Não apareceu ninguém na loja, e ficamos a manhã inteira falando sobre Dara. Quando minha barriga produziu um som alto e claro em protesto a seu vazio Britta gargalhou e fez uma cara bem alegre.
- Sei exatamente onde e o que vamos comer.
Dito isso ela trancou a loja e saímos. As ruas eram coloridas como pelo início da manhã, porém mais recheadas, eu vi uma garota com um só olho, foi bem estranho, um cara voava sobre um tapete, parecia árabe com suas vestimentas e postura, e uma raposa passou ao meu lado e quando me viu a encarando meneou a cabeça, como se estivesse me cumprimentando. Não demorou para entrarmos no restaurante e não mais pude ver as criaturas na rua, então agraciei meus olhos com o esplendor do ambiente. A decoração era de tema chinês, vermelho e dourado adornavam e rodeavam tudo, lâmpadas de papel, imagens de aparência antiga e com criaturas da cultura, escrituras em mandarin, as mesas eram de madeira e os bancos com almofadas, todos ali comiam com palitinhos e bem rápido, com familiaridade, não havia janelas e as garçonetes estavam em vestidos vermelhos, daqueles sem manga, com uma abertura lateral enorme, dos dois lados, e as golas chinesas características, os cabelos presos em coques muito armados e com mais palitos.
Nos sentamos a uma mesa no canto e logo uma das moças veio nos servir, ela colocou um copinho pequeno e com água quente a minha frente e falou com Britta em uma língua estranha, não era mandarim, ou grego, talvez russo, não sei, era estranha e difícil. Assim que a mulher saiu perguntei a Britta.
- O que disse a ela?
- Surpresaaa!
Ela cantalorou e bebericou o copo dela.
- O que ela é?
Eu tinha me inclinado sobre a mesa e falei com a mão ao lado da boca, sussurrando. Britta tinha dito mais cedo que era inadequado perguntar a espécie de alguém. Ela riu alto em resposta. E a jovem apareceu novamente.
- Liang, ela quer saber o que você é.
Me encostei rapidamente e reprimi a mim mesma. A jovem suspirou e sentou ao lado de Britta, bebendo um pouco da água morna.
- Quem é essa, Brittany?
A bruxinha (eu gostei muito desse apelido já que Britta é uma bruxa baixinha e toda lindinha, mesmo com o jeito maroto) contorceu a cara e a jovem riu alto, a risada dela era melodiosa e sua voz era incrivelmente feminina e linda, ver ela era como encarar a flor mais bela e rara, os cabelos negros e sedosos eram longos e o coque não o prendia inteiramente, seus olhos exóticos eram marcantes em seu rosto e pareciam guardar um segredo que me fez querer descobrir, todo o seu rosto parecia delicado como a superfície da água em harmonia, tudo nela se encaixava como a mais encantadora sinfonia.
- É a Tirya, filha da Dara.
Pensei que fosse para guardar segredo disso! A boca da chinesa se abriu e ela me encarou com olhos atordoados.
- Como? Ela, ela é igual ao pai! Até os olhos!
Britta fez um sorriso orgulhoso.
- Essa é a Liang, amiga de sua mãe, para todos os outros você é Maika, a meio Alf.
Liang se levantou e sentou ao meu lado, ela pegou em meu rosto, meus braços, meu cabelo e eu tremi toda, não porque tivesse medo ou nervosismo, Liang era gelada, parecia que o próprio frio havia se materializado. Ela me abraçou e ainda me encarava como se fosse seu jantar.
- Você está deixando a garota desconfortável.
- Mas é a criatura que saiu de dentro da Dara!
Porque todos me chamavam assim? Fazia soar nojento.
- Sim, sim. Mas temos de ser discretas, se ela está aqui sabe o que significa.
Liang deixou seus ombros cairem.
- Não precisava lembrar... Ah! - ela voltou seus olhos para mim - Você queria saber o que eu sou, bem tenho presas, odeio o sol e bebo sangue. Quem eu sou?
Tentar fazer um enigma não surtiu efeito e um calafrio subiu pela minha espinha, não podia acreditar que poderia ser morta, ficar sem sangue bem ali. Muitos filmes antigos haviam me ensinado a temer vampiros e não tinha quem me fizesse chegar perto de um daqueles livros românticos com eles, Annie adorava, e agora cá estava eu com uma bem do meu lado. Irônico, não?
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Cidade de Magia - Marcada por Espinhos
Fantasy" Houve um tempo em que o que se chamava fantasia coexistia com o que chamavam realidade. Durante séculos a humanidade afetou drasticamente seu mundo, criou coisas que não se pode nem imaginar. Essa habilidade humana se tornou uma ameaça... " Tiry...