Capítulo 15

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"Você pode guardar suas desculpas

Você não é nada além de um mentiroso

Tenho vergonha, tenho cicatrizes que nunca mostrarei

Sou uma sobrevivente de mais formas do que você sabe

Porque toda a dor e verdade

Eu uso como uma ferida de batalha...".

Warrior - Demi Lovato.


Tomei o restante do meu vinho em uma golada só, a fome já tinha ido embora faz tempo e não estava mais disposta a ficar sentada ali aguentando os discursos de Mason, eu sabia bem o quanto ele podia ser persistente. Quando brigávamos ele não desistia enquanto eu não o perdoava, era como um cachorro quando gruda num osso, não largava de jeito nenhum, olhando para sua cara diante das minhas palavras podia provar isso.
-Kyle, não faz assim, por favor, me da mais uma chance? - perguntou suplicante.
-Não tem segunda ou terceira chance para você, Mason. - falei firme. - Entenda, não tem a mínima chance de você me conseguir de volta. Eu amei você um dia anos atrás, mas isso já acabou faz tempo.
Ergui o dedo para chamar o garçom e imediatamente o rapaz veio me atender.
-Vai querer mais alguma coisa senhorita? - perguntou.
-A conta, por favor.
-Mas o seu almoço... - começou ele confuso.
-Pode cobrar ele também.
Ele rascunhou tudo rapidinho e me falou o valor, peguei uma nota alta e coloquei encima da mesa.
-Pode ficar com o troco. - falei. - Fez uma boa escolha no vinho, diga ao dono que mando meus cumprimentos pelo ótimo atendimento.
Ele abriu um sorriso tímido.
-Obrigado senhorita, tenha uma boa tarde.
-Para você também. - falei já me levantando.
-O senhor vai querer alguma coisa? - perguntou para Mason.
-Não, obrigada. - respondeu.
Peguei minha bolsa enquanto o rapaz saia e comecei a andar para fora das tendas.
-Kyle, por favor, pelo menos converse comigo direito, abaixe as armas. - falou andando atrás de mim.
-Acredite que se eu quisesse atirar em você, já estaria no chão.
-Kyle...
-Chega Mason! - falei cortante e um pouco alto. - Eu não sou mais aquela garota que você conheceu, pode ficar insistindo o quanto quiser que não vou mudar de ideia e não é só porque não sinto mais nada por você. Seu pai pode ter te obrigado a terminar comigo, mas quem falou aquelas palavras foi você e acredite quando digo que não tinha muitos traços de mentira no seu rosto quando jogou aquilo encima de mim. Então pare de insistir, me deixe em paz e volte para a universidade pelo mesmo caminho que veio.
-Mas Kyle...
-Você estava vivendo tranquilamente antes de saber onde eu estava, volte a fazer isso e me esqueça.
Me virei para seguir meu caminho e trombei contra um forte peitoral, com o impacto dei um solavanco para cair, mas antes que isso pudesse acontecer braços fortes me ampararam me deixando bem perto de si enquanto eu firmava meus pés. Me afastei um pouco e quando fui levantar o rosto para agradecer o estranho eu senti o cheiro, aquele maldito perfume que mesmo contra a minha vontade parecia estar gravado na minha mente e que eu reconheceria em qualquer lugar. Soltei uma torrente de palavrões já sabendo quem estava na minha frente, hoje realmente não é meu dia.
-Kyle? - perguntou Carter enquanto eu me afastava dele.
-No momento eu não queria ser.
Assim que levantei meu rosto encontrei seus olhos, ele parecia um pouco surpreso por me encontrar, mas ao mesmo tempo estava tenso e nervoso, a surpresa inicial sendo substituída pelo muro da frieza, parece que as lembranças na nossa conversa de mais cedo voltaram com tudo. Ajeitei minhas roupas e endireitei meu corpo, será possível que mais alguma coisa aconteça para esse dia ficar ainda mais perfeito?
-Kyle, você esta bem? - perguntou Mason atrás de mim.
A minha resposta divina veio na forma de um ser humano que eu queria o mais distante possível de mim. Assim que Mason nos alcançou Carter arqueou a sobrancelha o estudando, seus olhos se estreitando um pouco e o brilho de algo que não pude distinguir apareceu neles, mas sumiu rapidamente.
-Vejo que esta acompanhada. - falou com frieza.
-Não por vontade própria.
-Quem é você? - perguntou Mason para Carter.
Ele agora estava parado do meu lado com aquela típica expressão que adotava quando estava com ciúmes, o rosto duro e os olhos verdes estreitados quase em desafio, eu mereço isso. Carter o encarava sem se intimidar e os dois pareciam travar uma batalha pelo olhar, como dois cães disputando território. Revirei os olhos já dando fim a minha paciência, eu não era obrigada a ficar aturando esse tipo de coisa.
-Mason, para de tentar marcar território como um cachorro que até onde eu sei você não tem direito nenhum para isso. Você não é nada meu. - sibilei para ele.
-Meu nome é Carter, sou sócio da Kyle. - falou a outra criatura na minha frente.
Girei a cabeça na direção dele e arqueei a sobrancelha um pouco surpresa, apesar do divertimento em sua voz os olhos estavam ardendo em fúria.
-Pensei que o estúdio fosse apenas da Kyle. - respondeu de cara fechada.
Suspirei fechando os olhos, meu bom Deus, qual parte do que eu falei essa criatura não entendia? Para um cara inteligente ele era bem burro.
-Qual a parte que minha vida não é da sua conta você não entendeu, Mason? - perguntei. - Ta ficando surdo com a idade?
-Mason? - perguntou Carter franzindo a testa. - Esse não é o nome daquele seu ex idiota?
-Infelizmente você esta falando com ele em pessoa. - resmunguei.
-Que bom conhecê-lo. - falou para minha surpresa.
Olhei para Carter confusa e antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele puxou o braço para trás e desferiu um soco no rosto de Mason, não sei se foi pela surpresa ou pela força, mas fiquei olhando enquanto ele caia no chão todo de qualquer jeito. Se apoiando em um braço Mason se sentou e limpou um filete de sangue que escorria de sua boca, olhou por um momento para o liquido em sua mão e depois levantou o rosto retorcido de raiva e surpresa para Carter.
-Qual é o seu problema cara? - perguntou fulminando ele com o olhar.
Fiquei meio perdida olhando de um para o outro sem saber o que falar, na verdade eu nem sabia por que Carter fez aquilo, aquele dia já estava confuso demais para que até mesmo eu entendesse. Quando abri minha boca para falar uma mulher apareceu e segurou no braço de Carter, ela olhava para tudo um pouco confusa e para mim com cara de nojo, sua expressão quando me olhou era a de quem encontrou uma barata no chão da cozinha, meu ódio por ela apareceu quase que instantaneamente, odeio que as pessoas me olhem com esse ar superior. Ela era mais ou menos da mesma altura que eu, o corpo magro e com belas curvas, bem naquele estilo que os caras acham gostosa, a pele com um bronzeado impecável. Seu rosto era oval, tinha traços delicados, lábios cheios, sobrancelhas bem feitas e espessos cílios que emolduravam olhos azuis claros. Seu cabelo era loiro e longo, naquele mesmo estilo do de Gabriella, a raiz mais escura e as pontas mais claras de um jeito que ficaria estranho em algumas mulheres, mas nela ficava malditamente bonito.
Seu vestido era vermelho e com um decote generoso, o bom corte se moldava bem as suas curvas, valorizando seu corpo. Pernas torneadas e belos saltos de uma cor opaca que não sei qual é, não podia negar que ela era bonita e tinha o ar sexy que toda mulher desejava ter. Sempre fui confiante da minha aparência e nunca me senti inferior a ninguém, mas o olhar daquela mulherzinha estava me tirando do serio.
-O que esta acontecendo aqui? - perguntou com uma voz enjoativa.
Me segurei para não fazer uma careta, tinha que ter algo para estragar sua aparência. Olhei para Carter com a sobrancelha arqueada, realmente esse dia estava saindo melhor do que a encomenda.
-Bela acompanhante Carter. - comentei com sarcasmo.
A aprendiz de vadia abriu um sorriso falso para mim e estendeu a mão, esse tipo de mulher você já nota o jeito á distância.
-Sienna Williams, namorada do Carter, prazer em conhecer. - falou toda orgulhosa.
Apertei sua mão com vontade de quebrar seu nariz plastificado.
-Carter não falou que tinha namorada. - falei.
Por fora eu parecia fria e serena, por dentro meu estômago estava se revirando e minha mente parecia no meio de um filme de Bang Bang.
-Porque não tenho. - respondeu Carter de cara amarrada tirando a mão da mulher de seu braço. - Sienna não parece ter entendido que não somos mais um casal.
Eu apenas ri.
-Parece que esta cada vez mais difícil as pessoas entenderem uma dispensa.
-Ele fica com essa conversa, mas no final sempre me procura. - falou sorridente, mas pude ver seus olhos se estreitando em desgosto. - Ele sabe que não vive sem mim.
Enquanto ela se vangloriava Mason se levantou e parou do meu lado ainda limpando a boca, seus olhos estavam escuros de raiva enquanto olhava para Carter. Isso vai dar merda, eu podia ver de longe.
-Porque você me bateu? - perguntou com os dentes cerrados.
-Porque é um idiota que merecia muito pior do que isso. - respondeu Carter friamente.
-Você vai me pagar por ter feito isso.
Assim que vi que ele iria pular em Carter o segurei pelo braço, o que o fez recuar no mesmo instante, eu já sabia muito bem como aquilo ia terminar e mesmo que eu gostasse de uma boa luta, e particularmente queira quebrar a cara dos dois, não estava com saco para aturar toda essa idiotice.
-Mason, não, você não vai querer fazer isso. - falei.
Ele estreitou seus olhos para mim, a raiva brilhando neles.
-Porque não? - perguntou. - Só porque você esta transando com ele?
Aquilo foi a gota d'água da minha paciência, sem nem pestanejar dei um tapa na sua cara que chegou fazer com que desse um passo pra trás. Eu já estava farta de toda essa confusão e a ceninha que estava sendo armada, tudo que eu queria era um almoço tranquilo e acabei parando no meio da cena de uma novela mexicana.
-Você não tem direito nenhum de falar sobre a minha vida Mason. - falei com os dentes cerrados e com a raiva evidente em cada palavra. - O que faço ou deixo de fazer não é da sua conta, já estou cansada de toda essa palhaçada, quero mais que você, Carter e a namorada vadia dele vão todos para a boca do inferno e me deixem em paz.
Deixando os três surpresos com minhas palavras segurei minha bolsa com força e fui para meu carro, como ele estava perto não demorou muito para que eu chegasse até ele. Desliguei o alarme e me joguei no banco do motorista, em minutos já estava costurando a avenida principal rumo ao estúdio nem me importando com o risco de ganhar uma multa contanto que eu pudesse ficar o mais longe possível de qualquer um daqueles três. Assim que cheguei ao estúdio passei pela recepção como um furacão deixando Sônia com uma cara até engraçada de confusa, fiquei o resto da tarde enfurnada com a cara nos papeis, só parei um pouco quando Sônia foi me levar um café e ficamos conversando por um tempo onde contei para ela o que tinha acontecido.
Ela não sabia se ficava surpresa ou se ria, suas expressões eram até engraçadas. Quando ela voltou para a recepção eu peguei a pasta com informações que D tinha me dado mais cedo e me dediquei a estuda-la com paciência, pelo contrario do que imaginei não era um cara velho o peixe grande, mas um homem de vinte e cinco anos. Ao que parecia Douglas Mortmain assumiu as empresas e os demais negócios da família depois que seu pai foi morto em um "assalto", apesar de ainda ser novo era muito bem sucedido e tinha um alto posto na Irmandade, um dos homens de confiança do chefão. Pela foto dava para ver que era bem bonito, com olhos azuis e cabelos que eu não sabia ao certo dizer se era loiro escuro ou castanho e que pelo visto adorava frequentar boates, figurinha carimbada em mais de uma dúzia de eventos e sempre saia acompanhado por uma mulher diferente... Interessante.
Fiquei olhando por um tempo para aqueles papeis até que meu celular tocou, dei uma olhada na tela e o nome de D apareceu. Que sejam boas notícias, não ia aguentar mais um problema para a lista do dia.
-Diz que têm boas noticias para mim. - falei.
Escutei sua risada do outro lado e isso me fez relaxar um pouco.
-Pode se dizer que sim, descobrimos em qual boate Mortmain vai estar hoje. Já escolhi a equipe e estamos planejando a operação.
-Eu vou com vocês. - falei. - Q...
Ele interrompeu o que iria dizer.
-O que disse? - perguntou parecendo surpreso.
-Quero participar dessa operação.
-Mas você geralmente só participa dos interrogatórios.
Suspirei girando minha cadeira.
-Mas to precisando desestressar hoje, tive um dia muito longo e mais louco do que achei que poderia. - falei. - Além do mais, sou mais discreta do que um monte de grandalhões armados.
Já posso imaginar Summers sorrindo do outro lado da linha.
-Você já tem um plano não é? - perguntou já sabendo a resposta.
Sorri, sempre fui boa em bolar planos rápidos e fugas estratégicas.
-Pode apostar que tenho. Esteja na garagem do meu prédio as nove, no caminho eu conto meu plano.
-Estarei lá.
Estava pronta para desligar quando me lembrei de algo que já vinha pensando há um tempo.
-Summers? - chamei.
-Fala.
-Consiga para mim tudo que você puder sobre Carter Montgomery.
-Alguma coisa especifica? - perguntou já entrando no modo sério.
-Apenas que seja o mais detalhada possível. - falei. - D?
-To aqui.
-Preciso disso pra ontem.
-Sim chefe. - falou sarcástico.
-Idiota. - resmunguei escutando sua risada.
Encerrei a chamada e olhei para o relógio, já estava passando do meu horário de ir embora. Peguei minhas coisas e sai trancando a porta, Rafa estava conversando com Sônia que já encerrava o expediente. Eles sempre tinham essa mesma rotina, ficavam batendo papo antes e depois do expediente.
-Não sabia que ainda estava aqui, raio de sol. - falou.
-Tive que trabalhar um tempo extra, colocar os papeis em dia. - falei.
-E fugir do dia de cão que estava tendo. - falou Sônia.
-Isso também.
-Vou querer saber? - perguntou Rafael.
Sorri para ele.
-Hoje não, Rafa, tenho um compromisso agora á noite.
Ele e Sônia olharam curiosos para mim.
-Por acaso vai ter um encontro? - perguntou com os olhos cheios de expectativa.
-Mais ou menos isso. - respondi rindo.
-Milagres ainda existem meu senhor. - falou com as mãos para o alto. - Amanhã quero todos os detalhes.
Eu apenas sorri para eles chacoalhando a cabeça, pelo olhar que Sônia me lançou ela sabia que estava aprontando e que não ia contar nada.
-Até amanhã. - falei.
-Até. - responderam os dois.
Fui para casa com o volume do rádio ligado no último, não estava a fim de pensar em nada, o máximo que queria que ficasse em minha mente era o plano que estava bolando, eu apenas precisava saber para que tipo de boate nós íamos e minha estratégia estaria perfeita. Quando cheguei em casa ela estava vazia, apenas encontrei um bilhete de Samira e Jason na geladeira, ela ia passar a noite na casa do Adam porque logo de manhã tinham uma viagem de trabalho para fazer e Jason ia chegar tarde porque iria para um barzinho com os amigos da faculdade, ótimo, finalmente eu teria um tempo só para mim.
Entrei no meu quarto já jogando minha sacola, bolsa e blazer no sofá, coloquei a pasta encima da mesinha, tirei minhas botas e fui ligar o rádio. Escolhi uma música animada e fui para o banheiro cantarolando, enchi minha banheira e comecei a tirar minhas roupas, isso era tudo que eu precisava depois do dia de hoje. Quando a banheira estava cheia de espuma, me sentei recostando a cabeça na borda e fechei meus olhos finalmente podendo relaxar.

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Nota da autora:

Olá pessoal, um cap adiantado aqui para vocês por causa de uma ocasião especial.
É aniversário de uma grande amiga minha, ela foi a primeira a ler Atração Sombria, quando essa história ainda não passava de um conto. Me deu opiniões sinceras e amou a história do começo ao fim, me apoiou a tornar essas história e agora ela é o que se tornou hoje.
Dedico este cap a AlessandraLee... Feliz aniversário Ale, obrigado por tudo.
Para quem me cobrou o que Mason merece... Divirtam-se.

Espero que gostem.

Boa Leitura!

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora