Legado de Sangue - Irmandade - Livro 1

Conto: Encontro de Impacto

*Sônia e Derek*

"Você sabe que eu vou pegar você
O que for preciso para chegar lá
Não, não vou deixar você
Como todo mundo faz

Esqueça seus amigos, eles não ligam pra onde vamos
Se eles o fizerem, vamos nos perder numa multidão
Estive procurando por você desde sempre, baby, vamos
Juntos, baby, nós vamos

Neste mundo louco, as escolhas que tenho são poucas
Ou você virá comigo ou eu irei com você
Porque eu finalmente encontrei, finalmente encontrei você
Você nunca terá que se preocupar se o que digo é verdade
Garota, tenho procurado você
E, quando a vi, eu soube
Que eu finalmente a havia encontrado
Finalmente encontrei você

Estou indo pegar você
Temos uma ligação, é verdade
Porque, garota, não vou largar de mão
Vou fazer você se sentir bem, oh sim."

Finally Found You – Enrique Iglesias.

A vista do vigésimo andar era de tirar o fôlego. Pelas enormes janelas de vidro que iam o chão ao teto, eu tinha uma visão perfeita de toda a cidade. Podia ver o tráfego enlouquecido nas ruas a baixo, a falatório nos comércios, o prédio onde eu tinha conseguido alugar um apartamento barato, de onde eu logo teria que sair, a cafeteria onde eu ia todas as manhãs, a boate para onde eu ia quase todos os finais de semana e outros lugares que eu ainda nem conhecia direito. Parada aqui no topo, era fácil entender porque os empresários faziam de tudo para continuar onde estavam. Não era apenas pelo dinheiro e pela vida fácil, aquele glamour e o conforto, havia uma sensação de poder e soberania quase viciante ao ver a cidade daquela altura. Visto dali, todos podiam ser donos do seu próprio pequeno mundo.

Ajeitei meus óculos e olhei para o relógio, fazia quase vinte minutos que a secretária tinha me guiado até esse corredor na frente da sala de reuniões, o que deixou apenas mais gritante a meia hora que cheguei adiantada. Eu não podia evitar, estava ansiosa e precisava desesperadamente de um emprego, ainda mais um que pareceu cair do céu no meu colo. Coisas assim não acontecem todos os dias, ainda mais comigo. O corredor era espaçoso, limpo e incrivelmente silencioso, o piso claro tinha uma boa combinação com a parede que era apenas alguns tons mais escuros, um cinza claro. A cada três metros havia uma vaso com algum tipo de planta que eu não sabia nomear, mas suas folhas verdes davam vida ao ambiente. A única porta no corredor, além daquela que fiquei sabendo ser a dos banheiros, era a de sala de reuniões bem na minha frente, ela era pesada e de uma madeira muito escuro com o trinco dourado. Era um lugar elegante e ao mesmo tempo simples, até mesmo um pouco intimidador, assim como a mulher que tinha me feito vir até aqui.

Fazia uma semana que minha vida parecia estar dando giros e mais giros. Eu estava bem, tinha conseguido um pequeno apartamento sem direito a muitos luxos, mas que eu podia pagar, estava trabalhando de garçonete no café a duas quadras de casa e estava pensando a começar um cursinho, parecia que eu finalmente poderia dar adeus a droga que tinha sido minha vida e recomeçar do jeito que eu quisesse. Mas minha pouca felicidade acabou assim que encontrei meu padrasto na frente do meu prédio, aquele mesmo sorriso debochado, o cheiro forte de bebida e aqueles olhos que sempre me passavam nojo a cada vez que eu olhava. Ele tinha me encontrado pela terceira vez, destruindo tudo que eu tinha conseguido construir. Eu não fiquei parada daquela vez, corri e corri, quase sendo atropelada quando atravessei uma rua menos movimentada sem olhar. Eu nem me lembrava direito do que tinha acontecido, eu tinha fechado os olhos, mas quando os abri novamente, tinha um Jeep preto parado a um metro de distância de mim e uma garota mais ou menos da minha idade praguejando enquanto descia dele.