Capítulo 43

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"Você não saiu, você não desistiu de mim

Mesmo se você está vindo para fora

Eu não vou desistir de você

Nós nunca teremos que dizer adeus

Porque eu posso te sentir da vida após a morte

E eu só quero dizer que, a cada dia

Você me faz olhar mais profundamente

Se tudo que você diz é verdade

Então, não terei que terminar com você

Em todos os sentidos...".

Never have to say goodbye – Papa Roach.

O suor escorria pelo meu rosto, assim como o sangue do corte na minha sobrancelha, na bochecha e no canto da boca, que já formavam gotas que pingavam do meu queixo. Meu corpo todo doía e meus músculos imploravam por qualquer descanso que fosse. Mesmo com todas as dores, a sensação era ótima, porque minha cabeça estava absolutamente vazia e a dor que eu estava sentindo fisicamente era muito mais suportável do que a que estava dilacerando meu peito. Talvez fosse por esse motivo que um sorriso teimasse em ficar em meus lábios, irritando cada vez mais meus adversários que tentavam de todo modo me derrubar em definitivo, mas quando conseguiam me dar um golpe não me derrubavam mais do que alguns segundos. Afastei a mecha de cabelo que estava grudada em meu rosto e desviei no exato momento em que a garota na minha frente desferiu um golpe e, naquele momento, adorei novamente a liberdade que estava sentindo. Aquela descarga eletrizante que fazia com que a dor fosse ignorada, aquela euforia que fazia com que eu ficasse atenta a cada um dos movimentos do meu oponente.

Eu nunca fui totalmente boa, engano seria acreditar que sempre pertenci a luz. Desde pequena eu sabia que não tinha nascido para ser uma garota pura e inocente, para ser boba, nunca acreditei em príncipes e muito cedo comecei a compreender como o mundo era sujo. A diferença era que antes eu tinha muito mais motivos para enxergar o bem e para sorrir, acreditando em dias melhores. Como todos os outros Moore, até mesmo meu irmão, eu tinha traços obscuros da minha personalidade, os quais mantinha escondidos de todos. A fúria reprimida era algo quase genético, o que eu podia comprovar tendo convivido com vários membros da minha família. Mesmo que eu sentisse um aperto no coração e muitas vezes poupasse as vidas dos que me atacavam, não podia negar que sentia certa satisfação em matar alguns Lordes, como se a cada um que eu derrubasse, uma pessoa que eles mataram aquela noite estivesse sendo vingada.

Aqui eu colocava esse meu lado para fora. Lutava de maneira que nem mesmo Derek já tinha visto, abusando de todo o meu treinamento, mas sem nunca chegar a casos muito extremos. Apliquei um golpe rápido na garota a minha frente e com isso a arremessei do outro lado do pátio. Eu já tinha enfrentado dez até agora, ela era a décima primeira. Por incrível que pareça eu não estava me sentindo cansada, pelo menos não tanto quanto deveria e estava me divertindo com a comemoração e as lamurias do público. Ronald, a cada pequeno intervalo de uma luta para a outra, me lançava olhares de alerta e nem por um momento tirava o olho de mim. Eu sabia que ele estava começando a ficar realmente preocupado, eu nunca tinha tido lutas tão pesadas daquele jeito e não estava nem um pouco inclinada a parar.

—A outra participante se encontra incapaz de continuar a luta. – declarou o juiz se levantando ao lado da garota que gemia no chão. – Vitória de Dark Angel.

O público foi à loucura e tudo que fiz foi repuxar meus lábios em um sorriso. Eu gostava dessa emoção. Enquanto eu ia para o canto direito para beber um pouco de água e descansar, vi pelo canto do olho Ronald conversar com um homem que por algum motivo me parecia muito familiar. Eu não podia ver seu rosto, já que ele estava de costas, enxergava apenas ombros largos, cabelos escuros e um jeito de se mover que me lembrava muito alguém, embora eu não conseguisse lembrar no momento. Fiquei no canto apenas observando até o tempo de descanso acabar e o sinal de que as lutas voltariam soar. Assim que o sinal tocou, Ronald fez um sinal para mim e indicou o cara com quem estava conversando mais cedo, avisando que ele seria meu próximo oponente. Fiquei curiosa vendo sua expressão, que era um misto de desconfiança e... Alivio? Ao olhar para aquele estranho, mas não me prendi muito a isso, já que o juiz estava me chamando para o centro do pátio.

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora