Capítulo 28

566 44 75
                                    

"Continue forte, se mantenha em movimento

Não podemos deixar a escuridão nos cegar

Siga em frente, nós seremos aqueles

Que puxaram as estrelas até nós...".

Same Old War - Our Last Night.


Eu estava jogada no meu sofá comendo brigadeiro enquanto assistia uma pequena maratona do meu seriado favorito. Fazia uma hora que Jason tinha me deixado em casa e eu queria relaxar mais um pouco antes de começar a mexer em algumas coisas de trabalho, eu geralmente não tinha muito tempo livre, então queria aproveitar um pouquinho. Nosso almoço tinha sido agradável, embora tivéssemos ficado só nós dois já que nossos amigos tinham, ou gritado um com o outro até ficarem sem voz ou paciência, ou se pegado em algum lugar entre o restaurante e o escritório. O homem loiro, Andrew, ainda parou em nossa mesa para perguntar o que tinha acontecido porque ao que parecia, minha explicação não tinha sido o suficiente. Ele era um antigo ficante de Anika e não pareceu muito feliz quando dissemos que ela estava "namorando" o que, levando em consideração a cena que ela e Liam tinham feito, não deixava de ser uma meia verdade.
Coloquei a panela de brigadeiro de lado e me espreguicei, sentindo meu corpo todo reclamar dos acontecimentos da noite anterior. Eu tinha trocado a calça por um short e a blusa de mangas por uma regata, o dia parecia ter esquentado muito do meio dia para tarde. Desliguei a TV, levei a panela até a cozinha e a enchi de água, peguei a garrafa de café e minha caneca e fui para meu escritório, eu podia não ter ido para o trabalho, mas isso não significava que eu iria ficar parada. Meu escritório era uma das minhas partes favoritas do apartamento, Jason tinha feito uma reforma nele em menos de dois meses e eu estava louca para que ele fizesse o mesmo no do estúdio. O lugar estava perfeito e do jeito que eu sempre sonhei.
Grandes janelas davam de vista para o parque que tinha atrás do prédio e mais à frente o rio que cortava a cidade, o que me rendia boas fotos tanto no amanhecer quando no pôr-do-sol. As paredes eram pintadas de uma tonalidade linda de azul turquesa e fiz questão de pedir para que ele fizesse um desenho na que era mais livre, que ficava de frente para minha mesa. Era o desenho de uma menina debaixo de uma árvore segurando uma câmera enquanto várias fotos de espalhavam pelo ar, o que me deu a ideia de espalhar pequenos quadros com minhas fotos favoritas na parede, como que destacando as principais fotos da garotada do desenho. Ao lado dessa parede havia uma porta que dava para minha sala de treino e bem abaixo da janela um sofá de couro branco com almofadas pretas, vermelhas e mescladas, o par do que estava no meu quarto. Era um ótimo lugar para ler.
A parede direita na verdade era uma enorme estante que estava recheada de livros de cima a baixo. Alguns porta-retratos e objetos que eu tinha comprado em viagens ou ganhado ganhavam seu espacinho, mas ali eu deixava exclusivamente para os livros. Minha mesa ficava logo na frente, a cadeira de couro de costas para a estante. Eu mantinha minha mesa organizada, havia meu computador de mesa e o notebook que eu usava, porta canetas cheios das mais várias espécies de lápis, canetas e outros apetrechos, meu grampeador e uma caixinha cheia de blocos de notas. Minhas gavetas era organizadas, mas eu precisava fazer uma limpa novamente porque sabia que estavam abarrotadas de papeis. No centro do escritório ficava a mesa de vidro onde eu geralmente trabalhava, ainda havia algumas fotos espalhadas do álbum que eu estava montando e eu poderia trabalhar nisso hoje. Peguei o livro preto que estava encima da minha mesa e sentei em minha cadeira, eu o tinha deixado ali algumas noites atrás e tinha esquecido de colocar de volta na gaveta.
Fiquei foleando ele e vendo tudo que eu tinha montado ali. As fotos e informações dos principais aliados de Hector, alguns de seus lacaios e até mesmo alguns nômades. Não estava completo, mas eu tinha o prazer de dizer de que, dos setenta que havia ali, eu já tinha marcado um X na foto de trinta. A foto da última página era em branco com um ponto de interrogação e as poucas informações que eu tinha conseguido de Hector. O desgraçado era escorregadio e arisco, mas eu não ia desistir.
Eu tinha aprendido muitas coisas nesses cinco anos e tive tempo para avaliar tudo que tinha me acontecido. O medo não é uma fraqueza, a dor não é um impedimento e a solidão não é uma questão de escolha. Eu tinha entendido o quanto a vingança podia ser fria e cruel, porque o que minha família tinha passado foi o efeito mais brutal dela. Eu tive medo, supero a dor a cada dia e convivo com a solidão. E enquanto Hector tenta de todas as maneiras acabar com tudo que tenho na vida, eu apenas espero o momento em que eu vou sentar e apreciar o sabor da minha vingança.

Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora