Noite branca e negra

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Britta andava de um lado para o outro, bem rápida em suas pequenas pernas. Ela parava e me olhava, depois voltava a dar voltas e voltas. Ela parou e finalmente sentou.
- Então...
- Shh
Entortei minha boca, estava pensando demais. Ela abriu a boca, depois fechou. E pensou ainda mais.
- Agora que você perguntou eu percebi que nunca soube.
- O quê?
A mini bruxa afundou mais na cadeira.
- Eu nunca fui muito próxima do seu pai, eu falava com ele apenas por ser amigo de sua mãe, mas nunca soube o que ele era.
Não era possível. Minha única chance de descobrir metade do que eu era não existia.
- Nem mesmo uma idéia?
Ela fechou os olhos enquanto negava.
- Por mais amigável que fosse, ele nunca demonstrou o que era, agia normalmente e não ligava para raças. Eu sempre achei bem legal da parte dele, até porque nunca descobrimos o que Dara era, então era bem normal.
Deixei meus ombros caírem.
- Mas e como foi o teste?
- Eu fui aprovada.
Coloquei o pacote com o uniforme e a carta na mesinha de centro.
- O quê?
Apontei para o pacote e a bruxinha o pegou, abriu e tirou as roupas e o envelope, abriu apressada e leu tudo bem rápido. Eu ainda estava deprimida por não saber o que meu pai era, mas sabia que ele era de uma das cidades, mas não se sabia dos pais dele, ou seja, sem avós para ajudar. Realmente, se eu tivesse avós ali era mais lógico que eu estivesse com eles agora que com uma bruxa.
- Você foi aceita como uma prometida!
Eu a olhei desinteressada, saber a que raça eu pertencia deveria ser mais importante que ser aceita de cara na academia.
- Tirya, você é uma prometida, considerada uma das possíveis candidatas a rainha, isso significa que seu inscius é muito poderoso! Eu sabia! Mas não esperava que percebessem logo de cara.
Franzi minhas sombrancelhas.
- Mas eu queimei a sala toda. Tiveram que jogar água em mim para apagar o fogo. O avaliador também se queimou...
- O fogo tem se tornado um elemento muito raro, além de ser difícil controlar. Quem foi seu avaliador?
Dei de ombros.
- Um vampiro loiro e grande.
Ela estreitou os olhos.
- Não sei quem é. Mas teve outro prometido?
Confirmei.
- Lark Sezquez.
- Sezquez? Alf?
Acenei.
- Ele que me deu um banho. Acho que posso dizer que somos meio que amigos agora.
- Foi ele quem te trouxe?
- Foi.
- Ele, ele disse alguma coisa sobre a família?
- Não. Por quê?
- Nada. - Ela encarou o vazio e eu soube que ela sabia de alguma coisa. - Você já jantou? Que tal uma ceia para comemorar?

◇•°•◇

Me revirei na cama. A noite já havia chegado a bastante tempo, a lua finalmente estava cheia banhando todo o quarto com a cor prateada. Eu escutava uivos distantes, lobisomens. Me levantei e fui a janela, colocando a cabeça para fora e olhando para atrás da casa, a floresta estava prateada, brilhava como um tesouro. Senti vontade de vê-la mais de perto.
- O que faz acordada tão tarde?
Olhei para a frente. Era Shun da outra janela, o cabelo branco brilhava com a luz. Eu sorri para ele ao passo que meu coração acelerava.
- Não consigo dormir.
- Como foi o teste?
Coloquei minha cabeça dentro do quarto novamente.
- Eu fui aprovada.
- Como uma prometida.
Eu sorri, ele não parecia surpreso, gostei de pensar que ele deveria acreditar em mim, em minha capacidade.
- Exatamente. E quanto a você, o que faz acordado?
Ele olhou para cima.
- Os uivos não param e eu te escutei remexer na cama.
Ergui minhas sombrancelhas.
- Você me escuta daí?
- Apenas quando me transformo, e tudo estava bem silencioso.
Olhei para o alto de sua cabeça, não estavam lá. Ele gargalhou.
- Eu tomei a forma comum antes de vir aqui, ou não a escutaria com a bagunça que os lobisomens estão fazendo na floresta.
- Então são mesmo lobisomens. Eles se transformam toda lua cheia?
Ele acenou.
- Aquela lua foi criada principalmente por causa deles, e de algumas outras raças.
Encarei a bola prateada, a lua sem crateras. Então era necessária.
- Mas, como ela tem poder sobre eles se não é a verdadeira?
- A verdadeira é que os influencia, aqui não é a Terra, mas a lua não precisa banhá-los, apenas estar em sua fase cheia, aquela lua é uma forma de lembrá-los o que realmente os afeta.
- Eles só se transformam na lua cheia?
- Alguns, outros têm liberdade para fazê-lo quando desejarem, mas à lua cheia todos se transformam, é uma de suas fraquezas, pois todos sabem disso, mas alguns conseguem controlar a que horas se transformam. - Ele deu de ombros. - Eles têm suas sub-raças, cada uma tem uma característica.
Eu sorri, ele se empolgava ao explicar alguma coisa, um bom professor.
- Shun!
Era uma voz feminina e distante. Ele olhou para trás.
- Tenho que ir, minha mãe acordou.
- Claro. Boa noite!
Ele meneou a cabeça e saiu. Eu continuei à janela. O ar da noite estava agradável e apesar dos uivos assombrosos era tranquila.
Um vulto branco passou a minha frente e eu recuei assustada. Na árvore da casa vizinha, a alguns metros uma coruja branca se empoleirou, me encarando com seus olhos azuis e assombrosos. Eu engoli em seco. Ela piou e voou novamente, só que baixo e eu vi logo abaixo de minha janela um lobo negro como a noite, com olhos verdes.

×××
Pausa no frufru para um pouco de ação.
Gostaram desse?
Eu não consigo me segurar.
Ficou mais curto, mas fazer o q né?
Próximo capítulo: Olhos verdes
Eles são lindos... adoro essa cor
Brighid

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