A grande árvore da Floresta das cores

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Eles trocaram olhares hostis diversas vezes. Eu estava extremamente desconfortável, Britta deixou de se importar logo.
- Chegamos.
Eu falei com muita animação por finalmente poder quebrar um pouco a áurea negra que pairava sobre nós. Nos alinhamos à margem do córrego, todos olhamos para a outra margem como se esperássemos que o corpo ainda estivesse lá, mas ele havia sido incinerado, por um fogo azul, meu fogo. As árvores eram mais amarelas agora, quase não havia vermelho, o córrego era dourado e parecia ouro líquido.
- Vamos à árvore.
Shun tomou a frente e atravessou as águas. Eu entrei logo depois, o nível estava mais alto, a altura da água passava de meus joelhos.
- Subiu.
Shun parou e virou para mim.
- Você veio de fora mesmo. Esse córrego é uma ramificação do grande rio Tern, ele banha todo o nosso plano, inclusive, desagua em seu mundo, no oceano Atlântico.
Ele estendeu a mão para mim e eu a agarrei. No segundo passo pesado quase caí, mas consegui me equilibrar, apesar de me molhar toda. Shun riu de mim e mais atrás escutei uma vampira e uma bruxa se juntarem a ele, Britta era quem ria mais alto. Fiz uma careta, mas logo gargalhava com eles.
Assim que cheguei a outra margem olhei para trás e vi que as duas ainda estavam do outro lado.
- Vocês não vêm?
Britta começou a andar e ela passou direto pela água, como se caminhasse sobre ela, não caiu uma gota sequer em sua sola . Olhei para Liang, mas ela já não estava mais lá.
- Exibida.
Dei um salto quando a voz melodiosa soou ao meu lado, Liang já estava lá. Pus a mão sobre meu coração e o senti muito forte.
- Faço porque posso.
Britta nos alcançou e voltamos a caminhar. A árvore estava mais longe do que me lembrava e demorou muito tempo para chegarmos a ela. Relembrei durante todo o percurso de como havia carregado o corpo daquele homem, como era pesado. Senti o sangue em minhas mãos novamente e um frio irreal. Esfreguei as mãos para aliviar a sensação do sangue e do frio, mas parecia que havia uma gosma nelas que só se espalhava e grudava ainda mais. Um pânico se implantou em mim e a sensação só piorava, por mais que eu visse que nada havia naquelas mãos além da tatuagem mágica. Passei elas pelos shorts, e ainda estava ali. O desespero se emaranhou em minhas entrananhas e logo senti o peso do corpo, a voz do homem sussurrava em meus ouvidos palavras que eu não entendia. Me recostei em uma árvore, vendo os outros continuarem, exceto por Liang, que havia parado e me olhava com curiosidade.
O cansaço me tomou, eu buscava ar com a boca, mas parecia que eu havia caminhado quilômetros carregando aquele corpo. Liang se aproximou e eu estendi uma mão para ela, para que parrasse. Então eu consegui me sentir aquecida. A vampira me olhava assustada e eu, em meio ao súbito ataque de desespero, vi que minha mão estava em chamas.
O fogo era verde e dourado, parecia sair de minhas mãos, as duas eram como fogueiras. As encarei assustada, o fogo estava ali, mas não queimava. Girei as duas mãos, vendo as faces e palmas. A tatuagem mágica dançava com o fogo.
Então, como havia surgido, o fogo sumiu. A sensação fora-se com ele, mas quem não se abalaria mais com suas mãos em brasas que com uma lembrança ruim?
- O que foi aquilo?
Encarei minhas mãos. Liang se aproximou, tocou levemente em meus ombros e me encarou.
- Acalme-se. Deve ter sido uma manifestação inconsciente, depois que o inscius é encontrado ele fica um pouco descontrolado e você vai usá-lo diversas vezes por instinto. Vamos, respire.
Meu coração era comparável ao de um coelho de tão rápido. Liang sabia, por algum motivo, e eu consegui me acalmar depois de muitas respirações.
- Ótimo, agora vamos.
Eu caminhei com Liang ao meu lado, sentia seu olhar sobre mim, talvez tivesse medo que eu a queimasse, rezei para que não passasse por aquilo novamente tão cedo em muitas vidas.
Shun e Britta não tinham parado, eles estavam muito à frente, porém o ritmo deles era lento e logo os alcançamos. A caminhada seguiu silenciosa e eles não perguntaram porque tínhamos nos atrasado.
Ao chegarmos na árvore notei que se tratava de um carvalho, a mesma árvore que minha mãe adorava tanto pintar. Eu me aproximei do tronco e o toquei, relembrando de partes de minha infância, Dara costumava levar-me ao parque botânico da cidade, sempre sentávamos-nos sob um grande carvalho.
- Tens bons sentimentos por minha casa.
Girei sobre os calcanhares e vi uma mulher deslumbrante, a pele era morena, lembrava o tronco da mesma árvore que tocava, os cabelos eram longos e dourados, as pontas chegavam a tocar o chão, o rosto era delicado e belo, os olhos dourados lembravam o próprio sol, suas vestimentas eram um vestido branco e fino, que torneava-lhe o corpo esculpido.
- Quem é você?
Olhei para o lado e não vi mais ninguém, todos haviam sumido. Tornei a admirar a mulher, que exibia um sorriso deslumbrante. Ela se aproximou e eu dei um passo para trás. O sorriso se desfez.
- Não tema a mim, pequeno pássaro. Não hei de machucá-la.
Ela usava o apelido que minha mãe me dera, isso bastou para que eu não mais reagisse, não por confiar nela, mas eu simplesmente não conseguia.
- Vieste atrás de respostas, mas não serei eu quem as dará. Sou mera mensageira. O homem que procura nunca estará longe. E o homem que libertou deu-te um presente. O homem com folhas nos olhos deve ser salvo, antes que seja tarde, ou ele trará destruição.
- Salvo de quê?
Ela sorriu. E se aproximou novamente, passou a mão com enormes unhas pelo meu rosto, a pele dela era áspera como madeira.
- Não sou eu quem te dizes. Sou mera mensageira. Se desejas saber mais, de mim nada terá, pois de nada sei.
- E quem disse?
Ela riu e afastou meus cabelos, os colocando para trás. Aproximou-se mais ainda, colocando seu rosto ao lado do meu. Ela aproximou a boca de meu ouvido e sussurrou.
- Aqueles que se escondem nos castelos de espinhos.
Tentei perguntar novamente quem eram, mas nada saía de minha boca. Ela se afastou devagar. Sorriu-me novamente e me empurrou.
Fechei meus olhos esperando o choque da queda, mas ela não veio. Abri meus olhos novamente e deparei-me com um par de joias de cores diferentes.
- Emi!
Era Shun. Pisquei várias vezes e percebi que ele me segurava.
- O que aconteceu? Para onde foi a mulher?
Ele franziu as sombrancelhas.
- De quem você está falando? Não vimos mulher alguma.
Encarei Liang.
- Ela, ela estava logo aqui. E vocês não.
Liang encarou Britta, que a olhou devolta com preocupação.
- Nós não saímos daqui, Emi.
Emcarei Shun confusa. O que tinha acontecido?

×××
Nossa esse cap ficou maior q eu esperava. 1158 palavras ufa! E olha q era para ser ainda maior, tive que me conter.
Prox Cap: Dríade
Continuem lendo!hihihi
Brighid

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora