©apítulo| 《3》

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O jeito é seguir em frente e não parar mais até encontrar a felicidade.
(Adele)

°•°•°

Abri os olhos e encontrei a escuridão. Eu me lembrava de ter apagado as luzes, então permaneci deitada por mais algum tempo. Suspirei olhando para o teto no escuro. Logo eu teria que me levantar, com isso, logo eu teria que arrumar um jeito para seguir viagem. Suspirei de novo. Se meu carro não tivesse quebrado... Ou se Daniel não fosse tão irritante... Ou então, se Samy confiasse em mim. Suspirei uma terceira vez. Eu tinha que me virar. Andaria alguns quilômetros, logo apareceria um carro e pronto. Me sentei na cama e esfreguei o rosto. Suspirei novamente. Daria certo, eu tinha certeza.
Liguei a lâmpada do abajur e fui para o banheiro. Eu ainda estava em uma toalha, então deixei ela cair do meu corpo e joguei meus cabelos para trás. Liguei o chuveiro e lavei o rosto, repetindo o mesmo processo com o creme dental como na noite anterior. Voltei para o quarto e peguei minhas roupas, vestindo-as. Arrumei meus cabelos em um rabo de cavalo e peguei a carteira de Benjamin, o cara do bar, guardando-a dentro do meu bolso. Deixei o celular ali, eu não usaria de qualquer forma. Então me inclinei sobre a cama para pegar a arma em baixo do travesseiro. Me surpreendi por ela não estar mais ali. Olhei para os lados com paranóia. Quem entrou no meu quarto enquanto eu dormia e pegou uma arma de baixo do meu travesseiro?
Certamente alguém a tinha agora. Poderia ser o próprio dono, ou então algum amigo dele, que também tinha uma arma. Eu precisava sair dali, urgente!
Abri a porta convencida de que alguém estaria do lado de fora e fiquei aliviada quando não vi ninguém. Andei pelo corredor tensa, olhando para trás e para cima, como se o Batman estivesse me esperando para pular em cima de mim.
--Bom dia. --Murmurei para a mulher da noite passada que estava comendo um belo pedaço de bolo. Ignorei minha fome --Alguém passou por aqui? Um desconhecido, talvez?
Ela me olhou e levantou uma sobrancelha.
--Sim, você. E todos os outros hóspedes, são todos desconhecidos para mim.
Mais é claro que seriam.
--O.k. --Eu Suspirei pela milésima vez na manhã e relaxei. --Eu vou indo, então.
Me afastei, mas voltei a me inclinar sobre o balcão um segundo depois. Ela me olhou impaciente.
--Aqui por um acaso servem café da manhã?
A mulher engoliu o pedaço de bolo e pegou um papel por baixo do balcão, entregando-o para mim.
--É a uns dois quilômetros daqui. Tenha um bom dia e obrigada por escolher a pousada parada obrigatória.
Ela se virou de costas para mim me deixando muito puta e então continuou a comer.
Olhei na folha. Era outra churrascaria e pensar que desta vez eu estaria sozinha, me fez sorrir. Certamente era melhor sozinha do que mal acompanhada.
Continuei meu caminho para fora da pousada na esperança de que meu estômago não doesse tanto por causa da fome e fiquei feliz por ao menos estar limpa.
Olhei para os lados. Não havia nada. Nem carro, nem pessoas e nem o sol. Hoje estava previsto a ser um dia deserto e frio.
--Achei que teria que ir mais longe para encontrar você.
Me virei para trás quando escutei essa voz e Congelei. Era ele. Era Benjamin. Certamente já tinha posse de sua arma e agora eu estaria morta. Ele levou a mão até a ponte do nariz e sorriu.
--Você quebrou o meu nariz, sabia disso? Tive que descontar a minha raiva no seu amigo.
Deixei a boca cair aberta. Ele teria matado Diogo? Não, não podia ser. Não por minha causa.
--O que você fez com ele? --Perguntei, tentando controlar a raiva que crescia em mim.
--Posso dizer que ele não está morto... Ainda não.
--Onde ele está? --Dei um passo para a frente, desafiando-o.
--Em algum hospital por aqui. Se é que existe nesse fim de mundo. --Ele respirou fundo --Vamos, me diga onde está o seu namorado.
--O que? Eu não sei... Mais que namorado?
--Daniel Medisker. Onde está aquele desgraçado?
Ele alterou a voz, me fazendo recuar um passo.
--Não sei. --Falei.
Ele bufou e segurou algo na cintura. Se eu soubesse tirar as balas de uma arma, eu não estaria tão indefesa assim.
--Vou perguntar uma última vez. --Ele se aproximou alguns passos, recuei imediatamente --Onde está Daniel Medisker?
--Bem atrás de você.
Eu e Benjamin olhamos ao mesmo tempo para trás dele. E ali estava ele, o filho da puta que me abandonou no meio da rua, sozinha e sem as minhas coisas.
Foi tudo muito rápido. Uma hora eles estavam se olhando com raiva, e no segundo seguinte, estavam se atacando na rua empoeirada. Vi Daniel desviando de alguns socos e acertando outros. Ele se abaixou um segundo antes de Benjamin lhe acertar, então socou a barriga do pobre homem que lutou para recuperar o ar. Depois passou por trás dele e prendeu suas mãos forte o bastante para ouvir os ossos praticamente quebrarem. Benjamin gritou de dor, mas Daniel nem ligou.
--Diga à Victor para vir diretamente a mim, ou então mato um por um até não sobrar capanga algum. --Sua voz era monstruosa. Sob tudo, ele estava sexy dentro de roupas apertadas. --E eu não estou blefando.
Com isso, Daniel o empurrou para longe e é claro que como toda pessoa em sua sã consciência, Benjamin correu.
Quando Daniel me olhou, eu ainda estava pasma com tudo aquilo. Mas logo fechei a cara.
--Eu quero as minhas coisas imediatamente. --Falei, irritada.
Daniel bateu nas roupas para tirar a poeira e então começou a andar. Simplesmente andar, me ignorando completamente.
--Você me ouviu, seu filho da...
Parei de falar quando ele se virou, vindo na minha direção como um touro bravo. Temi que ele me agredisse também, porém não recuei.
--Eu vim até aqui, mas não sabia que te encontraria. --Sua voz era um pouco mais do que impaciente, me fez estreitar os olhos --Então cale a boca antes que eu mesmo faça isso.
Arqueei uma sobrancelha e me endireitei. Ele estava achando o ultimo biscoito do pacote.
--Estou pagando para ver.
Tentei soar tão segura quanto ele. Nunca me mostrei intimidada por homem algum, seja armado ou não... Bom, até um dia atrás.
--Sabe o que eu poderia fazer com você? --Ameaçou. Continuei imóvel --Argh! Vem, vamos comer alguma coisa.
E com isso, começou a andar, mais eu ainda assim não sai do lugar.
--Para você me deixar no meio da rua sem nada?
--Isso não é verdade --Murmurou, se voltando para mim --Você tinha a roupa do corpo.
Ele sorriu e voltou a andar. Fiquei puta.
Corri para alcança-lo e entrei me sua frente.
--Você me deixou sem documentos, sem dinheiro... E sozinha! --Bati com os dedos em seu peito --E depois de ter agredido aquele cara na churrascaria. Se ele viesse atrás de mim...
--Ele não foi. Não te encontrou e você está aqui, viva. Agora vamos.
Daniel passou por mim e segurou-me pelo braco, puxando-me para seu Maverick.
--Mas e esse cara? Ele estava aqui por minha causa. Ele ia me matar!
--Não, não ia. Você sabe se defender, lembra? E ainda tem uma arma --Ele levantou a blusa e vi letras conhecidas gravadas no metal de um revólver --Ou tinha.
Daniel me jogou dentro do carro e deu a volta, sentando-se no banco do motorista.
--Você entrou no meu quarto? E o que aconteceu com "não sabia que te encontraria aqui"?
--Já percebeu que você fala demais?
Ele ligou o carro, obviamente querendo encerrar o assunto, e acelerou.
Bufei de raiva.
--Você é doente!
--Já me falaram isso antes. --Percebi sua mandíbula contrair.
--Quem é você afinal? O que você é?
Ele ficou em silêncio.
Eu também.

Liberdade PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora