Não consegui esperar até a data marcada para a primeira postagem. *-*
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Vocês riam de mim por eu ser diferente, eu rio de vocês por serem todos iguais.
(Bob Marley)°•°•°
Rebeka, 7 anos depois
Estava mais do que na hora de eu fazer isso. Sempre sonhei com o dia em que eu poderia encher o tanque do velho Chevette de pintura vermelha enferrujada do meu pai e dirigir em direção a minha liberdade. Longe dele e de suas artimanhas estranhas de provar que me odeia. Ele é um velho bêbado arrogante, miserável e medíocre que sempre arruma um jeito de me culpar pela morte da minha mãe e da minha irmã, Sophia. Bom, acidentes de carros são tão raros quanto morrer engasgado com uma moeda, mas não pude evitar... Eu me culpei por um ano inteiro, não consegui formar nem uma frase durante quatrocentos e quinze dias e perdi a maior parte desses anos me jugando por ser uma assassina e desalmada. Mas agora é outro período na minha vida.
Estou a cinco horas e meia dirigindo em direção a qualquer lugar do mundo longe das inúmeras pessoas que ainda me julgam, longe do meu pai e do calor infernal que é o Alabama. A essa hora eu devia estar no meu trabalho, então quando meu horário acabasse, às seis horas, eu voltaria para casa e faria o jantar para o tosco do meu pai. Estou me perguntando se ele merece que eu ligue e conte sobre minha fuga ou não. Bem, não que ele fosse sentir minha falta, mas é que eu precisava deixar claro que dali para frente ele ficaria sozinho com o alcoolismo e as suas queridas garotas de programa, até que ele não tivesse mais um tostão para quaisquer uma dessas coisas. Não vou me culpar, ele merece muito mais que isso, por todos esses anos que foi um fodido idiota.
"Rud's bar&grill a 1026 km". Suspirei de descontentamento. Eu estou no meio do nada e esse lugar talvez fosse o único por um bom tempo que talvez tivesse alguma área ou uma bebida decente e eu ainda tinha que andar todo esse caminho? Isso certamente era uma droga.
Depois de mais alguns bons minutos dirigindo, meu motor começou a engasgar. Merda. Gasolina, confere. Água, confere. Argh! Antes de sair do Alabama, passei na oficina do Marcos por causa de um problema com o motor. Certamente esse problema ainda existia. Argh! Bati no volante inúmeras vezes quando o carro parou, e respirei fundo, tomando um minuto para me acalmar.
Abri a porta do velho chevette e desci, cuidadosamente. Puxei meus cabelos para cima em um coque. Dobrei as abas do meu shorts jeans e fiz um nó na minha camiseta. Esse sol podia derreter a minha pele de tão forte. Eu só tinha meia garrafinha de água e um pacote de cheetos parcialmente vazio.
Abri a capota do carro e olhei peça por peça. Graças a minha capacidade de ser independente, eu sabia muita coisa sobre mecânica, o que me fez descobrir que meu motor havia batido. Ok, Rebeka, respira. O meu carro estava com o motor batido, porra, onde eu acharia um reboque ou um posto aqui, no meio do nada?!
Peguei a minha bolsa menor com meus pertences mais importantes e bati a porta com toda a força que consegui juntar. E daí que nós não conseguimos pensar de cabeça quente... Literalmente. Eu ia chegar ao Rud's dando o meu jeito, não precisava de um carro caindo aos pedaços.
Comecei a andar. Minha bota era baixa, então me ajudou de alguma forma, mas, Deus! Minha pele estava queimando pelo sol... Bom, e certamente eu não cheguei a meio quilômetro longe do meu carro e já estava com a língua arrastando no chão. Me sentei no canteiro perto de um monte de mato seco e juntei as pernas, colocando a cabeça entre os joelhos. Que maravilha, uma garota de dezenove anos no meio do nada, sozinha e sem comida. Eu sabia me cuidar, mas não era burra o bastante para não saber que eu e meus braços finos não eram mais forte que os de um homem com o dobro do meu peso. Eu não tinha medo, mas não podia deixar de vigiar ao redor.
Já estava sentindo as gotas de suor escorrendo por todo o meu corpo e a minha língua áspera, quando percebi um carro muito, muito próximo. Finalmente! Acho que se eu permanecesse mais cinco minutos em baixo do sol, iria derreter.
Coloquei os braços na frente do meu corpo e observei os vidros sendo abaixados bem devagar Olhei para todo o resto do carro, reconheci como um Maverick. Meu queixo caiu. Era um carro antigo, talvez de 1965... Bom, eu sempre me obriguei a adorar carros clássicos. Ele era tão perfeito...
Voltei a atenção para os vidros, agora abaixados, do carro preto. Uau! Vi um homem maravilhosamente lindo de óculos aviador inclinado sobre seu banco para poder me ver sentada no chão. O carro era merecedor do dono que tinha. --Está perdida? --Perguntou. Seu sotaque era arrastado me fez inclinar os lábios em um mínimo sorriso. Ele devia ser Canadense ou algo assim.
Me levantei deixando para trás o cheetos demasiado fedorento e a meia garrafinha de água e apontei na direção em que tinha vindo.
--Eu estava dirigindo até o Rud's, aí o meu carro quebrou... --Tentei soar gentil com um sorriso. Ele só acenou com a cabeça para frente.
--E você pensou em chegar até lá a pé. --Murmurou. Abri a boca pra falar, mas ele foi mais rápido --Eu vou passar por lá. --Ele tirou os óculos e estreitou seus lindos olhos escuros para mim. Fiquei com falta de ar por ele ser ridiculamente lindo. --Posso te dar uma carona se quiser.
Não sei como, mas meu sorriso cresceu.
--Sim, claro... Obrigada! --Ok, Rebeka, respira... Respira.
Eu nem podia acreditar que ia andar em um carro tão fodastico como esse e ainda mais ao lado de um cara tão lindo como esse. Onde quer que estivessem, Sophia e mamãe, com certeza, olhavam para mim.
Ele destravou a porta para que eu entrasse e eu o fiz. Fiquei embasbacada pelo fato de seu glorioso carro ser também tão luxuoso por dentro. Queria que Sophia estivesse viva para isso. Prendi a respiração e deixei meus pensamentos evaporarem quando um cheiro delicioso de... Hortelã? Que diabo de homem tem cheiro de hortelã? Bom, esse cheiro me pegou desprevenida.
--Algum... problema? --Perguntou ele um pouco hesitante e, infelizmente, quando abri meus olhos, percebi que estava com eles lacrados desde quando fechei a porta e o pior! Eu estava fazendo barulhos patéticos com a garganta. Sim, eu gemi, mas e daí? Sou feita de carne e osso e sobre tudo, virgem. O que outras virgens fariam no meu lugar seria bem pior, pode apostar.
--Não tomei café da manhã... --menti --Meu estômago está me matando.
--Oh, sim --Disse, com um suspiro que para mim foi muito estranho, e ligou o motor, dando partida no carro.. --Haverá um restaurante a um ou dois quilômetros...
--Nem pensar --interrompi --Você nem bem me estendeu a mão para um enorme favor e eu já estou te obrigando a outro? --Sorri.
--Bom, te dar o que comer não é um favor quando eu também estou morto de fome. --Isso soou muito estranho, mas eu sorri mesmo assim. Mesmo achando que sorrir para um completo estranho também era muito... estranho.
--Então, de onde está vindo?
Eu sempre fui curiosa. Que se foda a boa educação.
Ele franziu a testa, e sem ao menos me olhar, disse.
--Eu gosto do silêncio. Se não se importa, despenso as apresentações.
--Não precisa se sentir desconfortável, cara. Eu me chamo Rebeka.
Estendi a mão, mas é claro que ele ignorou.
Ele franziu a testa e ficou em silêncio. Quando tinha certeza que ele não diria nada, murmurou:
--Certo.
E tudo ficou por isso mesmo.
Pelo menos até os próximos dez minutos. Eu não conseguia segurar a lingua por muito tempo.
--Então, você está viajando a passeio ou...?
Ele soltou o ar pelo nariz.
--Estou a trabalho.
--Oh. --Olhei pela janela e depois para ele --Então agradeço pela carona.
--Você já fez isso a quinze minutos.
--Eu sei. Mas agradeço de novo. Não é todos os dias que alguém desvia sua rota para dar carona a uma desconhecida.
--Eu não mudei meu caminho. Como eu disse, vou passar por lá.
Oh, céus, ele podia ao menos ser mais simpático.
Decidi ficar de boca fechada, afinal, eu mesma sei o quão irritante eu podia ser. Mas era tão deprimente ter alguém ao seu lado e não puder conversar.
Ainda mais um pedaço de homem como ele. Me virei um pouco para poder olhá-lo sem ser pega. Ele tinha uma barba por fazer que o deixava sexy. Seus cabelos eram tão castos quanto a barba. Seu nariz era empinado e bem desenhado. Seus lábios eram finos e convidativos e sua postura dava a impressão de que ele era uma pessoa má. Qualquer um acharia isso, mas eu não. Eu só o achava sexy demais. Seus músculos por baixo da camiseta preta...
Ele pigarreou, como se soubesse que eu o estava reparando. Mas não acredito muito que ele tenha me visto, não com a discrição em que eu estava.
Suspirei. Eu queria fazer perguntas e as vezes era automático eu disparar a falar, e quando percebi, já estava falando.
--Você é corajoso em dar carona para alguém que nunca viu na vida. --ele finalmente me olhou. Uma sobrancelha erguida --Sou inofensiva, eu juro. --Me apressei a dizer, com um pequeno sorriso nos lábios.
--É, eu não duvido. --Ele voltou a olhar para frente --Digo o mesmo de você. Não se deve aceitar caronas por aí.
--Não é como se eu tivesse outra escolha.
Ele riu.
Sorri e olhei pela janela.
--Eu sei me cuidar. Tenho vinte e três anos... --Ele bufou.
--No máximo você deve ter dezoito.
--Dezenove. --Me Ajeitei no banco e peguei um chaveiro de um carro de cima do painel --Eu te disse a minha idade e o meu nome. Porque não me diz o seu?
-Eu não te perguntei, e pare de mexer nas minhas coisas --ele tomou o chaveiro da minha mão e soltou um suspiro nada elegante fazendo um barulho impaciente com os lábios.
--não vai nem me dizer o seu nome?
--Não.
Ele olhou descontraído pelo retrovisor e eu tive vontade de revirar os olhos.
--Chato. --Sussurrei. Ele virou a cabeça para mim, e eu virei a cabeça para fora da janela.
--Você disse alguma coisa, Rebeka?
--Não. --Murmurei, tentando respirar para ignorar, além de seu cheiro delicioso de hortelã, sua lingua brincando com o meu nome.
Santo Deus.
Ele parou o carro atrás de um caminhão e desligou o motor. Olhei para frente e vi escrito em uma placa: Churrascaria.
-O.k. --Murmurei para mim mesma quando ele desceu do carro e então puxei todo o ar dos meus pulmões, o mais forte que eu pude --era esse o tipo de cara por quem você queria se apaixonar, Sophia?
Revirei os olhos quando pulei para fora do carro e dei de cara com ele, parado me olhando.
--Estava... --Ele pigarreou e coçou a nuca --falando sozinha?
--Não. --Sorri.
--Certeza? Porque eu acho que ouvi...
--Eu saberia se tivesse dito algo. --Passei por ele e disse sobre os ombros: --Doutor Sherlock Holmes.
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Liberdade Perigosa
ChickLitRebeka Taylor Steven é uma jovem que busca desde nova a liberdade. Sua vontade é de viajar por aí, conhecendo gente nova e arrumando encrencas. Antes existia o medo, e a culpa pela morte da Mãe e Irmã mais nova... Mas agora não existe mais medos, nã...