"Derramando o combustível, atiçando o fogo
Quebrando o hábito e derretendo as correntes
Abraçando o medo, perseguindo a luta
O brilho do fogo irá ascender à noite
As pontes estão queimando, o calor está em meu rosto
Fazendo do passado um lugar inacessível...".
Point Of No Return – Starset.
Vinte minutos pelos atalhos certos e estávamos em frente ao Roxers, podíamos ter entrado direto, mas como Jason tinha combinado com Anika e já que ela nunca tinha ido ali, estaria nos esperando na entrada. O Roxers nada mais era do que uma antiga pista de corrida fora dos limites da cidade, costumava ser o local de grandes e importantes corridas de cards, mas depois de um tempo e com uma verba melhor, uma nova pista tinha sido construída e a antiga abandonada. Por amar corridas e os frequentes problemas que os pegas de rua enfrentavam com a polícia, um rico empresário, Andrew Roxers havia comprado a antiga pista e a reformado completamente, tornando o lugar permanente de corrida dos melhores pilotos da cidade. Eu ainda não sabia como ele tinha resolvido as coisas com a polícia, mas eles nunca iam incomodar ali.
Mas Andrew também era esperto, mesmo entre os belos carros, dinheiro, apostas e as belas mulheres que sempre perambulavam por ali, haviam regras a serem seguidas para poder entrar naquela pista, os brutos seguranças que cuidavam do lugar sempre gostavam de deixar isso bem claro. Andrew era da elite da cidade, mas fazia questão de manter o controle do pé que tinha no submundo das corridas. Descemos do carro perto da entrada e não foi difícil encontrar Anika, ela basicamente se destacava ao lado da enorme fila de pessoa impacientes que esperavam ansiosas para entrar.
Ela vestia uma saia de couro curta e plissada, usava botas de cano curto e salto grosso, semelhantes a que eu a tinha visto usar mais cedo, uma blusa bege de mangas longas e que ficava um pouco larga em seu corpo, era um pouco caída em seu ombro e a maneira como a tinha arrumado na frente, deixava com que ficasse um pouco mais longa atrás. Sua maquiagem era forte, destacando os olhos verdes e o batom vermelho, um coisa que ela mesmo tinha me falado que era sua marca, estava desenhando seus lábios. Seus longos cabelos estavam soltos e... Ruivos? Não aqueles vermelhos que as pessoas dizem ser ruivo, mas aquele tom alaranjado que realmente pertence as ruivas. Com seu tom de pele e o cabelo já naturalmente de uma cor semelhante, Anika parecia uma ruiva natural, o que os cachos poderosos que tinha feito apenas deixavam mais evidentes.
—O cabelo dela ficou maravilhoso. – disse Samira ao meu lado.
—Concordo. – falei assentindo.
—Agora vou poder chamar de ruivinha sem que ela fique me batendo. – disse Jason, nos fazendo sorrir.
Anika nos notou assim que nos aproximamos, o que a fez abrir um grande sorriso.
—Então quer dizer que é aqui que vocês se divertem? – perguntou me dando um beijo no rosto.
—Um dos lugares pelo menos. – falei.
Jason deu um beijo rápido no rosto dela e se virou para Sam.
—Anika, essa é Samira Castilho, a outra pirralha da minha vida. – apresentou.
Sam estreitou os olhos para ele de modo ameaçador.
—Até onde sei são vocês que são os meus pirralhos, já que sou a mais velha. – falou.
—E você não cansa de me lembrar disso, vovó.
—Vou mostrar o vovó quando chutar as suas bolas e deixar você chorando de dor. – falou sorrindo friamente.
—Vocês me amam mesmo. – falou ele chacoalhando. – Só faltava você ameaçar chutar as minhas bolas hoje.
—É um prazer finalmente conhece-la, Samira. – falou Anika dando um beijo no rosto de Sam. – Jason falou muito de você.
—Digo o mesmo. – falou Sam. – E espero, para o bem da vida dele, que não tenha dito nada de mal.
Jay deu alguns passos para longe de Sam e se aproximou de mim.
—Acho melhor eu entrar logo porque tenho uma corrida pra participar. – falou. – E não estou nada a fim de ser partido ao meio por uma loira e uma ruiva.
—Acho que é uma boa ideia. – falei dando um tapinha em seu ombro.
Jay sorriu e deu um beijo em meu rosto.
—Torçam por mim. – falou.
—A gente sempre torce. – falou Sam sorrindo.
—Tome cuidado. – falou Anika.
Jason deu uma piscadela para nós três e voltou para o carro fazendo um sinal para um dos seguranças fortões que estavam na entrada. Ele era careca, o rosto com apenas uma sombra de barba e seus braços eram da grossura das minhas cochas, se vestia todo de preto e apenas um olhar severo seu poderia fazer alguém se encolher. Pedro era um segurança em todo o seu potencial. Assim que nos viu se aproximar, um sorriso quase discreto se abriu em seu rosto.
—Boa noite, Pedro. – falei.
—Kyle, Samira, que bom vê-las. – falou com sua voz que mais parecia um trovão. – Quem é a amiga de vocês?
—Essa é Anika. – falou Sam abrindo um enorme sorriso. – É primeira vez dela aqui.
Samira conhecia Pedro desde o ensino médio, então mesmo que não fossemos ali várias vezes ao longo dos anos, ele nos deixaria entrar de qualquer maneira. Samira era boa em manter contatos espalhados por toda cidade, e depois dizia que eu é que era a sociável.
—Então espero que se divirta, Anika. – falou ele.
Pedro fez sinal para seu colega e liberou nossa passagem, o que resultou em alguns resmungos do pessoal que estava esperando na fila.
—Obrigado, Pedro.
Com um sorriso da nova ruiva, entramos na pista. Dos corredores já era possível ouvir os gritos animados do pessoal, as paredes cinzas eram um pouco deprimentes, mas logo os holofotes da entrada das arquibancadas já explodiam em nossas vistas. A pista dupla era circular e as arquibancadas já estavam se enchendo com pequenas rodas por todos os lados, os boxes já estavam ocupados pelos corredores e suas respectivas equipes nos preparativos das próximas corridas, alguns vendedores andavam pelas fileiras enquanto torcedores gritavam empolgados para os corredores que estavam disputando. Ao longe era possível ver uma área VIP onde os apostadores mais altos geralmente ficavam, alguns até mesmo eram patrocinadores de corrida profissionais e gostavam de as vezes aparecerem e exibir seus corredores.
—Esse lugar é incrível! – disse Anika com os olhos brilhando.
—Bem melhor do que alguns anos atrás, para ser sincera. – falei. – Andrew fez um belo trabalho por aqui. Foi inteligente escolher Jay para o projeto.
Anika se voltou para mim de olhos arregalados.
—Foi Jason quem trabalhou na reforma? – perguntou espantada. – Soube que nossa empresa tinha sido contrata para um trabalho em algo assim, mas não sabia que ele tinha participado do projeto.
—Jason já participava das corridas de Andrew quando elas ainda eram nas ruas. – falou Sam arrumando seu boné. – Quando Andrew comprou esse lugar caindo aos pedaços, Jay estava no meio do seu primeiro ano na faculdade e tinha começado a pouco tempo na empresa. Como já se conheciam, Andrew fez questão de exigir que Jason trabalhasse no projeto, o que foi uma grande amostra para seu avô, do talento que nosso garoto tem.
—Uau. – falou Anika. – Agora sei porque meu avô se gabava tanto dele, isso aqui ficou incrível.
Escutamos um disparo na pista enquanto um carro atravessava a linha de chegada, um belíssimos Ford Mustang G-T prata com listras azuis que ronronava como um felino depois de abater sua presa. A torcida delirava enquanto ele voltava para seu box, o que indicava que a próxima corrida, que provavelmente era a de Jason, estava próxima.
—Acho que alguém aqui tem uma queda por carros. – comentou Anika.
Estreitei meus olhos para ela enquanto sorria.
—Acho que não sou a única. – falei. – Vi como seus olhos brilharam quando olhou para a pista.
—Sei apreciar um boa máquina. – falou dando de ombros. – Já participaram de alguma das corridas?
—Quando estava na faculdade. – falou Samira sorrindo. – Eu tinha tido uma semana horrível de provas finais e estava muito estressada. Como uma ideia para aliviar os ânimos, um amigo nos trouxe para um dos pegas. Fiquei empatada com um playboyzinho que não gostou muito disso.
Samira fez uma careta ao falar do cara e eu sabia muito bem porque, tinha escutado ela xingar tanto ele que eu própria já quis quebrar a cara do infeliz.
—E você Kyle?
—No meu aniversário de dezenove anos. – falei sorrindo com nostalgia. – Eu quase ganhei do Jason quando estava dirigindo uma linda Maserati vermelha de um amigo. Acho que aquele foi o dia que ele ficou mais estressado comigo, nunca vi ele tão perto de arrancar os cabelos.
Nós três rimos sabendo exatamente como nosso amigo estressado era.
—Gatinhas, vocês estão atrapalhando o caminho. – falou uma voz atrás de nós.
Olhei por cima do meu ombro e vi dois caras parados atrás de nós. Um era alto, de pele clara, com cabelos escuros cortados bem curtos e uma barba rala, seus olhos claros era divertidos enquanto nos encarava. Seu corpo era musculoso, um pouco bombado demais talvez. O seu companheiro e, o que eu presumia que tinha falado, era mais baixo e seus músculos não eram tão proeminentes, seus cabelos eram um pouco cumpridos e cor de areia, seu rosto tinha traços fortes e seus olhos escuros, mesmo que fossem bonitos, não me passavam nenhuma sensação agradável.
—Eu gostaria de me espremer com essa morena pelos corredores. – falou o mais alto lambendo os lábios enquanto me olhava dos pés à cabeça. – Ela faz a ideia ser tentadora.
—Não sei não. – falou o mais baixo. – A loira e a ruiva são apetitosas.
Foi como se nós três estivéssemos conectadas. Vi quando Samira estreitou os olhos, Anika olhou com frieza para os homens e um sorriso cruel se formou em meus lábios.
—Tentadora é a ideia que eu tive. – falei sorrindo. – De deixar você chorando feito um bebê nesse chão de tanta dor que vai estar depois que eu lhe ensinar bons modos.
O sorriso do homem sumiu e ele me lançou um olhar raivoso, que ele poderia pensar que me intimidou, mas que não fez nem cócegas.
—E que eu saiba não sou comida para ser apetitosa. – falou Anika. – Então se acha que é assim que se conquista uma mulher, acho melhor voltar para a escolinha de onde você saiu e rever a matéria.
—Não sei nem porque vocês estão perdendo tempo em falar com esses dois imbecis. – falou Samira. – Com cantadas tão miseráveis assim eles nem mereciam ouvir as nossas vozes.
O baixinho cerrou os dentes e estava prestes a responder, mas foi interrompido.
—Acho que as damas deixaram claro que não estão interessadas, senhores. – falou uma voz com sotaque britânico que eu conhecia muito bem. – Então, já que a dispensa está bem evidente, sugiro que sigam o seu caminho e não passem mais vergonha.
Os dois homens se viraram para olhar o recém chegado e não pude ouvir muito bem o que disseram entre si, em uma voz bem baixa, mas o grandão engoliu em seco olhando de lado para mim. Abri um sorrisinho maldoso para ele e vi seu rosto ficar um pouco pálido. Seja o que for que Liam tinha dito para eles, fez com que até o grandão tremesse nas bases. Fiquei segurando o riso enquanto olhava os dois caras se afastarem completamente sem jeito, o grandão ainda me olhando com cautela. Era uma coisa até engraçada, eu não era tão assustadora assim.
—Sempre podemos contar com você para estragar uma boa diversão, não é Liam? – perguntou Samira de braços cruzados e fingindo estar brava.
—Ah, Loira, seu eu não soubesse que me ama, ficaria magoado. – falou ele sorrindo enquanto se aproximava.
—Ingles convencido. – chiou ela.
—Sei que sempre fui o mais atraente. – falou. – Mas você preferiu a chatice e os olhos verdes de Adam aos meus encantos.
Samira fez uma careta, mas depois sorriu enquanto pulava nos braços de Liam. Os dois amavam implicar um com o outro desde que se conheceram, a relação deles era quase como a de Derek e a minha, queriam se matar a maior parte do tempo, mas eram extremamente leais um ao outro. Era possível que Liam fosse o único homem além de Jason, que Adam não tinha ciúme que ficasse perto de Sam. Liam jamais tinha olhado de outro modo que não fosse como um irmão para Samira e se posso dizer, a loira amava ser paparicada por seu melhor amigo.
