Prólogo

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Peguei a arma a cima da em cima da mesa e a girei em minhas mãos, eu ainda me lembro perfeitamente como é ter uma dessas em minhas mãos, na verdade lembro de cada detalhe daquela noite horrível como se fosse ontem, mas aconteceu há três anos atrás. Ainda lembro do desespero no rosto de minha mãe, a firmeza nos olhos do meu pai enquanto mandava meu irmão e eu sairmos de lá, os gritos das pessoas em pânico, os tiros... Ainda vejo o medo nos olhos de Gabriel, o peso da responsabilidade der ser irmão mais velho e ter que me proteger, seus lindos olhos cinzentos brilhando enquanto sorria e entregava o presente e tinha comprado para mim.

O seu grito me mandando pular a janela ainda reverbera em minha mente, mas eu fiquei congelada olhando os homens que arrombaram a porta atirarem nele, vendo seu sangue manchando meu vestido branco. Me lembro de correr pelo gramado com a visão embaçada pelas lágrimas até tropeçar em um corpo sem vida de um de nossos seguranças, sua arma estava caída a pouca distância de sua mão e eu a peguei por puro instinto, a mesma arma que usei para matar o homem que me perseguia, a mesma com a qual matei as três pessoas que tentaram me machucar. Eu não hesitei, eu não senti remorso, eu apenas fiz.

Não só meu aniversário foi destruído aquele dia, mas também minha vida, aos meus quinze anos eu vi tudo que eu amava ir embora sem que eu pudesse fazer nada, tudo que eu conhecia se perdeu. Olho para o vidro a minha frente vendo um dos homens que tirou a vida do meu irmão, nunca fui de esquecer rosto e o dele, assim como de todos os outros, foi marcado a ferro na minha mente para sempre, assim como aquela cena. Coloquei a arma no coldre da minha perna e segurei minha adaga nas mãos, as iniciais GM ainda estão lá, foi o presente que dei para meu irmão quando fez dezoito anos, ele sempre adorou facas e a levava para todo lugar, era difícil sair sem ela.

-Tem certeza que quer fazer isso? - perguntou o homem loiro encostado no batente da porta.

Summers deve ser quatro anos mais velho que eu e provavelmente uns bons dez centímetros mais alto, seu cabelo loiro escuro esta curto e bagunçado, os olhos castanho esverdeados mostrando certa tensão. É brincalhão e passei a me dar bem com ele nesses poucos meses que nos conhecemos, me explicou tudo que eu precisava saber e deixou algumas coisas bem mais leves, mas também tem seus momentos de ser sério e autoritário, muitas pessoas aqui dentro tem medo dele, o mesmo não acontece comigo, pelo contrário, eu o respeito muito, o que não é algo fácil de conseguir.

-Eu quero saber quem foi que matou minha família e o porquê, sei que ele pode me dar ás respostas para isso. - ajeitei minha jaqueta. - Além do mais, tenho que aprender meu posto nesse lugar e começar a colocar minha vida no eixo, esse vai ser um dos primeiro passos.

-Quer mesmo entrar nisso? - perguntou parecendo preocupado. - Você ainda tem uma chance de viver uma vida normal, sem esses problemas.

Olhei para o vidro observando o homem que há poucas horas atrás tentou tirar a minha vida e a da minha melhor amiga, não importa o que ele diga, sei o suficiente para saber que isso não vai parar.

-Acredite, estou envolvida querendo ou não. Se não for pelo que vi vai ser por quem eu sou, eles não vão sossegar enquanto o nome Moore estiver enterrado e esquecido e se depender de mim eles não vão conseguir isso tão cedo.

Summers sorriu satisfeito como se estivesse satisfeito com minha resposta, as dúvidas sumindo de seu olhar.

-Então já que esta decidida, vamos lá tirar algumas respostas daquele saco de lixo.

Sorri.

-Não sabe o quanto posso ser persuasiva, D.

Ele jogou a cabeça para trás e riu.

-Só nesses cinco meses eu já vi várias pessoas rodarem nas suas lindas mãos, então acredite, eu sei que você é igual o seu pai.

Dei de ombros, não posso negar essa verdade. Ele caminhou comigo até a outra sala e abriu a porta para mim, o homem estava amarrado na cadeira com algemas nos pulsos e tornozelos, o rosto todo machucado mostrando a bela surra que levou, o que me deu uma pequena dose de satisfação, mas ela sumiu assim que o vi olhar para mim e sorrir com desdém.

-Vocês Moore são difíceis de matar, não é? - falou.

Eu não sento um pingo de compaixão por esse infeliz, pode parecer algo horrível de se dizer, mas quando se passa por tudo que já passei, isso não é nada. Mesmo sabendo do mundo sujo onde vivia, com o tipo de pessoa que eu estava cercada todos os dias, eu era inocente, pelo menos até o sangue ser derramado em minha frente e eu derrama-lo com minhas próprias mãos. Não importa o quanto á alma for pura, o mundo sempre vai encontrar uma forma de corrompê-la.

Não cai no poço da auto piedade como a maioria das pessoas, sofri até mais do que a maioria das pessoas pode imaginar, mas a vida me deu dois presentes maravilhosos, pessoas para chamar de família novamente, me deu irmãos e vou protegê-los custe o que custar, não importa quanto sangue eu tenha que derramar por isso. Abri um sorriso frio para o homem a minha frente e saquei minha adaga.

-Pois é, vai ter que se esforçar mais se quiser me matar, mas agora... - girei a adaga em minhas mãos. - Vou refrescar um pouco sua memoria e minha amiga aqui vai lhe dizer um oi enquanto isso.

Sem pena nenhuma enfiei a lâmina na perna dele e a girei, seu urro de dor ecoou pela sala inteira enquanto ele tremia na cadeira sem poder sair do lugar, ali era onde ele deveria estar... Por enquanto.

-Linda, neah? - falei puxando a adaga. - Você matou o antigo dono dela, o meu irmão, esta lembrado disso?

Rodopiei a adaga e novamente a finquei em sua perna, fazendo com que gritasse.

-Uma coisa dos Moore além de serem difíceis de matar é que eles nunca esquecem um rosto, ainda mais quando se trata de vingança.







Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora