porta atrás de si.

Enchi as minhas bochechas de ar e cruzei os braços junto ao peito, irritada. O quarto começava a aquecer e a tornar-se agradável. O cheiro da comida despertou a fome adormecida em mim. O prato chamava-me à atenção pelo canto do olho. Era como se um placard de néon, com uma seta a apontar, brilhasse com a mensagem: "COME-ME! JÁ!".

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