Inscius de fogo

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- Na verdade isso é uma grande vantagem.
- Não tenho tanta certeza.
- Porque não verifica isso logo?
Britta estava muito nervosa, ela me olhou e eu vi uma sombra de medo passar por seus olhos. Liang estava sentada a minha frente em um vestido preto chinês, uma de suas pernas era totalmente visível pela abretura lateral, ela mantinha uma das mãos sobre o joelho da perna exibida que se encontrava sobre a outra. Quando entramos em sua casa de bambu e papel ela já estava à porta, como se nos esperasse, mais tarde descobri que tinha sido apenas sua ultravelocidade, que usou para servir um chá cor de rosa em três xícaras e dispor entre nós, com a outra mão ela apertava a testa franzida.
- Britta, vai ter que fazer isso alguma hora e agora estamos precisando. Vamos, faça.
Liang insistia que a bruxinha fizesse algo em mim, para descibrir se o fogo que havia queimado o homem era meu. Britta suspirou pelo nariz e tomou uma postura mais altiva.
- Pois bem. Vou precisar de velas pelo cômodo, nada de globos. Quero um pouco de água e que o chão fique livre.
Liang usou sua velocidade vampiresca e logo a salinha de visitas pouco mobiliada já não tinha nada, até mesmo o chá sumira. Logo depois foram surgindo velas dispersas por todo o lugar, menos no centro onde eu e Britta permanecíamos. Em poucos segundos todas estavam acesas e a única luz provinha das velas. Liang retornou, voltando a ser visível, ela roía uma unha ansiosa. Afastei meu medo dela o mais rápido, ela era a amiga de minha mãe, não tinha porque ter medo dela, por mais que guardasse sangue na geladeira.
Britta molhou suas mãos com a água de um copo que eu não tinha visto pegar, então dispôs as mãos uma de cada lado de minha cabeça a tocando apenas com as pontinhas dos dedos que já estavam gelados. Ela me encarou com aqueles olhos cinzentos.
- Eu quero que pense no momento em que o corpo queimou. Volte para lá.
Então eu pensei no exato instante em que as labaredas surgiram, repentinamente era como se eu estivesse lá novamente, o monte de folhas e galhos e o corpo, o assassino, Shun, e tão rápido como a imagem havia surgido se fora. Agora me encontrava em terras planas que seguiam além do horizonte, o céu era nublado e denso, a cor escura das nuvens se misturava a um prateado que terminava ao se encontrar com o solo que era cinza e sem vida, uma vastidão de cinza, preto e prateado, parecia algum campo de guerra limpo. Girei e vi uma espécie de cratera, sem pensar andava na direção da abertura, quando alcancei a beira olhei para baixo e não enxerguei nada, o buraco parecia seguir para outra dimensão de tão profundo. Um vento soprou e eu caí na escuridão, caí, caí e caí, mas não havia fim, o breu me engolia, senti-me na garganta de um gigante e quando achei que ficaria ali para sempre eu estava devolta na sala iluminada por velas. Britta estava agachada buscando ar. A água em suas mãos havia sumido e a pele estava queimada. Liang logo estava ao lado da bruxinha passando uma mão em suas costas.
- Então?
Recuperada, bruxa encarou vampira.
- O inscius é dela.

◇•°•◇

Estávamos todas no quintal de Britta, Liang no balanço cantarolando alguma música em uma língua estranha, a viz melodiosa combinava perfeitamente com a música, o som imundava minha mente e deixava tudo harmônico, Britta estava sentada em um degrau da varanda, com o queixo apoiado sobre o punho fechado, eu estava sentada no chão da varanda encarando uma vela apagada.
- Basta voltar lá.
A bruxinha estava entediada, haviam duas horas que eu encarava a mesma vela apagada. Olhei para as mãos dela, enfaixadas. As queimaduras eram culpa minha, ela tinha se queimado quando descobriu meu poder, ou inscius como elas chamavam, eu a havia queimado enquanto caía no buraco. Buraco que agora deveria encontrar novamente para controlar o inscius. Eu tentava, inutilmente, visualizar o espaço cinzento, nada vinha. O portão de ferro gritou ao ser aberto, todas olhamos para Shun. Ele estava limpo e com novas roupas, eu também estava, usava as roupas da irmã de Britta, que eram menores que eu, mas a bruxinha dera um jeito com magia.
- Então?
A pergunta era para Britta. Ele encarou as faixas nas mãos dela.
- Foi ela.
Ele me olhou e lançou um sorriso que falava por ele Eu não disse?
- E qual o tamanho?
Eu interrompi.
- Tamanho do quê?
- Do poder.
Britta abriu bem os olhos enquanto falava.
- Muito, muito grande.
Ele riu. Eu vi Liang se levantar e chegar por trás de Britta.
- Então, vamos ficar aqui ou vocês vão mostrar o lugar?
Quando Shun olhou para Liang percebi seu humor mudar. Ele saiu de estranhamente calmo para assustadoramente sombrio. Liang também notou, e exibiu um sorriso angelical a ele.
- Um Aitsune. Vocês são realmente muito bonitos, parece até uma mocinha.
Ele fechou sua expressão.
- Liang Lee, a grande vampira.
Olhei para e para outro, depois para Britta, ela me encarava. Olhei para os dois e depois para ela, perguntando o que havia entre os dois, ela deu de ombros e franziu a testa.
Os dois ainda trocavam olhares hostis. O que havia entre a raposa e a vampira?

×××
Desculpa, desculpa, desculpa.
AMA/ALA
Foi massa não foi? O ritual lá(que não é um ritual, Britta precisou apenas de energias no ambiente para facilitar a entrada, foi apenas uma leve fusão com magia)
Hihihi
Capítulo 18: A grande árvore da Floresta das cores
Brighid

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora