©apítulo| 《32》

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O luto nunca foi uma forma fácil de enxergar a vida. Saber que uma pessoa tão amada se foi para nunca mais voltar doía, doía muito. Alguns preferem não pensar nisso, já outros ficam se remoendo, se culpando, se repudiando. Há um filme que diz que a vida só é preciosa, porque termina. Talvez seja verdade. Todos os sonhos de uma pessoa, todas as vontades não feitas e as verdades não ditas se vão junto com a morte, então pra quê pensar, não é mesmo? Porque simplesmente não agir e falar tudo o que lhe der na telha, mostrar tudo o que lhe vem a mente e andar conforme suas regras? Aliás, sua liberdade, suas regras.

Até hoje eu nunca pensei nisso, ver o caixão de Sammy desaparecer debaixo da terra me deixou algum rastro de algo que fazia meu pulso saltar cada vez que me pegava pensando. Cada segundo que me lembrava de o quanto a vida podia ser injusta com alguém tão bom. É claro que matar não significa ser um santo. Mas quando um soldado vai para a guerra, é para defender seu país. E quando nós, assassinos, vamos para a guerra, significa isso também. Não matamos crianças, aposentados ou donas de casa. Nós matamos quem matam essas pessoas, assim como Natanael fez com os pais de Daniel. Então agora íamos lutar com unhas e dentes, e mostrar para eles de uma vez por todas que nós éramos capazes de vingar a morte de quem amamos.

Naquele dia chuvoso, depois do velório, eu fui para o quarto e permaneci lá até que a noite caísse. Depois fui ver como Daniel estava. Mas ele simplesmente não estava. Sam me disse que ele havia pegado sua arma e partido em uma das motos. Esperava simplesmente que ele não fizesse alguma merda mal pensada.

Victor depois disso foi embora. Ele não se despediu, mas deixou um bilhete dizendo que não lutaria mais. Que queria mudar sua vida e trocar de sobrenome. Não fui atrás dele, porém, quando tudo acabasse, eu esperava reencontrá-lo novamente, ambos como novas pessoas. Não queria seguir atrás dele agora por Sammy e por Daniel. Eu devia vingança a eles.

Após uma semana de luto, Daniel retornou. Estava com roupas novas e com um olhar apagado. Era como se sua vida estivesse sem nexo. Ele apenas seguiu para o quarto, tomou um banho e se deitou.

No dia seguinte, quando todos sabiam o plano de cor, eu mandei que Sam fosse falar com Daniel. Minha meta era partir naquele sábado, já que nosso esconderijo estava comprometido. Daniel veio, disse que eu estava no comando e esperou minhas ordens de cabeça abaixa. Sua vida parecia ter perdido o sentido, assim como a vida de metade dos homens. Alguns não queriam lutar, não queriam acabar como Sammy. Três deles foram embora assim que perceberam a ausência de Victor. Taylor e Douglas, os dois caras mais fortes dali, me pediram desculpas e foram embora logo em seguida. Era como se não tivessem um propósito. Como se o fracasso tivesse nos alcançado.

Esperei que a noite chegasse, era hora de irmos embora. Sam e Steven colocavam as coisas no caminhão enquanto eu ia até o quarto de Daniel. Ele estava sentado na pontinha da cama, suas pernas abertas e os cotovelos apoiados sobre elas. Sua clavícula estava sustentando o queixo e seu corpo completamente sem postura alguma. Suas roupas eram as mesmas desde quando havia voltado. Bati na porta, mas ele permaneceu parado.

--Daniel?

Ele nem se mexeu. Parecia apertar os olhos com força.

--Você está... bem?

Me sentei ao seu lado na cama.

--Eu sinto muito por Sammy, ela era especial para todos nós. Era especial pra mim.

Ele suspirou. A primeira reação desde que cheguei.

--Por onde você andou? --Perguntei, hesitante.

Ele levantou os olhos. Estavam vermelhos como sangue. Aquilo doeu em mim, tive vontade de lhe abraçar forte e ficar assim até que o mundo acabasse.

Liberdade PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora