O teste

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O fogo azul cobria todo o meu corpo. Era realmente azul, escuro e translúcido. Me virei para Shun e o vi em uma mistura de surpresa e fascínio. O vento soprava e mesmo forte o fogo continuava.
- O que eu faço?
Minha voz saiu tremida e apavorada. Claro que eu estava apavorada, estava pegando fogo. A sensação das chamas contra minha pele provocava leves cócegas, parecia gelo e algo macio, era quente e frio. Shun balançou a cabeça saindo de um transe.
- Tente bloquear a fonte. Rompa a corda que libera a magia.
Eu procurei a linha que saía daquela cratera, mas eu não achava, estava perdida. O fogo estava mais intenso e cobria todo o meu corpo, sem me queimar. Fechei meus olhos.

Acalme-se, respire e sinta o fogo abaixar.
Eu escutava a voz de um homem. Era tão serena e bela que surtiu como tranquilizante. Senti o fogo diminuir e então sumir. Assim que se foi senti mãos em meu rosto. Abri meus olhos e Shun estava a minha frente, sua expressão lembrava a mim mesma enquanto via as pessoas estranhas na rua, encantada.
- Foi... foi... Você estava incrível!
Corei imediatamente e desviei o olhar.
- Eu nunca tinha visto um fogo tão belo. Era azul como água!
Eu apenas concordava sentindo minha pulsação subir. Ele não notou meu ligeiro constrangimento. E continuou a falar como tinha sido incrível.

◇•°•◇

A noite não estava sendo fácil. Britta insistia na vela, mas o inscius ainda teimava. Depois de pegar fogo não consegui mais acender uma faísca, Shun dizia que eu deveria ter me esgotado, mas eu e Britta sabíamos que não, a fonte parecia não ter fim. Na manhã estaria na Unique fazendo o teste, Shun me acompanharia, dizia que era para me ajudar a ficar mais calma, mas ele não sabia que a mera presença dele era como doses extra grandes de adrenalina para mim. Para completar eu, obviamente, não conseguia dormir, ficava imaginando como seria o teste. O que eu teria que fazer. Que perguntas fariam. Para o teste escrito eu tinha estudado relativamente, o livro dos portadores me fez entender que eu nunca entenderia aquele lugar, se tinha tantas criaturas estranhas que eu não entendia imagine entender como funcionava a tal magia e ainda mais aquele lugar. Não era a Terra, mas não era outro planeta, estava mais para outra dimensão e ainda sim não separada da Terra. Depois de concluir que não ia entender o livro decidi ao menos decorar, mas aí vi que aquele era apenas o volume 1 da coleção mais básica de ensino para crianças daquele lugar. Entender as Cidades estava fora de cogitação.
Enfim o cansaço venceu e eu dormi. Não deve ter sido por mais de quatro horas, porque quando a bruxinha entrou no quarto me acordando eu estava exausta. Talvez devesse desistir daquele teste, e quando manifestei meus pensamentos para Britta recebi um enorme olhar censurador. Engoli em seco e me arrumei. Tomei um suco e Britta me entregou um sanduíche de geleia de morango, minha preferida, o devorei enquanto esperava por Shun.

◇•°•◇

A Cidade principal era enorme, demorou uma boa hora para chegar na academia, a construção era gigantesca, e não era um único prédio, eram cinco, de vários andares, Shun disse haver ainda mais em outras regiões, mas aquela era a principal sede. A arquitetura era uma mistura de castelo medieval com prédios modernos, construído em pedra branca e com muitas decorações. A torre central era a maior e tinha um grande brasão esculpido, uma ave de asas abertas com uma coroa sobre a cabeça e uma serpente nas garras.
O jardim frontal estava recheado de pessoas das mais diversas formas e cores. Shun me guiou para dentro da torre e eu vi um amontoado de pessoas.
- ORDEM!
A voz autoritária fez todos se calarem e congelarem, inclusive a mim.
- Todos que já terminaram saiam!
Com a saída de um grande volume de pessoas pude ver uma mulher de cabelos verdes e com asas finas que lembravam as de uma libélula às costas. O vestido verde e longo flutuava e os olhos dourados não paravam de brilhar. Ela exibiu um largo sorriso quando viu Shun e se aproximou.
- Ora, o que um já aluno de minha escola faz aqui hoje?
- Vim, apenas acompanhar uma amiga.
Ela me olhou pela primeira vez, sua boca fez um O e ela sorriu para mim.
- Não acredito que alguém tenha conquistado essa raposa solitária. - Ela se aproximou de mim. - Mas vendo até consigo entender.
- Professora, por favor. - Ele revirou os olhos. - Será que pode ajudá-la?
- Vai fazer o teste?
Confirmei. Aquela mulher, digo, fada era uma professora. O que esperava? Esse lugar não tem humanos, Tirya.
- Qual o seu nome e raça?
- Maika Sellivard, meio-alf.
Ela estreitou os olhos.
- Meio-alf? Quem diria? Você me parece mais pura que uns que conheço.
Eu ri desajeitada. Ela vasculhou alghns papéis de sua prancheta.
- Aqui está. Seu teste será na Torre Vest, sala 3-7, o teste de inscius vai ser na torre Mur, sala 1-5. Boa sorte!
Eu sorri e acompanhei Shun para fora. Ele parou e me apontou a primeira torre da esquerda para direita.
- Aquela é a Mur. - Ele apontou para a terceira - E aquela a Vest. Suas salas ficam no primeiro andar, não vai ser difícil achar. O primeiro teste é o escrito, vai ser daqui a meia hora. Vamos.

◇•°•◇

Meus olhos deveriam ter olheiras. Mas que teste tinha sido aquele?
Assim que vi a folha demorei um pouco para entender as letras, elas dançavam como as das vitrines das lojas. E depois aquelas perguntas.
Qual a raça mais poderosa?
Sei lá. Deus?
E assim coloquei Deus como resposta.
Qual criatura sombria se tornou um portador?
Mas que... So pode ser coisa do demônio isso!
E assim coloquei demônio como resposta.
As perguntas eram tão ilógicas e objetivas, não podia sequer enrolar. Respondi todas com ira nos ossos. Esperava que a tal Sabrina realmente ajudasse. Quando deixei a sala escutei pessoas falando o quanto tinha sido fácil. Eu me deprimi ainda mais, deveria estar parecendo um zumbi de tão morta que estava, humor depressivo e falta de sono definitivamente não combinam.
- Eu soube que o teste de inscius é que define quem entra. Quem não encontrou um não tem chances.
Uma garota sussurrou. Eu me atentei para escutar melhor a conversa.
- Parece que o último rei foi escolhido pela colocação no teste de inscius dele.
As pessoas se afastaram e eu não escutei mais nada. Suspirei, esperava conseguir ao menos produzir uma faísca.
Segui para a torre Mor. Os corredores estavam cheios, tinha que me espremer entre muitos para conseguir andar. Quase passei da sala, esperei na frente com vários outros. De vez em quando um homem grande e robusto saía e gritava chamando alguém.
- Meio-alf Maika Sellivard.
Eu já estava esperando havia um bom tempo e não tinha mais muitas pessoas no corredor, e graças a isso os cochichos eram bem audíveis.
- Uma mestiça.
- Não vai conseguir.
- Será que ao menos tem um inscius?
Me mantive altiva enquanto caminhava em direção a porta. Eles iriam ver. Eu vou queimar tudo.
A sala era grande, o homem sentou em uma cadeira e olhou uma folha, pegou uma caneta e me observou. Eu ainda estava parada perto da porta, ele apontou com o queixo para o meio da sala, segui a passos curtos.
- Você tem um inscius?
Eu acenei, ele me dava arrepios. Ele riscou o papel.
- Mostre!
Eu engoli em seco e fechei os olhos. Inspirei e senti o fluxo de energia em mim, encontrei uma corda e a puxei. Nada. Abri um olho e vi o homem me observar, esperando. Puxei outra corda, mas ainda nada. Ele pigarreou e começou a escrever no papel.
- Desculpe, não sei o q-
Eu queimei.

×××
Esse ficou grandinho hein?
Gostaram do final?
Foi divertido. Mas estamos precisando de mais emoção por aqui.
Prox cap: Queimando tudo
Muahahaha
Xoxo♡
Brighid

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora