Capítulo 28

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Reunimo-nos todos numa clareira, perto da tribo. Tinha passado um só dia. A Maria fez questão de me acompanhar, dizendo que era essa a sua obrigação e ordens do pai. Eu acho que ela veio com intenção de atacar o Alexandre à mínima falha.

Estava lá o grupo todo ou, como o Alexandre lhe chamava, a Legião Dourada. De ouro, não tinham nada, mas eram uma legião, um grupo de amigos prontos a ajudar, não a caminhar para a morte.

Alexandre estava à nossa frente, levantado, enquanto nós estávamos sentados em pedras achatadas e a apanhar uma seca das piores. Pareciam as aulas, mas sem os professores.

Olhavam todos para ele, menos eu. Não conseguia parar de olhar para a Maria, sentia que tinha de a vigiar, para que, à nossa leoa pouco domesticada, não lhe desse um vaipe qualquer e saltasse em cima de vocês sabem quem.

Ela respirava fundo e calmamente. Quem olhasse para o seu corpo, ou até mesmo para o rosto dela, não repararia no estado de fúria em que se encontrava. Os olhos dela pareciam fogo, em vez do verde-claro habitual. Também, depois do que o Alexandre lhe dissera antes de chegarmos à clareira, também eu ficaria naquele estado.

– Posso arrancar-lhe a cabeça? – Sussurrou-me ela, com urgência.

– Já te disse que não.

– Pois, tu dizes isso porque não foste tu que foste insultada!

– Fala baixo! Eu sei o que ele disse.

– Até podes saber, mas entendes a gravidade disso? Ele disse que animais não eram permitidos e que eu tinha de ir ao veterinário tomar a vacina contra a raiva, antes de me juntar a vocês.

– Tenho a certeza de que ele estava a brincar, ou então era só uma piada... sabes, para nos rirmos.

– Olha, eu não achei piada nenhuma, se queres saber.

– Eu acho que ele só está a zelar pela sua vida.

– Oh, podes querer que tem de zelar. Isto é um aviso, ele que passe a dormir com um olho aberto.

– Acho que isso ele já faz...

– Mas tu hoje estás contra mim, é?!

– É claro que não, só estou a dizer...

– Vocês as duas! Sofia e a outra, cadelita raivosa, caladas, e prestem atenção. – Interrompeu-me Alexandre, que nos começava a repreender.

Tive de redobrar a minha força para manter a Maria quieta e sentada, o que foi difícil, já que ela era mais forte que eu. Ela rosnava e mostrava os dentes de maneira assassina a Alexandre, e ele? Ele teve o desplante de se rir, o que a irritou ainda mais. Atirei-lhe um olhar ameaçador.

– Eu vou mesmo arrancar-lhe a cabeça.

– Não vais nada. – Disse, rapidamente.

Só ao fim de algum tempo é que diminuí a minha força, assegurando-me de que a Maria não iria saltar para cima de Alexandre inesperadamente.

– Bom, acho que todos vocês sabem porque estão aqui, certo? – Iniciou Alexandre, como se fosse um filósofo. – Todos vocês são especiais... tirando ali a cadelita, é claro.

Maria voltou a rosnar e ele limitou-se a encolher os ombros e a prosseguir com o discurso.

– Todos vocês têm um poder que vos caracteriza e todos vocês são parte essencial neste conto.

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