Floresta escura

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A vegetação se tornou mais densa que eu estava acostumada. Minha perseguição continuava, eu já sentia o suor frio em minha testa. O monstro tinha aumentado sua velocidade forçando que eu me esforçasse ainda mais, minha garganta estava seca, eu ofegava buscando ar enquanto corria, as lagrimas de dor tinham secado em meu rosto e meu pé latejava, logo deveria ficar dormente, a dor seria colossal quando o efeito da adrenalina passasse. Era tudo uma agonia, me dava vontade de me contorcer, mas eu continuava, uma vida dependia daquilo.
Eu continuei e continuei, até que não via mais o que perseguia, mas não por ele estar longe, não, ele tinha me percebido.
Eu parei. Aquele monstro tinha me percebido. Olhei ao redor, apenas troncos escuros e folhas escuras, tudo não passava de um breu. O desespero me tomou, o que eu faria?
Mas que grande idiota eu era. Tinha partido em uma perseguição para salvar uma garota de um monstro sem arma. Apalpei meu corpo a procura de algo, tudo o que tinha eram as roupas do corpo, a chave e o medalhão, grandes armas. Iria derrotar o monstro facilmente!
Prendi minha respiração, me preparando para o pior. Estreitei meus olhos. Era... era... Shun!
Suspirei aliviada e segui até ele com um sorriso.
- Shun! Que bom! Por favor, me ajude! Um monstro horrendo está levando uma garota. Precisamos ajudar, ele está por perto.
Ele sorriu, eu o encarei, aquele sorriso era estranho, dei um passo inconsciente para trás.
- Não precisa se preocupar. Vamos!
Ele usou um tom estranho, um muito amigável. Dei outro passo para trás e o sorriso dele se desfez.
- Não devia ter feito isso.
Eu não vi mais nada.

◇•°•◇

Minha cabeça latejava, foi a primeira coisa que senti. Depois o peso de meu corpo e que estava sobre algo duro. Abri meus olhos devagar, tudo escuro. Girei meu corpo sobre a grama, era grama azul e escura. Recobrei minha memória. Eu estava atrás do monstro, então Shun aparece e... abri muito meus olhos, ele me deixou inconsciente. Mas... mas não era Shun, não podia ser, ou podia? Balancei minha cabeça afastando o pensamento. Tinha que continuar a perseguição. Por quanto tempo tinha ficado inconsciente? Talvez horas, ao menos ainda era noite.
Me levantei sentindo a dor em meu pé assim que estava sobre ele. Mordi meu lábio gemendo baixinho, era como bater com o midinho em uma pedra vinte vezes. Manquei e me apoiei em uma árvore escura. E agora?
Mesmo que desistisse teria que voltar e eu não sabia como.
Escutei algo. Logo meu coração batia a mil. Aos poucos a figura se tornou visível. Era... uma velha? Ela tinha roupas de aparência antiga e desgastadas, o nariz era muito grande e um pouco pontudo, ela era baixinha e a cara era redonda, às sombras era assustadora, porém conforme se aproximava se tornava mais amistosa e como uma vó.
- Já vi lobos, trolls, rusalkas, trasgos, gnomos, dríades, jãs, mas uma garota nesta floresta...
Ela estalava a língua enquanto me olhava da cabeça aos pés, parando brevemente no que se prendia aos cordões em meu pescoço e seguindo para os pés.
- O que aconteceu?
Ela encarava o meu pé, ele estava azul com a luz, devia estar roxo.
- Eu bati nos trilhos enquanto corria e...
- Precisa cuidar disso logo, parece que os feriu na corrida, essa floresta também tem seus venenos. Venha comigo.
Ela não esperou minha resposta e já adentrava mais na escuridão, resolvi segui-la.
A floresta parecia apenas escurecer, o ar mudava, se tornava mais pesado. Eu temi, temi pela garota de cabelos roxos, pela pessoa que era levada com ela e por mim, perdida no meio de uma floresta seguindo uma velha desconhecida.
Eu pude ver uma clareira, assim que chegamos a ela eu vi uma cabana, uma casa de madeira velha, que seria como qualquer outra, exceto por dois prolongamentos em suas laterais, eram pernas. Pernas de galinha para ser mais exata, além das peculiaridades extremamente bizarras, tinha algo pior. Quando estava mais perto eu vi a entrada, a porta paecia mais com uma boca, uma bocarra de tubarão, com fileiras e mais fileiras de dentes pontiagudos, afiados e escuros.
A velha subiu a varanda e acariciou a porta, aquilo era muito estranho, que se abriu exibindo um interior claro e aconchegante.
- Entre! Vou cuidar de seu pé.
Eu exitei, pensei em tudo o que tinha visto desde que chegara a aquela cidade, lobisomens, florestas que mudam de cor, criaturas sombrias, mas nada parecia tão surreal quanto aquela casa e sua senhora. Lembrei do wendigo, de como já deveria estar morta.
Dei de ombros. O que tinha a perder?
Entrei na casa.

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora