39: "Porra... Faça desse jeito!"

1.1K 92 107
                                    

- O quê? - pergunto ainda distante de Niall.

Seus olhos pareciam distantes, sua mente estava em outro lugar. Ele respira fundo e olha para suas mãos, ele estava lutando consigo mesmo para conseguir pronunciar qualquer palavra. Horan não havia calçado seus sapatos, ele estava vestindo uma camisa social e uma calça jeans de lavagem escura.

- Vem cá... - Niall chama e obedeço, caminhando em passos largos até ele. Sento-me ao seu lado na cama, e o observo por algum tempo. Sua expressão era de alguém preocupado, talvez até um pouco assustado. - Vinte e nove de agosto. - ele se vira para mim, e espero que ele continue. - Era meu último dia como um agente em treinamento. Eu tinha apenas uma última missão, a de fidelidade à ICE. Eu só precisava de mais um pouco de luta e me vingaria do meu pai para sempre. - as palavras lutavam com sua língua, enquanto seus olhos evitavam contato com os meus. Eu sentia que precisava falar algo, mas somente deixei meus ouvidos atentos. - Quatorze pessoas estavam contra mim, só cinco passariam. Eu ouvi que as provas de fidelidade eram absurdas, mas depois de pesquisar, descobri que tinham cinco provas fáceis e dez complicadas. Eu estava esperando pegar uma fácil, mas não foi isso que aconteceu. - a parte branca de seus olhos carregavam um tom profundo de escarlate, suas bochechas ruborizadas e seus lábios quase tremiam.

Niall respira fundo e fecha suas pálpebras, deixando uma lágrima solitária descer por sua bochecha rosada. Ele estava chorando, e eu nem sabia o porquê, mas sabia que ele não pararia por aí. Levanto minha mão e limpo sua bochecha, fazendo Horan abrir os olhos para mim.

- Eu não era para ter feito aquilo! Eu podia ter parado, eu podia ter simplesmente dito "não" e saído daquele maldito lugar! - seus olhos enviavam sentimento de ódio, mas não por mim. Por ele mesmo. - Eu estava tão cego, eu queria tanto aquilo e eu faria qualquer coisa para conseguir ser um agente da Corporação sem nem ao menos pensar nas consequências de meus atos. - ele puxa o ar muito forte por suas narinas e limpa seus olhos que agora quase transbordavam em lágrimas. - Na carta que me deram estava escrito que para provar minha fidelidade à ICE eu teria que fazer algo sem perguntar nada a eles. Eu tinha que fazer para provar que confiava na Corporação acima de tudo. - ele pressiona os lábios e evita contato visual comigo de novo.

- O que a carta dizia? - pergunto no tom mais neutro que consigo, apoiando minha mão em seu ombro.

- Eu deveria matar uma pessoa. Eles deram o nome, o endereço, todas as informações e materiais que eu ia precisar. Eu me preparei, já tinha tudo planejado. Eu ia fazer, não era difícil. Só matar alguém que eu nem conhecia mas que provavelmente tinha feito algo de errado. - Niall sobe mais na cama, de modo a ficar com as pernas em cima dela. Acompanhei seu movimento e me coloquei entre suas pernas, Niall parecia estar me evitando porém não me distanciou. - Eu fui para o local, arrumei minha arma e mirei na janela da casa. Fiquei esperando pela tal Christine, qualquer sinal de vida dela. Foi aí que meu mundo desabou. Primeiro apareceu uma mulher, parecia uma dona de casa comum, ela chamava pela Christine. Quando vi quem veio para perto dela, eu congelei. - Horan faz uma pausa e olha para cima. - Era uma garotinha. Seis anos, Dani. A idade que minha irmã tem agora, você entende? - a voz de Niall não passava de um sussurro, seus olhos afundavam em lágrimas e sua expressão estava tão perturbada. Ele puxa os joelhos para perto de seu corpo, apoiando os cotovelos neles e puxando seu cabelo com as mãos. - Eu deveria ter guardado aquela maldita arma e voltado para casa, mas... Dani... Eu apertei o gatilho.

Meu corpo parou subitamente. Niall se desmanchava em lágrimas que molhavam seu rosto por completo. As unhas cravaram em seu couro cabeludo, e ele continua deixando alguns murmúrios escapar. Por mais terrível que soe o que ele fez, eu não conseguia culpá-lo. A forma frágil como ele estava, o jeito como seu corpo parecia prestes a estremecer. Seus ombros subiam e desciam bruscamente, ele se culpava tanto. Eu não podia simplesmente julgá-lo por fazer algo quando estava cego pela raiva e sedento por vingança. Aproximo-me dele por impulso, tentando me posicionar melhor entre suas pernas. Afasto suas mãos de seu cabelo, e Niall olha para mim com o olhar mais triste que já vi em toda a minha vida.

intercambistaOnde histórias criam vida. Descubra agora