Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1

Epílogo

"Tome fôlego

Eu vou me recompor

Só mais um passo até eu alcançar a porta

Você nunca saberá como

Me machuca por dentro te ver

Eu queria poder te dizer algo

Para levar tudo isso embora

Ás vezes eu gostaria de poder te salvar

Há tantas coisas que eu quero que você saiba

Eu não vou desistir até estar acabado...".

Save you – Simple Plan.

(Não era pra ter música, mas eu estava escutando essa e achei que combinava com o cap.)

Carter Montgomery

Fazia quase uma hora que Kyle estava dormindo. Depois de quase meia hora chorando e até mesmo xingando, ela finalmente tinha conseguido pegar no sono. Agora estávamos deitado em um sofá que tinha ali na sala, que por sorte era espaçoso e confortável, de modo que coube nós dois deitados, ficando apenas os meus pés do lado de fora e uma irritante dormência no pescoço que eu estava começando a sentir por estar um pouco torto. Os cabelos dela estavam soltos e caiam por seu ombro e rosto, dando uma fragilidade a ela que fazia com que parecesse mais jovem e, embora parecesse difícil acreditar, a deixava ainda mais bonita. Kyle estava aconchegada contra mim, o rosto enterrado em meu peito e uma das mãos segurava minha cintura com tanta firmeza que era como se ela estivesse com medo que eu fugisse dali. Seu rosto ainda tinha leves traços de vermelhidão por causa do choro, mas fora isso sua expressão agora era tranquila e serena, de uma forma que era quase impossível ver quando estava acordada. A expressão dormindo como um anjo poderia se aplicar a ela, mas mesmo em estado de inconsciência aquela mulher jamais poderia ser considerada inofensiva.

Eu fazia círculos com o polegar em seu ombro enquanto sua respiração suave fazia cócegas na minha pele. Eu já tinha passado horas a vendo dormir quando a levei para minha casa quando a salvei dias atrás e, se isso me fazia idiota e patético, eu não dava a mínima. Vê-la daquela maneira de me dava uma estranha sensação de conforto ao mesmo tempo que parecia triplicar meu senso de proteção, fazendo com que eu quisesse matar qualquer um que ousasse feri-la. Em todas essas semanas jamais imaginei que estaria assim com ela, sem brigas ou gritos, e que ela pareceria tão confortável ao meu lado, assim como nunca, em todos esses meus anos de vida, que sentiria meu coração se partindo por ver uma mulher chorar.

Eu já tinha visto muitas coisas ruins ao longo dos meus vinte e quatro anos, coisas dignas de pesadelo e que ninguém da minha idade deveria ver. Já tinha feito muitas coisas ruins das quais hoje me envergonhava, mas de tudo que já fiz e presenciei, nada foi tão ruim quanto ouvir o choro de Kyle. As lágrimas caíram livremente por seu rosto e ela soluçou como uma criança, as emoções em uma mistura de ódio, dor, sofrimento e desolação. Ela doloroso até mesmo ouvir. Eu nunca a tinha visto daquele jeito nem mesmo quando me contou de sua família, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu mataria quem fosse para nunca mais ter que vê-la daquele jeito. Eu tinha consciência do que estava acontecendo comigo, tive minha descoberta finalmente quando falei que me importava com ela, ao mesmo tempo que sentia as palavras de Silas e Samira como sinos na minha cabeça. Eu estava apaixonado por aquela bonequinha dos infernos e isso era uma grande merda.

Estar apaixonado por si só já era um complicação, na minha atual situação, enfrentar um exército de inimigos sozinho poderia ser muito mais fácil. Havia tanta coisa envolvida ali no meio, tantos segredos, tanto sangue e sofrimento, que não tinha muito espaço e muito menos tempo para se pensar em amor. Eu sabia que estava ferrado assim que pus meus olhos nela pela primeira vez ou segunda, era difícil dizer, mas achei que se ignorasse isso poderia ser mais fácil. Kyle era tudo que eu poderia querer em uma mulher, era segura de si, corajosa, independente, ousada, ardilosa, inteligente e generosa, mas também tinha seus lados obscuros e plena consciência de seus atos, se envergonhando ou não do que fazia. Isso era algo que eu admirava muito nela. Ela cresceu onde muitos iriam se afundar em um poço sem volta. Seu altruísmo era algo que tinha me chamado atenção desde antes de conhece-la, e que se mostrou muito grande depois que passei a conviver mais tempo com ela. Mesmo sem confiar em mim ela tinha me levado até sua casa e cuidado de mim, mostrando que mesmo toda a perda que tinha sofrido não tinha endurecido seu coração. Era fácil entender porque os homens se encantavam por ela. Porque Adam, Jason, Derek, Morgan e até mesmo Rafael, mesmo com toda sua delicadeza, fariam de tudo para protege-la de qualquer cara que não achassem bom o suficiente.