Merry Christmas

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*Conto de Natal de Atração Sombria*

Eu costumava achar que o natal era uma época mágica. Não porque acreditasse mesmo em magia, papai noel ou algo do tipo, mas porque as pessoas e até mesmo a natureza tornavam essa data um dia especial. Poderia ser apenas mais um dia no ano, dentre tantas datas festivas, mas tinha um significado diferente para cada pessoa. Eu entendia quem evitava essas festas melhor do que ninguém, o porque parecia não valer a pena festejar algo no qual as pessoas mais importantes não estariam. Mas depois de um bom tempo me perguntando porque eu continuava viva e sentindo pena de mim mesma, percebi que o natal não era apenas uma festa que devia ser comemorada por presentes, por uma data ou uma festa. Não era uma comemoração apenas para mim. Era o simbolismo de mais um ano que já tinha passado, das pessoas que tinham feito parte da minha vida, que tinham lutado para que eu tivesse uma vida. Essa data simbolizava que minha família continuava viva através de mim.

Eu adorava o natal quando era criança porque era a única data que meu pai podia passar em casa com a gente sem ser chamado para nada. Essa era uma data sagrada para ele e ninguém ousava interferir nisso. Quando perguntei porque ele gostava tanto, ele tinha me levado para dar uma volta na cidade e explicado que era nessas pequenas ocasiões especiais que a vida realmente brilhava nas pessoas, fosse por qualquer sentimento, seja bom ou mal, eram nesses dias que você podia ver pelo menos parte da verdadeira natureza das pessoas.
Eu lembrava que não queria comemorar o primeiro natal que passei sem eles, mas eu me esforcei por Jason. A data favorita de James, o seu irmão, era o natal. Ele adorava brincar na neve e sempre fazia questão de participar de todo o processo de decoração da casa, contagiando qualquer um que convivesse com ele com sua euforia. Ele fazia tudo se tornar realmente mágico. Jason prometeu em nome dele que jamais deixaria de comemorar o natal e que se esforçaria todos os anos para fazer uma festa cada vez melhor, porque sabia que o pequeno iria adorar isso.

Eu não podia evitar de me sentir um pouco nostálgica e sentimental nessa época, talvez fosse por isso que eu tivesse passado quase uma hora rodando pela cidade olhando as decorações. Eu adorava observar a criatividade dos moradores e comerciantes para suas decorações natalinas, gostava das luzes coloridas espalhadas por toda a cidade e da gigantesca árvore de natal que ficava bem no centro da cidade com uma grande estrela que iluminaria até a noite mais escura. Também adorava assistir a neve cair enquanto tomava uma boa caneca de chocolate quente, o que tinha se tornado basicamente minha tradição. Eu gostava de ver o movimento na cidade, isso me acalmava.
Todos os anos Samira nos separava em tarefas especificas para a ceia. Eu e Adam erámos responsáveis pelo jantar, ela cuidava da decoração, Jason da árvore e Derek da sobremesa, o que antes também era uma tarefa de Morgan. Conforme os anos foram passando nossa roda foi aumentando e eu amava cada momento que passava com aquela turma. Eles faziam a família parecer completa novamente. Mas esse seria nosso primeiro ano sem Morgan e eu não sabia exatamente como as coisas poderiam ser.
Íamos fazer a ceia no apartamento de Adam esse ano. Ele dizia que era para ser como uma despedida de seu antigo lar já que no próximo ano ele e Samira estariam na nova casa dos dois que ele já tinha comprado a alguns meses atrás e estava sendo decorada. Achei uma despedida e o indicio de um novo começo uma boa ideia e por isso nós dois tínhamos passado a manhã e boa parte da tarde sendo escravos em sua cozinha industrial. Por várias vezes Samira dizia que ia apenas vistoriar como iam as coisas, mas isso era apenas desculpa para ela beliscar uma comida e outra. Íamos ser em mais pessoas esse ano e mesmo que algumas que eu quisesse que estivessem comigo naquela noite não pudessem comparecer, eu estava animada.

Minha primeira parada antes de voltar para o apartamento de Adam era a casa de Hazel. Ela passaria uma semana na casa da mãe e eu tinha que pelo menos correr para dar um beijo nela e nos meus pestinhas, era o mínimo que eu podia fazer. Fiquei olhando enquanto ela prendia o cinto de Catharina e Jordan, o segurança pessoal deles, prendia o de Patrick e verificava se estava tudo no lugar. Apenas Axel continuava do lado de fora e parado ao meu lado, os olhos grandes e cinzentos turvos de lágrimas.

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora