Capítulo 23

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“Suspenso nesse acordo

O silêncio desse som é logo a seguir

De alguma forma, o sol se foi

E achar respostas,

É esquecer de todas as perguntas...”.

Trading Yesterday – Shattered.


Ofegante, desorientada e totalmente entregue.
Era assim que eu estava enquanto Carter deslizava as mãos até os meus quadris e puxava meu lábio inferior com os dentes. Arranhei sua nuca e ele gemeu, um som que mais parecia um rosnado, e que reverberou por todo o meu corpo. Apertei minhas pernas com mais força em sua cintura, o trazendo para mais perto, enquanto ele deslizava os lábios pelo meu pescoço, apenas uma caricia leve, mas que fez com que todo o meu corpo se arrepiasse. Soltei um gemido quando ele mordeu a lateral do meu pescoço, não machucou, mas no local permaneceu uma leve ardência que me fez implorar para que ele continuasse. Assim que seus lábios chegaram ao decote da camisa, minha respiração falhou, não era como se eu estivesse em uma posição inocente, mas cada toque, cada caricia e cada beijo que Carter me deva, era como se uma parte nova do meu corpo se acendesse.
Quando ele deslizou o nariz pelo topo dos meus seios, senti todo o meu corpo estremecer, o que fez com que eu apertasse com força minhas unhas em seus ombros. Carter não perdeu tempo com delicadeza, com apenas um puxão arrebentou o botões da camisa, fazendo com que os mesmos tilintassem por todo chão da cozinha. Os olhos dele eram famintos enquanto olhava para meu corpo, desde a renda da minha calcinha até os desenhos do sutiã azul, era como se ele tentasse me gravar em sua mente, como se eu fosse uma obra de arte. Ele me inspecionou até seus olhos encontrarem os meus e ali eu vi, sem que ele precisasse verbalizar nada, o fogo, o desejo, o desafio e todos os sentimentos que passei anos tentando evitar, ali eu vi, o quanto nós dois estávamos ferrados.
Eu sabia que devia parar, todos os alertas de autopreservação gritavam para que eu parasse, mas era essa a questão, eu não queria parar. Agarrei a cabeça de Carter entre as mãos e o puxei novamente para mim chocando meus lábios contra os seus. Sua língua pediu passagem e permiti que ela explorasse minha boca enquanto suas mãos firmes me prendiam contra seu corpo. Eu já havia beijado vários caras antes e, não que não tenha sido bom, mas naquele momento ali com Carter, havia algo mais que eu não sabia explicar.
—Crianças, vão para o quarto. – falou uma voz rouca. – Não mereço ver isso uma hora dessas da manhã.
Carter e eu congelamos. Estávamos desorientados e ofegantes, suas mãos ainda me seguravam com firmeza enquanto minhas pernas pareciam uma tranca ao redor de sua cintura, não era uma posição que devia ser exibida para outras pessoas. Mesmo ainda grogues, nos viramos para olhar quem era o visitante. Havia um homem parado a meio caminho da cozinha, ele nos encarava com a sobrancelha arqueada e com um sorrisinho debochado se repuxando em seus lábios.
Ele era talvez um pouco mais baixo que Carter, mas ao contrário do homem no qual eu estava nos braços, a primeira coisa que me vinha a cabeça quando olhava para o desconhecido era piadista. Ele tinha a pele clara, cabelos negros bagunçados e um tanto ondulados que caiam em sua testa, seus olhos eram escuros como pedras de ônix e brilhavam em divertimento. Seus lábios bem desenhados se delineavam em um sorriso travesso que exibia dentes perfeitos e brancos, o maxilar quadrado era sombreado por barba de dois dias e havia um furinho charmoso em seu queixo. Seus corpo era musculoso e muito bem cuidado, os ombros largos eram marcados por uma blusa de mangas compridas azul, que ficava um pouco colada em seu peitoral. A calça jeans preta era um pouco mais solta, mas marcava todos os pontos certos, o deixando com um ar sexy. Ele era bonito e era obvio que sabia disso, tinha o perfil de homem que quando abria um sorriso cafajeste, fazia qualquer mulher ter pensamentos nada inocentes.
Ainda me segurando, senti o corpo de Carter ficar tenso enquanto ele xingava baixinho. Entrei em modo de alerta no mesmo momento, era claro que fosse quem fosse, Carter não estava feliz com sua presença.
—Filho da... – começou ele.
—Dona Laura vai ficar de coração partido se xingar ela. – falou o estranho.
—Seria a mesma sensação que ela teve ao parir você, seu infeliz. – falou Carter entre dentes.
Imediatamente meu corpo relaxou e tive que conter um sorriso. A maneira familiar com a qual falavam um com o outro deixava claro uma coisa que eu já conhecia por experiência própria, eles eram melhores amigos. Morar com amigos tinha seus pontos bons e ruins, perdi a conta de quantas vezes peguei Samira e Adam se agarrando no balcão da cozinha, ou Jason e Caroline dando amassos no sofá. Cenas embaraçosas faziam parte do pacote.
—Assim você me magoa.
—Nesse momento, Silas, - rosnou Carter se virando. – magoar é a última coisa que quero fazer com você.
Mesmo tendo se virado para encarar Silas, Carter ficou na minha frente, evitando que seu amigo tivesse uma bela vista do meu corpo seminu. Escutei as risada de Silas preencher a casa enquanto Carter fechava os punhos tentando controlar sua raiva.
—Baixa a pistola ai, amigo. – falou Silas. – Sou uma alma inocente aqui.
Senti meu rosto pegar fogo ao entender ao que Silas se referia e, mesmo estando de costas, eu podia ver que o rosto de Carter também estava vermelho, mas eu sabia que o dele não era de vergonha. Tudo bem que a culpa não era nossa se o amigo tinha escolhido uma hora ruim para aparecer. Eu ainda não sabia se agradecia Silas por ter aparecido antes que as coisas tivessem esquentado mais, ou chutava seu rabo por ser intrometido. O que eu sabia era que precisava de um banho muito gelado.
—Inocente vai ser quando eu quebrar sua cara. – rosnou Carter.
—Vai fazer isso na frente da dama? – perguntou Silas. – Se for fazer isso mesmo, pelo menos nos apresente primeiro.
Pelo pouco que eu conhecia Carter, Silas estava a poucas palavras de encontrar uma morte precoce, mas mesmo que estivesse desorientada pelo beijo e tudo mais, não pude deixar de rir encostando meu rosto nas costas de Carter. O momento todo era embaraçoso demais. Senti ele apertando meu joelho enquanto espiava por cima de seu ombro, encontrando Silas tentando me enxergar.
—Sou Kyle. - falei contento o sorriso. – Kyle Moore.
—Silas Walker a seu dispor, senhorita. – falou fazendo graça e então, arregalou os olhos parecendo perceber algo. – Então é você que...
Antes que ele pudesse continuar, Carter deu um passo em sua direção, mas o impedi de prosseguir o prendendo com minhas pernas. Mesmo que eu não estivesse olhando em seu rosto, podia sentir que ele estava fervendo de raiva.
—Você está a uma frase de sair do prédio da maneira mais dolorosa, Silas. – falou ele. – E você vai voar por aquela janela gritando como uma garotinha.
Silas olhou para o amigo e ponderou suas palavras. Pareceu chegar à conclusão de que Carter não estava brincando e tomou a sábia decisão de mudar de assunto.
—Pena não podermos nos apresentar adequadamente. – falou sorrindo para mim.
—Desculpa, mas não estou vestida para apresentações.
Ele parecia querer falar alguma coisa, mas um olhar para o rosto de Carter foi o suficiente para que ele se calasse. Ficamos os três em um momento embaraçoso de silêncio até que Carter pigarreou.
—Se você se virar, ela pode ir se trocar. – falou.
Silas ergueu as mãos em rendição e se virou indo para a sala. Carter se afastou um pouco, ainda encarando as costas do amigo enquanto eu pulava da bancada, o que me rendeu uma careta de dor ao sentir todo meu corpo reclamar, principalmente meu recém feito galo. Carter se virou para mim e antes que começasse a falar alguma coisa, seus olhos viajaram por todo o meu corpo, fazendo imediatamente com que eu me sentisse inquieta e quente. A nuvem escura de desejo que havia em seus olhos não ajudava em nada eu organizar meus pensamentos.
—Eu vou matar aquele desgraçado. – falou mais para si mesmo do que para mim.
Ele fechou os olhos por um momento e respirou fundo repetidas vezes. Fiquei apenas observando, apreciando os traços fortes de seu rosto, a sombra de barba em sua mandíbula, o movimento de seu peito enquanto respirava e os traços da tatuagem que apareciam por baixo da regata branca e no seu ombro direito. Esse seria um momento que eu gostaria de registrar em uma fotografia.
—Não me olha desse jeito. – falou ele com a voz baixa e soando um pouco perigosa. – Me ajude a preservar o resto de sanidade que tenho ou vou chutar o rabo de Silas desse apartamento, arrastar você para o meu quarto e acredite... Seu eu fizer isso, nada vai conseguir me parar.
Engoli em seco sentindo minha boca ficar seca e segurei à frente da camisa, a fechando da melhor maneira que eu pude. Mesmo que meu corpo todo gritasse o contrário, eu sabia que ele estava certo e que devíamos parar, tomar cuidado, se fossemos além dos beijos... Não teria mais como voltar atrás.
—Obrigado. – falou com um pequeno sorriso me vendo fechar a camisa de maneira precária. – Tem toalhas limpas no armário do banheiro, se você quiser tomar banho. Eu trouxe a bolsa de roupas que a Samira deixou para você no hospital, ela ta do lado da cama.
—Tudo bem.
Ficamos um tempo nos encarando até que ele se afastou, me dando passagem. Andei meio caminho para fora da cozinha, antes de parar e olhar para ele por cima do ombro.
—Carter? – seus olhos azuis se voltaram para mim. – Obrigado por me salvar.
Ele ficou um tempo me encarando confuso, até quem um sorriso torto se formou em seus lábios e eu me voltei para seguir pelo corredor. Passei voando pela sala, Silas estava mexendo nos papeis que estavam encima da mesa e ergueu o olhar assim que me viu, o que foi no mesmo momento que Carter chegou na sala.
—Não olha, inferno! – rugiu ele para o amigo.
Não pude conter meu sorriso enquanto corria pelo corredor e entrava no quarto.

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora