Suspirei. Não aguentava mais. Me levantei da cama e desci as escadas. Escutei a voz de Britta, mas não a vi. Andei pela casa à sua procura, mas não achava. Desisti e fui para a varanda de trás, me sentando no balanço, recolhi minhas pernas para cima e as abracei ficando em posição fetal. Encarei o jardim silvestre, as flores selvagens não pareciam brilhar tanto agora. Apoiei meu queixo entre os joelhos. O que faria? Eu podia ser condenada à morte. A imagem do bolo encolhido rodeado de cinzas surgiu em minha mente. Um calafrio percorreu minha espinha e eu tentei afastar o pensamento. Resolvi que ficar matutando sobre aquilo não iria mudar nada, nem resolver, então voltei meus pensamentos para a floresta, para um lobo negro com olhos verdes, então para o que a dríade tinha dito. Quem eu procuro sempre estará por perto, mas quem eu procuro? Talvez minha mãe, não, eu estou esperando por ela. O lobo? Não, ele apareceu para mim depois e eu ainda não o procurava. O assassino? Talvez. E quanto a esse homem de olhos verdes? Deve ser o lobo, então eu tinha que descobrir quem era a pessoa na pele de lobo. Mas como? E quem eu libertei? Quem me deu um presente e que presente? Urgh! Como eu ia ficar melhor pensando em algo que me degradava também? Suspirei e estiquei minhas pernas sobre o balanço, me encostando no braço. Olhei para cima e encarei o telhado.
- Maika!
Me voltei para a porta que levava à cozinha, Britta tinha saído apenas pela metade.
- Shun está aí.
Me sentei em um solavanco e ela riu de leve. Entrou e eu escutei sua voz abafada pelas paredes dizer para ele que viesse para fora. Ela soltou a porta e entrou novamente, para poucos segundos depois a porta se abrir novamente, dessa vez com uma raposa a atravessando. Ele caminhou até mim e parou a minha frente. Meu coração ameaçava explodir. Engraçado como bastou eu vê-lo para esquecer tudo.
- Eu soube do que aconteceu e vim o mais rápido que pude.
Fechei meus olhos.
- Realmente é algo bem ruim, não é?
Ele sentou ao meu lado fazendo com que o balanço fosse e voltasse.
- Ninguém morreu por sua causa, você apenas se defendeu, certo?
- Mas e aquela criatura?
Ele encarou o chão e voltou a me olhar com uma expressão bem séria.
- O wendigo já não é um portador, ele é um ser das sombras, você não matou ninguém.
- Mas ele era alguém antes. Não tem como reverter isso?
- Não, depois que alguém vira uma das criaturas sombrias não volta. Se alguém vira um wendigo não pode mais ser salvo.
- E o que faz alguém virar um?
- Quando mata outros para comer sua carne e ainda morre de fome, essa pessoa acaba ganhando hailidades de caça e se torna quase imortal.
- E porque ele ficou tão... tão... monstruoso?
- A carne apodrece mesmo com a imortalidade se ele não se alimentar com muita frequência. Aquela área é a mais pobre da cidade e por isso é onde se concentram a maioria dos crimes. Aquele wendigo não era recente, deveria rondar por anos, mas sentiu fome e resolveu atacar. Uma mulher foi devorada antes de você o matar.
Fiquei imaginando se não seria a mulher que passou por nós antes de ser atacada, ela tinha ódio no olhar, deveria ter sofrido muito. A vontade de chorar me invadiu.
- E as casas que eu queimei?
- Não se preocupe, o Conselho vai reformar elas, é o dever dele.
- Eu vou ser condenada, Shun.
O olhar sério permanecia.
- Cassim vai aceitar te defender, fique tranquila.
- Eu escutei Britta anoite conversando com a Liang, ela disse que ele não aceitava defender ninguém há anos.
- Ele vai aceitar.
Me prendi àquelas palavras esperando que se concretizassem.◇•°•◇
O segundo dia de espera também não foi nenhum pouco agradável. Eu ainda não tinha saido da casa a tarde e não esperava ter que sair tão cedo, mas no dia seguinte não teria escapatoria, as aulas iriam começar.
Eu estava sentada no sofá já tinham horas, apenas encarando a mesinha de centro. Claren estava à cozinha, fazendo alguma comida. Brittany tinha saído antes do almoço e ainda não tinha voltado, o que me deixou curiosa pois aquele dia deveria ser uma espécie de domingo, eu acho.
Claren derrubou mais alguma louça de metal, emitindo um barulho que parecia cortar meu cérebro. Logo depois escutei vozes, uma eu conhecia, era Brittany, a outra era masculina e forte. Me levantei ao mesmo tempo em que a bruxinha entrava na sala seguida de um grande homem impotente e com áurea autoritária. Ele estava completamente coberto de preto. Os cabelos negros eram compridos e partidos ao meio, a barba estava por fazer e os olhos negros lhe conferiam mais sombriedade.
- Maika, esse é Cassim Trent, representante da Cidade de Magia.
Engoli em seco. Aquele homem tinha meu destino em suas mãos.×××
Mais que sono... mas aí está um cap, curto, mas um cap.
Amanhã há de ser maior, prometo.
Brighid.
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Cidade de Magia - Marcada por Espinhos
Fantasy" Houve um tempo em que o que se chamava fantasia coexistia com o que chamavam realidade. Durante séculos a humanidade afetou drasticamente seu mundo, criou coisas que não se pode nem imaginar. Essa habilidade humana se tornou uma ameaça... " Tiry...