Capítulo 12

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"Eu não quero ser a garota que tem que preencher o silêncio

O silêncio me assusta por que ele grita a verdade

Por favor, não me diga que tivemos aquela conversa

Eu não vou me lembrar

Guarde seu fôlego, de que adianta?

A noite esta me chamando

Ela sussurra para mim, "a culpa é sua"

Eu ouço você caindo

E se eu me deixar ir, serei a única culpada...".

Sober - Pink.


Carter estava sentado no meu sofá parecendo bem á vontade enquanto Gabriella estava quase montada em seu colo com a boca colada na sua, não chegava a ser um beijo, parecia que eu tinha chegado no momento exato. Fiquei petrificada por um momento olhando para aquela cena, mas logo em seguida meu sangue esquentou e passei a enxergar vermelho, fechei os punhos cor força até sentir as unhas quase cortando as palmas das minhas mãos. Vendo aquilo diversos sentimentos se apoderaram de mim, eu nem sabia nomear metade deles.
-Mas que inferno esta acontecendo aqui?! - gritei.
Os dois se assustaram com o som da minha voz e deram um pulo que fez com que cada um ficasse de um lado do sofá. Carter me encarava com olhos arregalados como se eu tivesse surgido do nada e Gabriella estava mais branca que uma folha de papel, sua expressão dizia que ela queria sair correndo dali o mais rápido possível, tarde demais para isso, querida.
-Ky... Kyle? - gaguejou.
Gabriella Reis era minha assistente há dois anos mais ou menos, seus cabelos eram longos e loiros, a raiz sendo um pouco mais escura que as pontas, seu rosto era redondo e delicado com traços suaves, tinha olhos verdes que ás vezes quase pareciam azuis e uma boca carnuda com lábios rosados. Ela era alta e tinha o corpo perfeito de uma modelo, seios de tamanho médio, cintura fina e um quadril estreito, pernas longas e torneadas, ela não era daquelas esqueléticas, o que a tornava ainda mais bonita. Ela passava aquele ar de inocência e ao mesmo tempo de mulher sexy, suas roupas sempre na moda não me deixavam mentir, assim como o que escuto sobre sua vida amorosa.
Respirei fundo enquanto olhava para os dois, não vou perder a cabeça, não vou perder a cabeça, repeti mentalmente tentando me acalmar, posso querer arremessar um deles pela janela, mas não vou me exaltar. Fiquei por um tempo repetindo isso como um mantra até que parte considerável da minha raiva passou, uma quantia suficiente para que eu não matasse ninguém.
-Sou eu, por quê? Estava esperando outra pessoa? - perguntei calmamente e sarcasticamente. - Se quiser posso sair para não atrapalhar o momento do casal.
Por fora eu poderia parecer tranquila, mas por dentro eu estava mais para um vulcão em erupção.
-Eu... Eu...
Seu rosto agora estava vermelho e ela mexia nas mãos desesperadamente enquanto tentava se explicar. Se eu não estivesse com tanta raiva poderia até rir do seu desespero, eu era uma boa chefe, mas também era bem rígida com as normas do estúdio.
-Você o que? Estava quase transando com Carter no meu sofá, é isso que esta tentando me explicar? - perguntei friamente com um sorriso sarcástico. - Acho que não precisa explicar o que vi, Gabriella.
Seu rosto voltou a perder a cor.
-Não, não é nada disso. - falou apressada. - Nós não fizemos nada.
Coloquei minha bolsa encima da mesa e cruzei os braços olhando bem para os dois enquanto me encostava na mesa, Carter continuava sentado, mas sua expressão de surpresa agora tinha passado e ele apenas permanecia calado, uma escolha até sábia da parte dele. Gabriella era uma garota legal e eu gostava dela, tinha um sorriso meigo e encantador, mas eu conhecia bem o que escondia por trás dessa fachada.
-Não fizeram nada... - soltei uma risada curta. - Sei, porque se eu não tivesse chegado e atrapalhado poderia muito bem ter acontecido alguma coisa. Não pode tentar desmentir o que meus olhos viram.
Vendo os olhos de Carter me encarando senti novamente aquele misto de sentimentos, dentre eles estava a raiva e a irritação, mas o estranho também era que me sentia... Magoada e decepcionada. Não sei se ele viu algo em meus olhos, mas seu rosto rapidamente se torceu em uma expressão preocupada, agora ele finalmente parecia ter entendido como a situação estava.
-Kyle... - começa Carter.
Eu apenas o ignorei e me virei para Gabriella.
-Olha Gabriella, acho que sempre deixei as minhas regras bem claras sobre o trabalho aqui dentro. Você é minha assistente e cuida dos meus compromissos, tem permissão de entrar na minha sala e atender meus telefonemas, nossa relação é inteiramente profissional, o que faz ou deixa de fazer fora daqui não me diz respeito. - falei calmamente. - Apenas falo para não se envolver com os clientes e não trazer nenhum problema que não seja referente ao trabalho aqui para dentro, mais importante, não misturar a vida pessoal com a profissional. Sempre fui clara nisso, não?
-Sim.
-Então acho que estar quase trepando com um cara no sofá da sala da sua chefe não é seguir essas regras. - falei. - Não permito esse tipo de comportamento dentro da minha empresa, ainda mais dentro da minha sala, lá fora vocês podem fazer o que quiser, se pegar onde quiser, mas aqui dentro não. Isso é uma violação no seu contrato Gabriella, sabe muito bem disso.
Ela me olhou desesperada e vi seus olhos se encherem de lágrimas, desculpa querida, mas precisava muito mais que lágrimas para me amolecer.
-Por favor, não me demita, eu preciso muito desse trabalho e foi o melhor emprego que já consegui.
-Kyle, não seja dura com ela. - falou Carter.
Virei um olhar fulminante para ele.
-Não diga como eu tenho que falar com a minha funcionaria Carter. - falei fria. - Eu sou a dona dessa empresa, quem manda aqui sou eu e minha palavra é lei, não preciso de ninguém me dizendo como devo trabalhar. Então cala a boca e não se intromete. - me virei para Gabriella. - Sei muito bem como você é Gabriella, assim como tenho certeza que já sabe, pelo tempo que trabalha aqui, como eu sou.
Ela assentiu.
-Vá até a edição e pegue uns papeis que preciso, assim que voltar me espere na sua mesa que depois que eu terminar aqui vou te chamar para termos uma conversa.
Ela assentiu mais uma vez.
-Muito obrigado. - falou e saiu da sala rapidamente.
Andei até minha mesa e me sentei sentindo os olhos de Carter em mim o tempo todo, eu não queria olhar para a cara dele. Eu não sabia dizer o que estava sentindo, mas era como se eu tivesse levado um tiro, e no meu caso, eu sabia perfeitamente como era essa sensação.
-Não aconteceu nada, se é isso que você vai perguntar. - falou depois de um tempo. - Ela começou a conversar comigo e dar indiretas, eu ia empurrar ela no momento que você apareceu.
Fechei meus olhos por um momento e respirei fundo, ele sempre conseguia me abalar, mas não eu não podia deixar que isso me afetasse e muito menos demonstrar isso. Não podia deixar ele saber que tinha esse tipo de efeito em mim.
-Eu não ia perguntar nada porque não me interessa. - falei com a voz calma. - Só não quero que invada o meu escritório como se fosse a casa da mãe Joana e faça tudo que tenha vontade, você é apenas um convidado aqui... Na verdade, nem isso é porque não vejo necessidade da sua presença aqui dentro.
-Kyle, eu sei que esta brava, mas não aconteceu nada, eu já ia afasta-la.
-E porque eu deveria estar brava? - perguntei. - Além do obvio fato de ter invadido meu escritório?
Ele estreitou aqueles olhos azuis para mim, droga, ele estava conseguindo ver cada vez melhor através de mim. Ontem a noite ele viu minha máscara cair, e mesmo que eu quisesse era como se ele tivesse conseguido abrir uma rachadura no muro que sempre mantive erguido, Samira estava certa, havia algo entre nós dois e isso já era perceptível.
-Por que nos beijamos não faz menos de dois dias e você me encontrou com sua assistente quase montada em mim.
Apenas a menção do beijo fez minha pele esquentar, mas não deixei que isso transparecesse, sou mestre em camuflar sentimentos, já fazia isso há muito tempo.
-Foi apenas um beijo Carter, não significou nada, apenas uma coisa que aconteceu no calor do momento.
Ele ficou me encarando como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.
-Como não significou nada? - perguntou irritado e com a voz alterada. - Depois de tudo que conversamos ontem, depois que de tudo que aconteceu você ainda vai ficar nessa desconfiança idiota?
-E você esperava o que Carter? - perguntei também irritada. - Que só porque nos beijamos, que eu contei para você um momento doloroso da minha vida e chorei em seu peito, nos tornamos melhores amigos? Um casal?
-Pensei que significava que você começou a confiar em mim. Que viu que não vou atirar em você se me der as contas, pensei que tínhamos nos entendido.
-Pensou que só porque me escutou e foi atencioso comigo que as coisas iriam mudar? - perguntei numa risada sem humor. - Eu não sou como as garotas que você esta acostumado a se relacionar, Carter. Não sou uma garotinha que se encanta fácil e se deixa levar por qualquer conversa e elogio.
-Eu sei que você não é como elas. Sei muito bem disso desde a primeira vez que nos encontramos.
Desencostei da minha mesa ainda com os olhos fixos nos seus, ele demonstrava a verdade no que falava, mas eu também sabia perfeitamente que ele era tão bom em camuflar suas emoções quanto eu.
-Se sabe o que estava esperando? Que depois do que aconteceu eu ficasse esperançosa de que me chamasse para sair e coisa do tipo? - eu olhei para trás chacoalhando a cabeça. - Você é pago para mentir, seu trabalho é de ser um ator premiado, acha mesmo que vou cair tão fácil na sua conversa? Pode querer derruba-los, mas ainda é um Lorde.
Vi o calor deixar seus olhos e agora eles estavam mais frios do que dois icebergs, a raiva cintilava neles.
-Não é tão melhor do que eu para falar, bonequinha. - falou sarcástico. - Em matéria de mentiras você é tão boa quanto eu.
Não me alterei por suas palavras e continuei a encara-lo com firmeza.
-Nesse mundo cruel temos que desenvolver os papeis necessários para sobreviver. - falei com calma.
Carter abriu um sorriso frio.
-Eu também estava naquele beijo, Kyle, posso dizer que significou alguma coisa sim.
-Sim, é necessário duas pessoas para um beijo acontecer. - falei.
-Esta me dizendo que não sentiu nada? - perguntou.
Apesar da expressão neutra seu maxilar estava travado, sei que ele estava se segurando, por trás da fachada de imperturbável estava fervendo de raiva. Se eu senti alguma coisa quando ele me beijou? A resposta ia mais além do que eu sonharia em contar para ele, por eu senti coisas que nem deveria sentir naquele que foi um dos melhores beijos da minha vida.
-Foi bom, eu admito, mais isso não significa que estamos presos um ao outro. Você não me deve explicações e não tenho nada a ver com sua vida, nosso único relacionamento é de trabalho, no qual temos um objetivo em comum, nada mais que isso. Você pode sair, transar e namorar com quantas garotas quiser, para mim isso não faz a mínima diferença desde que não seja dentro da minha empresa ou da minha casa.
Mesmo que estivesse falando essas palavras com calma e frieza, senti uma sensação incomoda no meu peito ao dizê-las. Eu não sou o tipo de pessoa que é muito afetuosa, a não ser com quem é importante para mim, não tenho relacionamentos, uma ficada aqui e ali quando estou afim, apenas nomes e conversas, nada de endereços ou telefones, nenhuma correia que me prenda, sei o que sou e quem eu sou e não quero trazer essa maldição que vem comigo para a vida de mais ninguém. Carter não é melhor do que eu, mas sei que não posso me envolver com alguém como ele, não por suas relações com meus inimigos, mas porque sei que ele pode causar a minha destruição.
-Então é assim? - perguntou.
-Pensei que já tivesse deixado isso bem claro.
Seus olhos azuis se tornaram vazios e a uma expressão dura tomou seu rosto, ele vestiu sua mascara, talvez não esteja acostumado a rejeição, mas comigo é melhor se acostumar, nem meus pais conseguiam me dobrar, não é ele que vai conseguir isso fácil. Eu podia ver ali enquanto encarava seus olhos tudo que passaria despercebido para qualquer outra pessoa, a tensão entre nós é quase palpável, uma disputa silenciosa de quem realmente tem o total controle da situação.
-Tudo bem então.
-Se esta tudo resolvido pode se retirar da minha sala que tenho trabalho a fazer.
Ele olhou para mim mais uma vez quase como se quisesse dizer alguma coisa, mas pareceu que pensou melhor e saiu da minha sala batendo com força a porta atrás de si. Assim que estava fora de vista me joguei na minha cadeira e com as mãos na cabeça soltei um grunhido de raiva e frustração, porque eu não podia ter um dia normal como o de qualquer outra pessoa? Apenas um exaustivo dia de trabalho onde a única coisa que se deseja é chegar logo em casa e ficar sem fazer nada. Não importa o quanto as pessoas falem que suas vidas são entediantes, elas não sabem o quanto tem que ser gratas por isso. Fiquei um tempo recostada na cadeira me acalmando, eu precisava logo reassumir o controle sobre toda essa louca situação ou tudo iria pelos ares, trabalhei muito duro para chegar onde estou e não posso deixar tudo se perder por uma coisa dessas. Respirei fundo e peguei o telefone, era melhor resolver tudo isso logo, apertei o número da recepção e esperei atender.
-Na minha sala, agora. - foi tudo que disse antes de desligar.

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Nota da autora:

Geeeeeeente... Finalmente chegamos a 1k 👏👏👏👏👏 🎊🎉🎊🎉🎉🎉🎉 Eu nem acredito nisso, estou muito feliz. Vi ontem a noite e queria comemorar, mas tava todo mundo dormindo.
Quero agradecer as meninas do Whats pelo apoio e a vocês também, porque sem vocês eu não teria chegado até aqui... Obrigado.
Em comemoração resolvi postar esse cap, vocês merecem. Leiam, votem, comentem, não me xinguem e divulguem.

Espero que gostem.

Boa Leitura!

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora