Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1

Capítulo 25

"E eu tentei agarrar sua mão

E deixei meu coração aberto

Mas você não entendeu

Vá se consertar

Eu não posso te ajudar a se consertar

Mas pelo menos posso dizer que tentei

Sinto muito, mas tenho que levar minha própria vida em frente...".

Scars - Papa Roach.

Jason fechou os olhos e ficou assim por um bom tempo, como se achasse que se fizesse isso, a realidade de quem estava ali fosse desaparecer. Liam parou de sorrir e soltou um palavrão, os olhos se estreitando ao olhar para o lado. Apenas respirei fundo e me virei, topando com nada menos que Caroline Foster parada bem na porta da empresa. O vestido azul se moldava bem ao seu corpo e se acentuava em suas curvas, o decote era um pouco generoso demais, mais nada que me surpreendesse vindo dela, as alças eram grossas e tinham pequenas contas prateadas. Nós pés calçava um salto branco, o que eu diria que era proposital. Jason sempre teve uma queda gigantesca por mulheres que usam saltos bem altos, vivia dizendo que isso deixava a mulher mais sensual. Nem posso reclamar que ele é a melhor pessoa para dar sapatos de presente, tanto que, na primeira viagem de trabalho que ele foi fazer, trouxe para Samira e para mim os saltos Louboutin que são a minha paixão. O meu era branco e o de Samira vermelho.
Seus cabelos platinados estavam presos em um coque com perfeição, a maquiagem marcando seus olhos verdes e nos lábios um batom rosado, a bolsa de gripe pendurada no ombro. Ela sempre se vestia para impressionar, sempre uma princesa, mas dessa vez eu sabia muito bem a motivação dela para estar tão arrumada. Caroline veio disposta a ferrar não somente a cabeça do meu amigo, mas também o seu coração. Os dois namoravam a quase dois anos e tinham se conhecido por meio de Henrique Foster, o pai de Caroline e professor de Jason na faculdade. Tanto a mãe quanto o pai dela o adoravam, o irmão caçula idolatrava Jason, apenas a megera da filha não dava valor ao que tinha nas mãos. Havia duas opções para ela estar ali, tinha se arrependido da burrada que tinha feito ou os pais a jogaram numa balança bem desequilibrada e, conhecendo bem a peça, eu apostava na segunda opção.
Havia um sorriso nervoso em seu rosto, ainda mais quando ela olhou para mim. Tive o prazer de constatar seu rosto ficando um pouco pálido quando sorri friamente para ela. Bom que sabe o que te aguarda, vadia.
-Não vai me responder, Jason? - perguntou ela.
-Não lhe devo nada, Caroline. - respondeu Jason tão friamente que tive que olhar para ele. - Não tenho que responder.
Jason estava sério, o rosto era uma máscara de tranquilidade fingida. A voz fria poderia causar mais estragos que um iceberg, o que, mesmo que ele estivesse revirado por dentro, mostrava o quanto o amor que ele sentia por Caroline, tinha caído para o ódio. Vi ela engolindo em seco enquanto andava mais um pouco até estar ao nosso lado. Jason apertou o braço ao redor dos meus ombros e fiz o mesmo com o braço que eu tinha envolta de sua cintura. Eu sabia bem o efeito que ela causava nele, não podia deixar que isso acontecesse bem no seu local de trabalho.
-Não precisa agir assim comigo, amor. - falou a bruaca com ousadia. - Vamos conversar direito. Você nem me deu a chance de falar nada na última vez que tentei conversar. Temos muito o que falar um para o outro, não vamos deixar a nossa história ficar assim.
Olhei para Jason com preocupação e ele retribuiu meu olhar, ficamos presos por um momento tendo uma conversa silenciosa, eu queria garantir que ele estava pronto para aquele momento. Com apenas um olhar e um aceno de cabeça, Jason me disse tudo que eu precisava saber, ele já tinha apanhado muito da vida e eu tinha confiança em suas decisões, sabia que dessa vez ele não ia se deixar ser feito de bobo novamente. Me afastei dele e fui para o lado de Liam enquanto em apenas dois passos ele andava até Caroline e parava bem em sua frente, a encarando de cima com um olhar que fez até eu mesma sentir vontade de me encolher.
-Sim, eu tenho muitas coisas para te dizer, Caroline. - falou com a voz ainda mais fria do que antes, munida por sua raiva. - O que eu tenho que dizer é que você é uma garotinha fútil, mimada, egoísta e que acha que o mundo gira ao seu redor. Eu já fui muito bobo aceitando a suas manhas, era um idiota apaixonado que se contentava com as migalhas que você me dava, mas isso era antes. Você tem uma família incrível e se faz de rebelde por achar que não é amada o suficiente, eu amava você e a tratava como uma princesa, mas isso não era o bastante para você e precisou procurar atenção em qualquer cara que se dignava a te elogiar mais de uma vez. Eu confiei em você e jogou na minha cara que na verdade eu tinha medos e traumas ridículos, mas o que eu não notava antes era o quanto isso mostrava a sua falta de caráter e o senso que você não tem do mundo. Eu amei você um dia e agora, a única coisa que sinto é ódio. Cansei dessa merda, cansei de correr atrás de você. Por mim você poderia ir pro inferno e levar todo esse caralho da nossa história com você.
Caroline de repente parecia ter diminuído uns vinte centímetros, seus olhos estavam grandes e arregalados, seu rosto pálido enquanto ela encarava Jason.
-Mas... Mas Jason... Eu...
-Você não passa de uma vadia egoísta que só correu atrás de mim porque seus pais ameaçaram e porque eu feri seu orgulho medíocre. Então me poupe das suas desculpas ridículas que eu tenho muito mais o que fazer. - falou dando as costas para ela. - E não se atreva a vir no meu trabalho de novo ou vou falar para os seguranças a barrarem.
A deixando muda, Jason andou até nós sem dar a ela a chance de se manifestar.
-Você não pode me dar as costas desse jeito! - exclamou chamando a atenção de algumas pessoas que passavam.
Como pessoas ridículas gostas de passar vergonha, meu Deus.
-Não posso? - perguntou Jason abrindo um sorriso sem se virar. - Então fica olhando.
Jason tocou meu braço.
-Me encontra na minha sala? - perguntou. - Preciso falar com o meu chefe.
Fiquei olhando para seus olhos por um momento, notando que, por mais que o momento tenha sido tenso, havia uma expressão tranquila em seu rosto, quase como se ele tivesse tirando um peso de seus ombros. O que realmente poderia ser o caso, acho que ele nunca tinha colocado para fora tudo o que realmente sentia.
-Claro. - respondi.
-Você sabe onde fica. - falou me dando uma piscadela e foi na direção dos elevadores.
Caroline estava quase soltando fumaça enquanto olhava Jason entrar em um dos elevadores.
-Jason! - ela gritou novamente e ele nem se mexeu. - Jason você é um...
Não dei a ela a chance de terminar a frase, com apenas um passo à frente que nos aproximou, ergui o braço e minha mão estalou em seu rosto. O som pareceu ecoar pelo saguão agora estranhamente silencioso. O tapa tinha sido forte o suficiente para agitar algumas mechas do seu cabelo enquanto uma marca vermelha dos meus dedos aparecia em seu rosto. Liam, que estava ao lado, levou a mão a boca e com muito custo tentava segurar o riso enquanto Caroline colocava a mão na bochecha.
-Não ouse xinga-lo. - falei entredentes. - Eu te disse uma vez Caroline, se Jason terminasse com você, era para nunca mais vir atrás dele ou eu mesma dava um pé na sua bunda. Como estou me sentindo generosa hoje e acho essas minhas botas lindas demais para serem estragadas, vou deixar apenas o tapa como aviso. - me aproximei um pouco mais e ela deu um passo atrás. - Não cruze nossos caminho novamente, posso não estar de bom humor da próxima vez e acredite, você não vai querer me ver desse jeito.
-Vocês são um bando de miseráveis. - resmungou com lágrimas nos olhos.
-Pelos menos tudo que temos veio do nosso esforço. - falei com um sorriso frio. - Não somos inúteis que nem você que só sabe viver à custa dos pais.
-Rasteja de volta para o seu buraco, cascavel. - falou Liam parando ao meu lado, seu sotaque deixando as palavras engraçadas. - Acho que já passou vergonha demais por um dia.
-Devo chamar a segurança? - perguntou Dalila atrás de nós. - Ele pode acompanhar essa... Senhorita até lá fora.
Sorri por cima do ombro. Algo me dizia que Dalila estava pensando numa palavra muito diferente de senhorita, mas seu trabalho exigia que ela fosse educada mesmo com quem não merecia. Caroline lançou um olhar raivoso para ela que acabou se tornando uma careta e, pegando o que tinha restado do seu orgulho, segurou sua bolsa de grife no ombro e saiu com toda classe jogada pelo ralo. Depois que ela saiu, Liam e eu não aguentamos mais e começamos a rir descontroladamente, mesmo Dalila a apenas alguns metros de distância não estava se controlando.
-Esse foi o melhor momento da minha manhã. - falou Liam.
Eu apenas ri. O dia mal tinha começado e as emoções já estavam em alta, já estava até vendo que não teria sossego hoje.
-Você está com cara de mãe orgulhosa. - falou ele olhando para mim.
-Não posso negar. - falei controlando o riso. - Tenho todos os motivos para estar orgulhosa de Jason. A muito tempo eu já estava esperando ele dar um fora naquela garota e posso dizer, ele superou tudo que eu já imaginei.
-É o nosso garoto.
Sorri e ajeitei meus cabelos. Eu tinha me preocupado com ele, mas no final, como quase sempre, o garoto que eu sempre tentava proteger se mostrou o homem por quem eu tinha total admiração.
-É melhor subirmos. - falei batendo meu ombro no de Liam. - Acho que a próxima na rodada de tapas verbais sou eu.
-Ih... O que você aprontou dessa vez? - perguntou já se virando na direção do elevador.
-Dessa vez, meu amigo, eu não tive culpa de nada.