Olhos verdes

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Ele me encarou e uivou, fazendo meu coração congelar. Logo depois voltou a me encarar, se levantou e começou a andar para o quintal, parou e olhou para mim. Ele queria que eu fosse com ele. Corri silenciosamente pelo corredor e escadas seguindo para a porta da cozinha, assim que pisei na varanda eu o vi sentado em meio a grama, me esperando. Eu passei a dar passos lentos e cuidadosos, notando que estava descalça. Pisei na grama e durante todo o meu percurso ele sequer desviou os olhos. Assim que estava próxima ele se levantou, me dando um susto, ele era enorme quase como um pônei, e seguiu para o portão de ferro aberto. Não hesitei e o segui.
O lobo atravessou o campo e os trilhos, chegando à margem da floresta. Estava realmente prateada. Ele esperou que eu estivesse ao seu lado para continuar. Porém quando ele adentrou mais a floresta eu resetei. Ele se virou para mim e me encarou com seus profundos olhos verdes como se dissesse Continue, mas eu senti medo. Um uivo ecoou pelas árvores me fazendo tremer, ele se voltou para a floresta e rosnou, depois veio a mim e sentou-se de frente. O que era aquilo? Ele parecia um filhote gigante, o pelo parecia macio e dava vontade de acariciar. Eu estendi minha mão a deixando pairar no ar, ele olhou para minha mão e percorreu resto do espaço, eu deixei ela parada por um bom tempo até que me senti segura e acariciei a cabeça dele. O pavor sumiu e eu consegui ficar tranquila. Assim que parei ele se levantou e adentrou mais a floresta. Dessa vez eu não tive medo.

◇•°•◇

Era uma enorme árvore com galhos que formavam uma espécie de esconderijo sob sua copa, as folhas prateadas iluminavam o interior. Ele estava sentado próximo ao tronco, bateu a pata no chão duas vezes e eu me aproximei.
- O que você quer afinal?
Ele se afastou e eu vi algo no tronco, era como uma mulher, ela era formada pelo relevo na madeira, suas mãos sobre o coração, serena. Toquei o rosto dela, áspero e duro, simples madeira. Encarei o lobo.
- Não entendo. Quem é essa?
Ele sentou ao meu lado e tocou o focinho no rosto da mulher, depois me encarou.
- Alguém importante para você?
Não tive resposta. Acariciei sua cabeça e observei a figura, o corpo da mulher era o tronco, os cabelos se espalhavam e seguiam formando os galhos, a borda do vestido se dividia em raízes. Era belo e triste. De algum jeito entendi que aquela mulher, ou árvore ou o que quer que fosse, era importante para aquele lobo e de certa forma estava me pedindo ajuda. Eu o encarei, aquele olhos me enviavam muitos sentimentos, ele parecia triste. Aproximei meu rosto e o encarei nos olhos.
- Eu vou fazer o possível para ajudar. O que eu puder fazer.
Ele confirmou e eu lhe dei um sorriso. Ele se levantou e e saiu da cobertura das folhas prateadas, eu o segui, dessa vez ao seu lado. Andamos alguns metros e ele parou, olhou ao redor, farejou e rosnou. Eu observei os arredores e vi apenas prata. Então uma figura prateada emergiu, era outro lobo, de olhos dourados, ele rosnava para o lobo negro ao meu lado que avançou se colocando a minha frente. O outro se agachou e quando achei que ia atacar ele se virou e começou a andar. O lobo negro me olhou e seguiu atrás do prateado, e o que mais podia eu fazer se não ir com eles?
O caminho era outro, não estávamos voltando para os trilhos. Depois de um tempo chegamos a uma clareira, os uivos eram mais distantes agora, os dois lobos seguiram para o centro, mas o olhar que o negro me enviou disse que ficasse mais próxima às arvores. Eles voltaram a rosnar e rodavam em círculos, jogavam terra branca para trás com as patas. Eles tinham se desafiado. Do nada começaram a se atacar, morder, empurrar. O prateado atingiu o negro próximo aos olhos com a pata deixando-o com três linhas de sangue escorrendo. O negro não se deixou abalar e continuou a atacar. Que tipo de loucura era aquela? Eles estavam lutando por motivo algum. E eu tinha que ficar olhando. Eles se jogaram um sobre o outro sobre duas patas cada, então o prateado ficou por cima do negro, tentando morder onde desse, de algum jeito o negro o empurrou e logo era ele que estava por cima, ele agarrou uma pata do outro com seus dentes, o prateado chorou, e o negro o soltou, saindo de cima. O prateado se levantou deixando a pata machucada erguida. O lobo negro se sentou e observou o prateado que abaixou a cabeça e saiu para o meio das árvores. O que tinha sido aquilo? O lobo negro se voltou para mim e caminhou. Vamos, era o que ele dizia. Dessa vez ele me levou devolta para a casa de Britta.

◇•°•◇

Antes de deitar observei da janela e vi que ele estava correndo devolta para a floresta, um borrão negro iluminado por uma lua falsa. Eu não conseguia dormir pensando naquele lobo, deveria ser um lobisomem, os olhos dele eram lindos. Me sentei na cama em um solavanco. A dríade tinha dito para salvar o homem com olhos de folha, deveria ser ele, ajudar ele com aquela mulher na árvore. Eu tinha que descobrir quem ele era, para salvá-lo e impedir que levasse à destruição.

×××
Ok, play, o frufru há de continuar.
Gostaram desse pouquinho de emoção?
Eu tinha me esquecido completamente da lua cheia gente!
Ah e reparem que ela andou no meio da floresta atrás de um lobo lindo e apavorante descalça, pobres pés...
Prox cap: Atrás de um lobisomem de olhos verdes
Owww, achei fofo esse.
Brighid

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora