©apítulo| 《25》

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Ultimamente eu procurava por Daniel em toda parte, mas nunca encontrava. Ele estava sempre muito sumido, e calado também. Chegava a me assustar o que andava acontecendo nessa ultima semana, desde o sábado quando nos encontramos com Victor.

Sam me chamou para um treino rápido antes de dormir, na quarta a noite. Eu estava indo até lá quando Laura passou por mim rindo. Ela me olhou, como quem tinha cartas na manga e parou. "Boa noite, Rebeka. Espero que tenha bons sonhos." Disse ela. Sua voz era muito falsa e totalmente melosa, então ela suspirou e foi para o alojamento. Fiz uma careta para isso, desejando poder pegar minha Taurus e acertar um tiro no meio de sua testa, porém me contive.

Continuei indo para meu suposto treino. Encontrei também Daniel no caminho. Sua cabeça estava baixa e seus dedos na ponte do nariz como se tivesse com uma baita dor de cabeça. Ele me percebeu ali, então se endireitou e tentou mostrar equilíbrio. É o que no momento parecia faltar nele.

--Você está bem? --Perguntei, realmente preocupada.

Ele bufou, se virando e indo para seu quarto, me deixando lá sozinha. Mas antes de desaparecer no corredor, ele se virou novamente e, apoiando as mãos na cintura, disse:

--Falta uma hora e meia para que todos estejam dormindo. Não quero você fora do quarto depois disso.

E então se foi.

Fiquei lá, um tempinho olhando para o corredor, mesmo depois que as luzes estavam apagadas. Então Sam apareceu me puxando para nosso treino.

Ele era um pouco parecido comigo. Sua capacidade de ignorar algumas regras era engraçada. Tínhamos coisas em comum.

Quinze minutos antes que todos tivessem que estar na cama, me sentei com Sam onde Steven geralmente ficava de guarda. Dava pra ver muita coisa dali de cima. As luzes da cidade sendo apagadas nos prédios, os faróis e buzinas dos carros indo para casa. Eu comecei a entender como era se sentir sendo dona do mundo.

--Você sempre teve essa vontade? --A voz de Sam me pegou de surpresa. Era suave, baixa e bem próxima.

Olhei para ele.

--Vontade?

Ele deu de ombros, voltando a olhar para a cidade.

--É. Vontade de sair por ai, conhecendo gente nova e arrumando brigas. --Ele sorriu --Da pra ver isso nos seus olhos.

Sorri também.

--Eu tinha uma irmãzinha... Ela se chamava Sophia. No dia em que ela...

Sam me olhou e eu olhei para a frente. Era difícil falar isso com alguém, ainda mais quando você nunca tinha falado com ninguém antes.

--A gente sempre falava exatamente isso. Íamos sair por ai, conhecer gente nova, arrumar briga e se apaixonar. Era o nosso desejo mais profundo de criança... --Suspirei --Acho que tenho essa vontade desde sempre.

Ele ficou calado por um tempo, então sua voz, ainda suave, continuou:

--Você sente falta dela?

Apertei os olhos, empurrando a vontade de chorar para longe e balancei a cabeça.

--Todos os dias. --Sussurrei.

Ele não disse mais nada, eu também não. Ficamos assim por um tempo, até que eu me virei para falar que estava ficando tarde e ele me beijou.

Fiquei com os olhos abertos, um pouco perplexa. Depois apoiei minha mão em seu ombro e, sem pensar, o beijei de volta. Eu não sabia porque, mas senti essa necessidade. Só que não durou muito tempo, graças a Deus Daniel interveio e então me dei conta do que eu tinha feito. Que porra era aquela? Sam era meu amigo e... Espera... Daniel?

Liberdade PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora