Brincadeira de adulto (ou não?)

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Estranhei ir à porta da frente daquela casa. Estranhei bater à porta. E estranhei ver ela ser aberta para mim.
O homem estava vestido em um terno, era alto e magro, seria o pai de Adam? Ele me olhou rapidamente sem demonstrar qualquer emoção e abriu mais a porta estendendo o braço para que eu entrasse.
- Obrigada.
Passei pela porta e o esperei. Estava em um grande cômodo, no centro uma escada de madeira que subia para o andar superior, portas duplas e grandes espalhavam-se por toda a parede levando a outros cômodos que permaneceriam um oblivio, quadros estavam pendurados combinando com a decoração verde e madeira, havia um grande lustre acima de mim iluminando toda a grandeza, duas mesas estavam no lugar, cada uma de um lado, haviam jarros de flores brancas que além de decorar perfumavam o ambiente com um leve cheiro doce, também tinham plantas maiores próximas aos quadros.
- Por aqui, senhorita.
Tirei meus olhos do lugar e os voltei para o homem, ele me esperava em frente a uma porta, segui na direção, minhas sapatilhas tinham o som abafado pelo carpete verde escuro que cobria toda a madeira que deveria estar ao chão.
Ele abriu a porta e me vi em um espaço tão, se não mais, luxuoso quanto a entrada. Sofás verdes com detalhes dourados formavam um semicírculo em volta de uma lareira acesa, haviam estantes de livros no lugar das paredes e dessa vez globos de luz como os da casa de Britta que deixavam a sala clara como se ainda fosse dia.
- Por favor, sente-se e aguarde um instante.
Não tive chance de responder, assim que me virei ele já havia fechado a porta e por breves segundos me senti presa, mas logo a sensação passou e eu explorava as estantes. Não gostava de ler, mas admirava os livros por sua beleza. Haviam títulos que poderiam me atrair assim como que poderiam me afastar. Me sentei e olhei para a lareira, o fogo dançava. Engraçado como desde que chegara ali, naquela cidade, o fogo não mais estalava, parecia mais uma música, talvez fosse aquele poder estranho. Quem diria? Tirya encarando o fogo como se fosse o filme preferido dela! Desviei meus olhos das labaredas e olhei em volta, levando um susto ao perceber que tinha mais alguém ali.
- Então, você é a misteriosa Maika?
Maika? Estranhei o nome por milésimos até voltar ao momento em que realmente me encontrava. A mulher estava trajada em um longo vestido vermelho de alças finas, os cabelos eram negros e longos, os olhos de um dourado que me lembravam os de Adam. Ela segurava uma taça com alguma bebida como se tivesse uma bola nas mãos.
- Meu filho não falou nada de você.
Me levantei em um sobressalto. Era a mãe de Adam. Boa impressão, apenas uma boa impressão e eu estaria livre. Abaixei um pouco a cabeça como Claren tinha dito para fazer. Ela suspirou e colocou a taça sobre um criado mudo e andou preguiçosamente até mim enquanto falava.
- Sabe, é de se surpreender que ele não tenha mencionado seu nome uma única vez até ontem. - Ela examinava meus pés, tentei me encolher. - Ele realmente é um garoto bem expressivo. É difícil acreditar que tenha guardado um segredo. - os olhos subiram um pouco e ela exibiu um sorriso de lado, engoli em seco - Mas eu descobri algumas coisinhas sobre você.
Medo. Eu senti medo do olhar dela, talvez pela responsabilidade de não desapontar Adam, ou por medo da própria mulher. Os olhos dela finalmente chegaram ao meu rosto e eu odiei cada segundo, era como olhar para um pesadelo e acha-lo fofinho, mesmo sendo uma das mais belas mulheres que já vi ela exalava terror.
- Você é mestiça. Certo?
Acenei, se tentasse falar naquele instante nada sairia. Ela inclinou a cabeça um pouco.
- Uma pena, realmente. Quais?
Forcei a garganta.
- A-alf...
- E licantropo?
Neguei, ela parecia desapontada, os olhos foram para o lado por alguns instantes, olhos penetrantes que eu não conseguia tirar os meus.
- Mas parece. Esse cheiro...
- Mãe!
Ela se virou, mas eu continuei petrificada.
- Oh! Meu Adam!
- Mãe, não lhe disse para ser mais delicada?
- Eu fui delicada. Estava tendo uma conversa civilizada com sua amada Maika.
- Maika?
Olhei relutante para ele. Talvez se não respirasse fosse mais fácil. Ele parecia preocupado enquanto vinha até mim.
- Não precisa ficar nervosa com o que ela disser, estava apenas se divertindo.
- Adam! Eu falei que fui delicada. E não estava brincando. Apenas disse que ela se parecia com nós, um elogio.
Ele a encarou e ela bateu as mãos nas laterais do corpo.
- Certo. Vamos! - disse sem empolgação - O jantar está servido.

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora