Suspirei ao deixar Fábio à entrada da escola e entrei a correr para o edifício, dirigindo-me para a sala.
Tinha tocado há cinco minutos e a minha turma ainda não tinha entrado. Encostei-me a uma parede e cruzei os braços, tentando descontrair. Tinha a minha cabeça num turbilhão. Depois de ter deixado os meus amigos e entrado em casa, o meu pai estava sentado na poltrona da sala, todo nervoso e a suar como um elefante. Parecia assustado, perturbado e até vidrado, como aqueles que tomam drogas. Os efeitos eram parecidos, a única diferença era que o meu pai não tinha tomado nada, disso eu tinha a certeza.
– Sofia, olá.
Olhei para cima, para onde me chamavam, e vi os meus amigos, juntamente com a Clara e a Marta. Estranho, sei que a Clara anda connosco, mas não esperava ver a Marta a aproximar-se de mim. Com um aceno casual de cabeça, sorri-lhes e esperei que se aproximassem o suficiente para falar.
– Olá. – Disse, fazendo um esforço para não olhar para a Marta como se fosse um ET. – Tudo bem?
– Sim... – Responderam o Tomás, o Carlos e o Rúben, um pouco hesitantes.
– Sim, ótimo. – Respondeu o Hugo, com um sorriso.
– Eu nem por isso, dormi mal... – Disse o Daniel. Sim, percebia-se que ele tinha dormido mal, até se notavam as olheiras.
– Então? – Comecei, enquanto descruzava os braços e olhava para o Daniel, com preocupação. – O que se passou? Pesadelos?
– Sim, mais ou menos isso.
– Não queres falar? Contar aos amigos?
– Talvez mais logo. – Não percebi muito bem, mas pareceu-me que ele estava a tremer. Era estranho, ainda estava calor, muito calor, por sinal.
– Bom, tu é que sabes. Clars, então, e tu, como estás?
– Estou ótima e quero falar contigo, a sós.
– Sobre o quê?
A Clara agarrou-me no braço e puxou-me para longe do grupo. Começou o seu questionário.
– Então, o que achaste do Alexandre?
– Outra vez com isso?
– Sim, tu já devias saber como eu sou.
– Sim, e, mesmo quando me esqueço, tu fazes questão de me relembrares, não é verdade?
– É isso mesmo, vês como tu sabes?
Olhei para ela com vontade de a esganar, mas tive de me conter, porque tinha acabado de chegar a nossa professora. Salva pelo gongo. Para vos ser sincera, não sabia bem o que é que ia ter. Seria português ou biologia, talvez até fosse matemática, mas iria descobrir rapidamente. Entrámos todos na sala e a professora pediu-nos para que nos encostássemos à parede, começando a espalhar-nos pela sala. Sentou todos, deixando-me a mim, à Marta, à Clara e à Mariza à espera de lugar.
– Sofia. – Chamou-me a professora.
Olhei para ela.
– Sim, stôra?
– Vais-te sentar ao pé do Alexandre Silva.
Senti o coração a apertar quando a professora referiu o Alexandre. Dei um passo hesitante, mas lá me dirigi para o meu lugar.
Sentei-me e tentei não olhar para o Alexandre, que estava com um belo sorriso no rosto.
– Então... – Começou Alexandre. Olhei para ele. – Como é que foi o resto do teu dia?
Olhei para cima, quando a professora sentou a Clara, e vi que ela olhava para mim, como se me desejasse boa sorte, ou assim. Acenei e voltei a concentrar-me no Alexandre.
– Um pouco agitado.
– Como assim? Algo de mau? – Olhei para os seus olhos. Vi preocupação.
– Bom... Eu... Um pouco, sabes, eu... Discuti com os meus pais. Não passou disso. – Desviei o olhar da sua cara e dediquei a minha concentração à professora, que ia começar a apresentar-se à turma.
Estava uma tensão grande entre nós. Tentei descontrair, esticando as pernas, e o meu joelho tocou no dele. Ao sentir o contacto, um arrepio percorreu-me e desviei rapidamente o meu joelho. Pedi desculpa.
– Não faz mal, princesa.
Olhei para ele, até que a professora me chamou e me pediu para me apresentar. Assim o fiz, um pouco acanhada e sem saber bem o que dizer, mas lá consegui. Depois foi o Alexandre. Fiquei curiosa por saber o que é que ele ia dizer sobre si, mas fiquei desiludida, pois ele não adiantou nada do que eu já não soubesse. Disse pura e simplesmente o básico dos básicos. O seu nome, a idade e que não tinha hobbies ou algum desporto que praticasse.
A professora olhou para ele com um olhar desconfiado. Percebia-se que ela não tinha gostado minimamente dele, e digo-vos que o sentimento parecia mútuo, pois o Alexandre retribuiu-lhe o olhar com uma pura maldade, que eu nunca tinha visto, nem nos filmes.
A nossa professora chamava-se Bárbara Sol e ia ser a nossa professora de Filosofia. Eu sei, falhei redondamente na tentativa de adivinhar qual era a disciplina que ia ter.
Alexandre e eu ficámos os noventa minutos da aula calados. Finalmente, tocou. O Alexandre arrumou as coisas rapidamente e saiu disparado. Ainda o chamei, mas ele não pareceu ouvir-me. Olha, talvez para a próxima. Encolhendo os ombros, acabei de arrumar as coisas. Quando olhei para a frente, dei um salto. Tinha a cara da Clara a centímetros da minha.
Soltei um grito.
– O que é? – Perguntou ela, com um olhar inocente.
– Tu hoje não deves estar bem. – Disse-lhe bruscamente, atirando a mala para o ombro.
– Oh, vá lá, não vais zangar-te comigo, pois não?
– Vou.
– Não vais amuar, pois não?
– Vou.
– Sofia...
– O QUE É?
Ela olhou para mim, colocando as mãos nos meus ombros. Sorriu-me.
– Vá lá, dá-me um sorriso lindo e perdoa-me.
Suspirei e acenei.
– Está bem. O que me querias dizer?
Clara saltou e bateu palmas de contente. Só faltava gritar, mas, vá lá, ela conteve-se. Agarrou-me no braço e puxou-me.
– Então, como foi? – Começou.
– Como foi o quê?
– Estar ao lado do Alexandre?
– É como estar ao lado de um jacaré.
– Como assim?
– Não lhe achas piada e queres estar longe.
– Bom, se achas isso, eu acho que ele é um jacaré muito gostoso.
– Então é todo teu.
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Cidade Oculta
FantasySofia é uma rapariga de 17 com uma vida relativamente normal. Está com os amigos, a família e com o seu guarda costas que a segue para todo o lado. Até que recebe um estranho colar de uma vizinha invulgar e conhece um rapaz misterioso que a faz...