Loja de tecnologias Externas

5K 648 22
                                    

Me olhei no espelho. Meu cabelo estava preto e azul, presente de Britta. Já meus olhos estavam na cor natural, as lentes também tinham sumido magicamente. Britta explicou que era porque quando alguém entrava aqui tinha sua verdadeira aparência exposta, algo para evitar problemas, ela disse que lançar um feitiço nos olhos era perigoso então tive que me contentar com o cabelo. O azul era uma cortesia, eu não quis, mas Britta insistiu.
- Pronta?
Encarei ela.
- Vamos repassar tudo. Seu nome é?
- Maika Sellivard.
- E você veio de...?
- Da Terra.
- Quem te troxe?
- Michelle Nithal, sua irmã.
- Porque?
- Eu era uma órfã que foi encontrada nas ruas e Michelle sentiu magia em mim e decidiu que era melhor me trazer.
- Qual sua raça?
- Mestiça.
Ela concordou.
- Meio humana meio Alfs.
- Mas você não disse que mestiços são raros?
- Eu disse, mas acontece. Muitos dos que vivem na terra acabam se misturando, apesar de a mistura geralmente ser impossível, já que são duas raças diferentes. Não se preocupe, além do mais os mestiços que trazemos passam a maior parte da vida sem desobrir o que realmente são, quase todos usam magia como bruxos, outros acabam optando por beber sangue e o restante tem leves poderes. A mistura mais comum é com vampiros, esses idiotas saem sugando sangue das mulheres e acabam deixando elas...
Ela me encarou.
- Nada. Vamos.

◇•°•◇

No caminho para a loja toda minha vida mudou, todo o meu conceito de real e fantasia voou para além da estratosfera. Eu via pessoas de cabelos coloridos voando, pessoas com orelhas pontudas, pessoas baixinhas demais, pessoas que pareciam normais, mas não eram, pessoas que sorriam e mostravam presas, era tudo tão estranho e tão fascinante. Aquele lugar me amedrontava e encantava, sequer percebi que já havíamos chegado na loja até que Britta me puxou para dentro. Eu era uma criança em um conto de fadas real, dá pra imaginar como eu encarava tudo, com aquela cara zumbificada, espera, será que tinha zumbis ali?
- Britta, Britta! Tem zumbis?
- Hã? Ah! Tem, mas eles ficam na floresta funesta.
- Floresta funesta?
Ela ergueu uma cortina de rolo e destrancou a porta, sentou em uma cadeira.
- É o seguinte, vou resumir a nossa história um pouquinho. Há centenas de anos as três mais poderosas bruxas criaram esse plano para todas as criaturas como nós, e tudo começou com essa cidade, por isso essa é a Cidade de Magia, todas as espécies viviam aqui, só que aí teve uns problemas com umas famílias que não gostavam de se misturar e criaram outras cidades, tem a Floresta funesta, que é onde vivem a maioria das criaturas sombrias, tem a Cidade dos Deuses, a Cidade dos contos e por aí vai. Ainda hoje a Cidade de Magia é toda misturada e é a cidade principal. Aqui se tem a sede única, a Academy Unique, e outras besteiras.
- Então é como se fosse uma capital? - ela comfirmou - E quantas raças vivem aqui?
- Impossível!
- O que?
- Saber, apesar de todo o negócio complicado pra se firmar aqui, tem muito fluxo de bicho. Uma vez eu vi um dragão voar por aí. Esses bichos ficaram muito dóceis com a vinda pra cá...
Meus olhos faltaram sair das órbitas.
- Tem dragões aqui?
- Não muitos. A maioria morreu antes de chegar por aqui...
- Onde eles ficam?
Ela se afastou de mim a medida que eu me aproximava.
- Na floresta... Olha, você é igualzinha ao seu pai, ele era um tarado por dragões. Até mesmo conseguiu um, mas ele morreu...
Me sentei quieta. Não queria saber do meu pai, não conheci ele, e ficar sabendo sobre ele me fazia pensar em como teria sido viver com ele. Britta entendeu.
Depois de um tempo olhei em volta, já recomposta. A loja tinha diversas coisas, celulares, notebooks, jogos, livros, CDs, caixas de som, DVDs portáteis, tantas coisas que não conseguia entender como cabiam ali.
- Afinal, o que é essa loja de tecnologias Externas?
Britta se empolgou.
- Minha loja oferece diversos objetos da Terra. Todas as tecnologias encontradas nesse plano saem da minha loja.
Ela parecia bastante orgulhosa. Me levantei e comecei a mecher, peguei um celular, o modelo era antigo, de abrir e fechar e um teclado. Examinei o aparelho, estava desligado.
- Isso funciona?
Britta ergueu os olhos de sua mesa desorganizada.
- Ah! Sim, mas ninguém por aqui usa, é mais um artigo de colecionador.
- E como se comunica por aqui? Digo, pessoas distantes.
- Mandamos carta ou por magia.
- Magia?
Ela deu um largo sorriso.
- Você ainda tem muito a aprender.
Olhei para os livros do meu lado.
- Então, você só diz umas coisinhas e uma esfera flutuante aparece com a imagem da pessoa e vocês conversam?
Ela olhou para cima com um biquinho e depois exibiu os dentes.
- Quase isso, mas deixemos isso para depois, temos tempo.
Ela falou como se eu fosse ficar ali para sempre. Não gostei.
Cheguei perto de sua mesa e sentei em uma poltrona.
- Britta, ainda vou ver minha mãe, certo? Ela está bem? Não tem como você fazer uma magia pra mim falar com ela?
Ela fez aquele olhar desolado e apertou minha mão sobre a mesa.
- Tenho certeza de que Dara vai te encontrar, apenas temos que acreditar nela e esperar. Ela vai resolver tudo.
- Mas estamos fugindo de quem?
- Eu não sei. Se fosse... Não, eles não as encontrariam tão rápido. É outra pessoa, alguém que sabe sobre vocês, alguém esperto e provavelmente poderoso. - ela me encarou - Vamos descobrir, eu garanto.

Cidade de Magia - Marcada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora