Epílogo

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Uma semana depois...

Passei o meu peso de um pé para o outro. Outra vez.

Os meus nervos subiam em flecha, à medida que o tempo passava. Olhava, a partir do cais, o oceano, que se agigantava perante mim, com a unha do polegar entre os dentes. Iria ficar sem ela, tal como ficaria sem todas as outras unhas perfeitamente limadas dos meus outros dedos, se tivesse de esperar mais. Tinha começado a roer a ponta da unha sem dar por isso.

– Pensei que tivesses perdido esse hábito horrível, Sofia. – Disse a minha mãe de acolhimento, Safira, ao parar junto de mim.

Imediatamente afastei a unha da boca, encostando o braço esticado junto ao corpo.

Safira riu-se.

– Estou nervosa. – Confessei.

– Não deve tardar a chegar – Olhou para o relógio digital de pulso. – Talvez mais meia hora.

Gemi. Já ali estava há horas. Não conseguia esperar mais.

Por favor, quem me quiser ouvir aí em cima, parem com a tortura... por favor!

Contudo, eu não me podia queixar. Havia gente em pior estado de nervos que eu.

O meu pai Samuel, por exemplo.

Samuel não parava quieto. Muitos tentavam mantê-lo no mesmo lugar durante, pelo menos, cinco minutos. Não era possível. O rei não focava nada para além das ondas que chocavam com a superfície do cais. Estava a tremer, provavelmente temendo o que poderia ter acontecido em viagem.

Se tivesse de esperar mais meia hora...

Provavelmente, a minha mãe só iria encontrar-me a mim e a pedaços, que dantes criavam o corpo forte do seu marido. Entretanto, ele já teria explodido de ansiedade.

– Com vontade de conhecer a mamã? – Perguntou-me o Fábio, assim que parou ao meu lado. Nunca tirou os olhos do amigo, que "fazia as suas piscinas" nas pedras onde nos encontrávamos.

Encolhi os ombros. Conhecer, eu já conhecia. O que eu queria mesmo... era senti-la. Poder abraçar aquela que me deu a vida e abdicou de mim durante anos, para minha proteção.

– Vais ver que ela é fixe. – Assegurou-me ele. – Sam, estás a irritar-me.

– Vai à mer... – Olhando para mim, Samuel conteve-se. – Vai bugiar!

Fábio suspirou e abanou a cabeça, as mãos caminhando até às ancas, como se se tivesse resignado com a sua sina.

Segui-o com o olhar, para ver Fábio dirigir-se ao meu pai e discutir com ele num sussurro.

Pelo canto do olho, algo me chamou à atenção.

A minha distração.

Alex.

Ele estava encostado contra uma parede de um edifício de armazenamento de produtos. Os olhos azuis fixos em mim. Um sorriso zombeteiro no rosto.

Corri para ele, com passos pequenos.

– Então? – Perguntou ele, casualmente, quando lhe parei à frente.

– Então?

O Alex vestia uma T-shirt azul, da cor dos olhos brilhantes, e umas calças pretas. Nos pés, umas botas de caminhada escuras. A completar o conjunto, um blusão de cabedal preto, que lhe assentava maravilhosamente. Nem mesmo a peça de vestuário lhe escondia os músculos vistosos.

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