Capítulo 24

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Estive com a Maria e a Raquel durante alguns minutos. Elas estavam a mostrar a tribo onde viviam.

Que pessoas estranhas. Eram animais, mas davam-se muito bem. Inimigos naturais a demonstrarem afeto entre si era... lindo e esquisito ao mesmo tempo, para vos ser sincera.

Takira tinha-me contado algumas coisas sobre a cidade, ou mundo, ou lá o que este sítio fora do comum era. Parece que estou em Dajevá, uma cidade oculta por um espelho mágico, onde só podiam entrar aqueles com magia no coração (bom, a parte do coração é a minha modesta interpretação, só é preciso ter sangue mágico nas veias). Esta cidade é governada pelo rei Samuel e a rainha Jade, ambos adorados por todo o seu povo. Pareciam boas pessoas, quando se falava assim de alguém.

Takira também me disse que aquele Sam era o rei Samuel, que tinha perdido o reino quando a sua esposa teve de o deixar, para proteger o povo num templo qualquer muito longe daqui. Disse-me também que eles tiveram uma filha, uma jovem com a minha idade e o mesmo nome que eu, Sofia. Outra estranheza? Ele tinha olhado para mim como se me estivesse a dar uma dica qualquer. Mas era impossível. Sei que os meus pais me mentiam de alguma forma. Porém, eu não podia ser essa princesa, não tinha magia. A única coisa que me conseguiu trazer aqui foi o colar de Margarida que, agora que sei a verdade, era uma anciã qualquer do conselho do rei. Parece que ela tinha como missão encontrar umas pessoas e proteger outras quantas, incluindo essa princesa.

Quando Takira me deixou sozinha, o meu pensamento começou a entrar num turbilhão de perguntas, às quais eu ainda não tinha resposta. Será? Será que poderia ser a tal princesa? Será que é por isso que o rei me olhou daquela forma tão triste e espantada e se foi embora logo de seguida? Será?

– Sofia, Sofia, acorda. – Era a Maria quem me chamava.

Acordei do meu devaneio. Sonhava com imensas perguntas e as respetivas paredes que se punham no caminho das minhas ansiadas respostas. A vida era lixada...

– Hm? – Olhei para ela, com uma cara de puro cansaço.

– Estou-te a chamar há coisa de cinco minutos, tu estás bem?

– Oh, sim, eu... estava só a pensar...

– Posso saber em quê? – Maria sentou-se ao meu lado e fixou-se em mim, com determinação e curiosidade.

– Em tudo por que passei e descobri até agora.

– Estás com dúvidas?

– Não é com dúvidas, é... com medo e receio.

– De quê?

– De ser a tal...

– Houve, não digo que não ache que sejas a filha do rei. Olhando bem para ti, és muito parecida com eles. Além disso, quando estávamos na cascata, tu estavas a falar para o ar. Eu acho que foi a Jade a entrar na tua mente...

– Tu não a ouvias?

Ela acenou negativamente.

– Já não é a primeira vez que eu ouço aquela voz. – Retorqui. Tinha colocado o meu cotovelo em cima da mesinha, enquanto segurava no queixo com a mão e olhava para uma capa de pele encostada ao outro estreito da tenda.

– Quantas?

Olhei-a, com receio de estar louca.

– Uma ou duas vezes, em sonhos, mas é só fruto da minha imaginação.

– Sabes, neste mundo, os sonhos podem dizer muito. – Disse-me ela, com um sorriso de aconchego.

Suspirei, não havia mais nada que pudesse fazer de útil. Se saísse da tribo e procurasse uma maneira de voltar para casa, o máximo que me podia acontecer era a morte. O mínimo... bom, o mínimo seria perder-me e acabar por morrer à fome ou à sede, ou outra coisa qualquer. Por isso, ambos levariam à minha desgraça total. É claro que não estava a pensar com clareza nesta altura, e nem queria.

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