Carlos chegou a casa cansado. Desde que tinha recebido o relógio, estava a sentir-se estranho. Não era desconfortável, mas sim mal disposto. Algo dentro dele estava a protestar.
Abriu a porta do quarto. Entrou e fechou-a, encostando a cabeça nela, respirando fundo. Sentia-se como se fosse vomitar, mas não o conseguia fazer.
Dirigiu-se para a secretária e tirou de lá o portátil, pondo-o na cama e ligando-o. Trocou de roupa para o pijama e sentiu-se cair. Agarrou-se à mesa, para se equilibrar, para logo a seguir cair de cara no chão. Tinha algo esquisito nas mãos. Seriam grãos de... terra? Como é que era possível?
Mas, espera... onde é que estava a mesa? Olhou para o lugar onde antes estava a sua secretária e tudo o que viu foi um sítio vazio e terra, um grande monte de terra, cheio de livros, folhas, canetas e matérias escolares pelo meio. Não sabia como é que tinha feito aquilo, mas sabia de uma coisa... ainda bem que tinha tirado o portátil da mesa.
Suspirando, começou por se dirigir à porta. Quando ia para agarrar na maçaneta estacou. E se... e se tocasse na porta e o mesmo acontecesse? E se a porta também se tornasse terra? Mas tinha de sair, tinha de limpar aquilo.
O que é que iria dizer aos seus pais, quando entrassem no seu quarto e não vissem a secretária? Tinha de pensar numa desculpa, e bem rápido. Ganhando coragem, tocou na maçaneta da porta e nada aconteceu. Manteve-se intacta, sem terra à sua volta.
Saiu porta fora, em direção à cozinha. Pegou na pá e na vassoura e correu para o quarto, sem fazer barulho.
Limpou toda aquela terra e arrumou os materiais. Voltou a colocar a pá e a vassoura no seu lugar e foi para a cama. Viu os e-mails, entrou no Facebook e depois desligou o portátil, arrumando-o num lugar qualquer. Tentou adormecer, mas sem sucesso, pois aquele demasiado recente acontecimento não lhe estava a sair da cabeça. Matutava incessantemente no assunto, até aquele nervosismo inicial começar a passar aos poucos, sendo substituído pelo cansaço. Algum tempo depois, tinha adormecido.
Quando acordou, pouco passava das sete da manhã. Bocejou e levantou-se a custo da cama, em direção à casa de banho. Preparou-se e saiu para a escola.
Encontrou o Rúben a correr na sua direção. Vestia um fato de treino vermelho e estava encharcado em suor.
- Rúben! – Disse ele, alegremente, levantando a mão para o cumprimentar.
Rúben parou e olhou para ele, respirando a custo por causa do esforço.
– Olá, meu. Tudo... tudo bem contigo?
– Sim, vai-se andando e tu? Como é que consegues estar a correr a uma hora destas?
– Por acaso estava a ir para casa agora.
– Meu, a que horas é que tu acordaste?
Rúben pôs um dedo no queixo com um ar pensativo e depois respondeu.
– Acho que às seis e meia da manhã, porquê?
Carlos ficou de boca aberta.
– Tu não bates bem.
Rúben sorriu.
– Sim, talvez tenhas razão, mas eu gosto. Bom, é melhor ir andando, para me ir preparar para a escola.
– OK, então, vemo-nos lá.
– Sim, vá, adeus.
– Tchau.
Carlos continuou o seu caminho e Rúben voltou a correr para casa.
Parou passados uns vinte minutos, ao pé de uma árvore. Pôs a mão nela e a outra no joelho, inclinando-se para a frente, lutando para respirar. Ficou aí durante uns dois minutos.
Quando se ia preparar para avançar e continuar a corrida até casa, sentiu, debaixo da mão, algo quente, muito quente, por sinal. Que estranho. Tirou a mão da árvore e olhou para onde esta tinha estado. Não viu nada, encolhendo os ombros. Preparou-se para recomeçar, até que viu uma... faísca? Não podia ser. Aproximou-se da árvore e olhou para ela fixamente. Começou a ver fumo e aproximou a cara um pouco mais, até uma faísca saltar. Por sorte, Rúben conseguiu desviar-se a tempo.
Pegou na sua garrafa e apagou o fogo que se começava a formar. Depois, respirou fundo, passando a mão pelo cabelo, e tentou perceber o que tinha acabado de acontecer. Abanou a cabeça e recomeçou a corrida, deixando o acontecimento para depois.
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Cidade Oculta
FantasySofia é uma rapariga de 17 com uma vida relativamente normal. Está com os amigos, a família e com o seu guarda costas que a segue para todo o lado. Até que recebe um estranho colar de uma vizinha invulgar e conhece um rapaz misterioso que a faz...