Já estávamos na terceira semana de treino árduo. Pelo que ouvi dizer, o Hugo tinha adormecido umas quantas vezes e provocado o terror na mente de muita gente. Ou seja, conseguiu pôr todos os nossos amigos a viverem, mentalmente, os seus piores pesadelos.
O Rúben também melhorou, com exceção do facto de, antes de ter conseguido controlar o seu poder, ter queimado três camisas, quatro árvores e o cabelo do Carlos, que conseguimos salvar a tempo.
Quanto aos outros, os progressos têm sido lentos. O Tomás continua a não perceber como é que consegue comunicar com os animais e acha cada vez mais irritante ser perseguido por bichinhos chatos. Por exemplo, pelo que ouvi dizer, todas as manhãs aparece uma gralha, que o acorda sempre à mesma hora. Não me perguntem a que horas, só sei é que lhe começa a falar aos ouvidos.
O Daniel continua a provocar as "tempestades de vento", que arrasam tudo à sua volta. O Carlos tem sido uma graça. Eu tive oportunidade de assistir ao último treino, no qual os dois grupos foram excecionalmente juntos num lugar só, e fartei-me de rir. O nosso pequeno guerreiro da terra petrificou o seu treinador, o Salvador. Criou também um buraco por debaixo dos pés de Rúben (mas, se querem que vos diga, acho que foi vingança) e criou também um pequeno muro de terra e pedra, que acertou no queixo do Tomás. Foi mau, eu sei, mas muito engraçado.
As raparigas são, pode-se dizer, um caso à parte. Elas têm feito um bom progresso, tenho a certeza disso, tirando o facto de ainda não se conseguirem controlar em pleno, mas é normal. A Clara provocou o maior choque elétrico da história daquele mundo e ateou fogo, com os seus raios, a árvores, provocando um círculo de fogo enorme, que rodeou toda a tribo. Quanto à Marta, foi ela que o apagou, o que teve a sua coincidência.
Quanto a mim, estou na mesma, a levar na cabeça daquele que menos espero: o Alexandre. Neste momento, estamos a meio de um dos seus "grandes treinos".
– Vá, concentra-te, Sofia, não estás aqui para brincar. – Disse Alexandre, olhando para mim, que estava sentada numa raiz levantada de uma árvore, tentando descansar das últimas três horas de treino.
– Eu não estou a brincar.
– Pois não, estás a sonhar acordada.
– E se estiver, o que é que tens a ver com isso, hãn? Posso saber? – Ataquei logo, sem pensar, e, quando percebi o que disse, calei-me e cerrei os dentes, para que não me saísse mais nada de que me viesse a arrepender. Tinha andado irritável desde que começámos a treinar as minhas capacidades mágicas, que são nulas. E ele não estava a ajudar.
– Caso não tenhas reparado, querida, tenho tentado ensinar-te a usares os teus poderes, para te poderes defender. Podias, pelo menos, estar atenta. Tu ontem estiveste tão bem!
Olhei-o, com um mau génio a crescer dentro de mim.
– E caso tu não tenhas reparado, a minha vida deu uma reviravolta completa desde o dia em que te conheci!
– Então, quer dizer que eu fui algo de mau na tua vida?
– Não ponhas palavras na minha boca! Mudaste a minha vida, sim, porque agora sou obrigada a mentalizar-me de que o mundo não é o que eu pensava, que há magia e outros mundos, e que agora tenho de gastar todas as minhas forças num treino forçado e sem êxito! – Olhei-o nos olhos, de forma séria, mas leve, e acrescentei. – No planeta onde cresci, eu achava que o Pai Natal não existia, mas, agora, com tudo isto, já 'tou por tudo. O que me vais dizer? Que é verdade? Que ele existe mesmo? – Soltei uma gargalhada e encostei a cabeça ao tronco da árvore, olhando para o céu azul prestes a mudar para as cores do crepúsculo, que se avizinhava.
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Cidade Oculta
FantasySofia é uma rapariga de 17 com uma vida relativamente normal. Está com os amigos, a família e com o seu guarda costas que a segue para todo o lado. Até que recebe um estranho colar de uma vizinha invulgar e conhece um rapaz misterioso que a faz...