Sorri enquanto eles se afastavam e vi Anika respirar fundo, os olhos fixos em Liam. Só então fui realmente olhar para meu amigo. Ele estava com uma calça caqui, tênis e uma camiseta preta com gola polo que se moldava muito bem ao seu peitoral, seus cabelos estavam um pouco úmidos e bagunçados, o sorriso travesso, sua marca registrada, se desenhava em seus lábios e eu tinha que dizer que dava um ar até sexy a ele.
—Kyle, não precisa me olhar assim. – falou o abusado sorrindo de lado para mim. – Se quer esse corpinho pra você, basta apenas me chamar pra sair.
—Olha só que rapaz mais fácil. – brinquei.
—Apenas facilito as coisas para você, amor. – falou enquanto me dava um beijo no rosto e passava o braço ao redor dos meus ombros.
Assim que nos viramos e vimos Anika nos encarando, o sorriso de Liam sumiu e seu rosto ficou sério. Ele bem que tentou, mas eu vi um lampejo de dor em seus olhos ao olhar para ela.
—Olá Anika. – falou impassível.
—Oi Liam. – respondeu ela.
Troquei um olhar com Samira e seu sorriso que estava grande antes, a espera de zoar eternamente com a cara de Liam por vê-lo apaixonado, diminui um pouco ao notar a mesma coisa que eu. Samira podia gostar de curtir e pagar na mesma moeda cada zoação, mas quando se tratava do sofrimento de algum amigo, ela se tornava uma verdadeira mãe onça. Eu não sabia o que tinha acontecido do episódio do restaurante até agora entre eles, mas apenas olhando para o rosto sério de Liam e o desconforto de Anika, eu podia ver que as coisas não tinham ido bem.
—Vamos lá pro nosso lugar? – perguntou Sam tentando quebrar o clima. – O Jason vai ser o próximo a correr e vai dar chilique se não estivermos lá.
Liam olhou para ela e abriu um pequeno sorriso.
—Ele sempre dá chilique. – falou.
Liam se afastou de mim e foi para perto de Sam quando ela se aproximou, passando o braço ao redor dos ombros dela enquanto ela abraçava sua cintura.
—Enquanto vamos podemos conversar um pouco. – falou ela. – Já que aparentemente você esqueceu como se usa um celular e não fala comigo a um bom tempo.
Liam sorriu dando um beijo no cabelo de Sam e roubando seu boné.
—Quem sabe se você me alcançar.
Então, agindo como dois malucos, Liam saiu em disparada com Sam logo em seu encalço. O box de Jason ficava a leste de onde estávamos e eu podia vê-lo perfeitamente, já que as arquibancadas para aquele lado estavam um pouco vazias. Isso também me permitiu ver quando Samira alcançou Liam e se empoleirou em suas costas enquanto os dois riam. Vê-los daquele jeito me fez sentir muita saudade de Morgan, nossas brincadeiras costumavam ser do mesmo jeito. Sorrindo, olhei para o lado e vi Anika olhando para os dois com uma expressão estranha, uma mistura de ciúmes com tristeza.
—Sabe, posso ser meio suspeita para falar porque sou amiga dele, mas Liam é um bom homem. – falei chamando sua atenção.
Ela se voltou para com a testa franzida.
—Eu...
—Apenas uma pessoa muito lerda não veria o que está rolando, Any, porque até os cegos veem isso. – falei. – O beijo no elevador, a crise no restaurante, não tente me enganar negando o obvio.
Anika suspirou parecendo cansada e passou a mão no cabelo.
—Eu sei que ele é um cara legal. – falou ela. – Eu sempre vejo o modo como ele acalma o Jason, como é sempre simpático com todos os funcionários da empresa, mesmo os de cargo mais baixo. Meu Deus, acho que ele é bom até com as formigas. Mesmo que eu queria negar até a morte, ele é um dos homens mais incríveis que eu já conheci.
—Então porque esse clima entre vocês? – perguntei arqueando a sobrancelha.
Ela olhou para o lado e estralou os dedos parecendo incomodada.
—Nós meios que brigamos feio depois que saímos do restaurante. – admitiu. – E eu posso ter falado algumas coisas meio pesadas para ele.
—Traduzindo, ele te deixou irritada, você estourou e acabou magoando ele. – ela assentiu. – E o que você falou para ele?
—Que se ele gosta de ser tão idiota, deveria voltar a ser o cachorrinho da ex dele.
Eu congelei por um momento sentindo meu queixo cair.
—Você disse o que? – perguntei alterando um pouco minha voz e atraindo a atenção de quem estava perto.
O rosto de Anika ficou vermelho e ela segurou no meu braço, começando a me levar para o lado errado das arquibancadas quando apontei para o lado certo. Começamos a caminhar na direção que Liam e Samira tinham ido enquanto ela parecia se enterrar na vergonha.
—Eu sei, eu falei merda. – admitiu. – Eu estava com a cabeça quente e nem pensei no que estava dizendo.
Por estar nervosa, seu sotaque estava mais grave e as palavras saiam um pouco emboladas, o que tornava um pouco difícil entender com perfeição o que ela falava. Eu conhecia bem a história de Liam, sabia perfeitamente qual era o principal motivo que o tinha feito sair de Londres.
—Você sabe da história dele? – perguntei fazendo ela parar. – O porque dele evitar voltar para Londres?
Ela assentiu novamente.
—A primeira parada da nossa viagem foi lá. – falou. – Jantamos com os pais dele e no outro dia, quando estávamos tomando café em um restaurante ao lado do nosso hotel, a ex dele apareceu e quase aprontou um escândalo. Nós dois brigamos e acho que ficamos uns dois dias sem nos falar direito depois daquilo, mas ele me contou que tinha sido por causa dela e do rompimento deles.
—E é por isso que você é hesitante com ele? – perguntei juntando as peças. – Por causa do que ela falou?
Anika olhou para os lados novamente, a mente um pouco distante enquanto se fixava nos carros.
—Eu não ligo para o que os outros dizem, mas por mais que eu evite, as palavras dela continuam voltando para mim.
—Suzanne é mesmo uma cobra da pior espécie. – falei fechando os punhos.
—Você a conhece? – perguntou surpresa.
Assenti.
—Ano passado eu, Jason, Samira e Adam fomos passar o natal com ele e a família dele em Londres. – falei olhando para a pista. – Liam sempre foi muito ligado a família e mesmo que adore essa cidade e tudo que está construindo aqui, sei que sente falta de lá. Estávamos no jantar da ceia quando Suzanne apareceu e começou a fazer um show, disse que Liam a havia abandonado e que por culpa dele ela tinha perdido o bebê que ela estava esperando, dizendo que o estresse do termino tinha feito com ela abortasse o filho deles. – vi os olhos de Anika se arregalarem enquanto seu queixo basicamente caia. – Suzanne tinha traído Liam com o melhor amigo dele no aniversário de namoro deles e, mesmo que soubesse que estava errada, fazia questão de dizer que a culpa era de Liam. Ela sempre soube que o sonho dele é ser pai e jogou aquele aborto na cara dele. Acho que nunca vou esquecer a expressão que vi no rosto de Liam, ou no dos pais dele, praticamente vi seu coração se partir na frente dos meus olhos.
Anika engoliu em seco.
—E... E o filho era mesmo dele? – perguntou.
Chacoalhei a cabeça.
—Não. – falei. – Depois que ela armou aquele show, eu a arrastei para fora da casa e vamos dizer que... Tivemos uma conversa bem esclarecedora. Fiz com que ela voltasse e admitisse toda a verdade, que o filho na verdade era do antigo amigo dele e que ela tinha perdido a criança por causa de uma noite de bebedeira. Fiz com que pedisse desculpas aos pais de Liam e principalmente para ele, ou bem... – cerrei os punhos só de lembrar. – Ela não fez essa parte muito bem. Samira deu uma bronca em Liam, dizendo que ele era trouxa por acreditar nas palavras de Suzanne e depois nela por ser uma completa desgraça para o mundo. Ela deu uma bela lição de moral e depois mandou a Suzanne sumir da vida do Liam, e que, se uma ordem judicial não resolvesse as coisas, uma surra resolveria. Naquele dia até eu fiquei com medo dela e, pelo que você me falou, parece que Suzanne não levou a ameaça a sério, o que é uma grande idiotice.
Ficamos um momento em silêncio e deixei que Anika absorvesse a história, seu rosto parecia um pouco pálido e eu via em seus olhos as diversas emoções que a tomavam com aquela história.
—Escute um conselho. – falei. – Se não quiser ficar com ele, se baseie em suas próprias constatações, não nas palavras de uma mulher hipócrita e sem moral alguma que nem sabe admitir que foi uma verdadeira vadia. Sei que é uma mulher de pensamento forte e se for tão parecida comigo quanto Jason diz, vai pensar mais nos contras do que nos pros. Liam é uma boa pessoa e merece uma chance, nem que seja para tentar. Ele merece uma mulher de respeito como você.
Caminhamos por um tempo em silêncio e fiquei pelo canto de olho observando Anika perdida em pensamentos. Liam e Samira já estavam sentados em nossos lugares reservados, um trecho fechado de arquibancada acima do box de Jason. Eles riam e pareciam bem divertidos enquanto assistiam a corrida.
—Você está certa. – falou Anika assim que chegamos. – Eu tenho que parar de condena-lo antes mesmo de tentar alguma coisa.
Sorri satisfeita para ela e troquei um olhar com Samira que estava nos observando. Ficamos nos encarando por um tempo e apenas pelo seu olhar, pude ver que ela também tinha conversando com Liam. Sorrimos uma para a outra em entendimento mutuo e me joguei em um dos lugares ao lado dela. Assim que Anika se sentou, Liam se levantou parecendo um pouco inquieto.
—Eu vou... – falou ele olhando em volta. – Vou comprar umas bebidas para a gente.
Sem esperar por respostas, ele seguiu pelo caminho que tínhamos percorrido poucos minutos antes. Samira olhou para Anika com o rosto sério.
—Se quer uma chance a hora é essa. – falou ela.
—É tudo ou nada, Any. – falei.
Ele fechou os olhos por um momento, respirou fundo xingando algo em alemão e se levantou determinada, seguindo em passos rápidos e decididos pelo mesmo caminho que Liam tinha desaparecido. Olhei de lado para Sam que suspirou cansada.
—Vocês são muito complicados. – falou ela de olhos fechados. – Eu sou diretora executiva de uma empresa, não uma terapeuta ou conselheira amorosa, mesmo que eu seja boa fazendo isso.
Franzi a testa e estava pronta para perguntar a quem ela se referia no "vocês" quando um rapaz parou ao meu lado parecendo um pouco sem graça. Ele devia ter uns dezoito anos, mas com os cabelos um pouco compridos caindo em seus olhos e com o uniforme, parecia muito mais novo que isso.
—Posso ajudar? – perguntei arqueando a sobrancelha.
—Mandaram isso para a senhorita. – falou.
Franzia ainda mais a testa enquanto ele me entregava um chaveiro, que tinha a imagem de um Mustang prata e um pequeno bilhete.
—Quem mandou isso? – perguntei.
—O piloto do Mustang. – falou.
Levantei meu olhar e vi que o box do Mustang não ficava muito longe do de Jason, eles estavam fazendo alguns reparos e a única coisa que pude ver do piloto que entrou no carro rapidamente, foram familiares e revoltosos cabelos castanhos claros.
—Obrigado. – falei ao rapaz que assentiu e saiu logo em seguida.
—O que diz ai? – perguntou Samira olhando o chaveiro com curiosidade.
Abri o pequeno papel branco que continha apenas três palavras e uma letra como assinatura, o que não me explicou muita coisa.Torça por mim.
M.
Nota da autora:
Olá pessoal, desculpe não ter postado semana passada, mas eu não estava muito bem, então... Desculpe. Então, olha aqui mais um cap prontinho para vocês.
No próximo cap vai ter um personagem novo e ele já começou a se mostrar e ele vai mexer com muita coisa. Votem, comentem, divulguem e obrigado por toda a dedicação que tem dado a está história e toda a compreensão que tem tido comigo.
Espero que gostem.Boa Leitura!
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Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1
RomanceObra registrada, plágio é crime! Em um mundo movido pelo poder e pelas mentiras, nem mesmo um inocente está salvo das sombras que seu sangue carrega. Isso é algo que Kylie Moore sabe melhor do que ninguém. Após perder toda sua família em um horrível...