01. prólogo.

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Ponto de Vista Candice C.

atlanta, 18/06/15; 10:00 p.m

Tempos atuais

Pessoas morrem todos o dias, corações param de bater a todo momento e a única coisa que resta é a dor e o vazio que as pessoas que se foram deixaram. Infelizmente nós temos que conviver com essa história de que "iremos morrer a qualquer momento", até porque somos seres mortais, ou seja, esteja sempre preparada para perder alguém, mesmo isso não sendo uma tarefa fácil. Há uma enorme diferença entre perder alguém por algum problema de saúde e perder alguém que foi assassinado por alguma outra pessoa de má fé, e quando essa pessoa é alguém que você ama muito a única coisa que lhe resta é a vingança.

Há coisas que são dificilmente explicadas e compreendidas. Pessoas entram e saem da nossa vida com tanta facilidade que chega a ser assustador. Há também pessoas importantes que se vão deixando apenas lembranças e saudades. Dentre elas destaco o meu pai, que foi morto bruscamente por alguém ainda desconhecido. Aquilo me causava uma enorme repulsa e indignação pelo fato da policia ter deixado o caso de lado e até hoje nós estarmos sem culpado e sem justiça por tal ato.

. flashback .


atlanta, 27/08/2004; 08:35 p.m


Era uma noite de terça-feira nublada, às pouco menos de 09:00 p.m, e estava deitada preguiçosamente no sofá da sala assistindo algo na televisão enquanto minha mãe permanecia concentrada em alguns papéis jogados sob a mesa de jantar.

- Mamãe, vem assistir comigo - pedi manhosa passando os dedos nas teclas do controle da televisão.

- Candice eu já falei que estou indo - respondeu rude e eu me encolhi no sofá envergonhada com algumas lágrimas acumuladas nos olhos, ela percebeu o meu comportamento e bufou explicando-se - Querida eu estou terminando de preencher alguns papéis do trabalho, quando eu acabar de organizar tudo eu assisto com você, tudo bem? - perguntou e eu murmurei concordando.

O que me incomodava em minha mãe era o fato de ela nunca estar desocupada para fazer algo comigo, eu sentia falta de um carinho maternal, sentia falta das brincadeiras que ela fazia à dois anos atrás, sentia falta simplesmente de um abraço demonstrando afeto. Aquilo era realmente muito engraçado, já que meu pai chegava cansado todas as noites do trabalho e mesmo assim arrumava algum tempo para me colocar na cama e contar algumas histórias até que eu dormisse. A verdade era que o trabalho havia roubado minha mãe de mim.

- Quando o papai vai chegar? - perguntei baixo com receio de receber alguma resposta ignorante.

- Eu não sei, Candice - respondeu ajeitando seu óculos e rolando os olhos por todas as coisas a sua frente - Você sabe que seu pai chega por volta dessa hora, então a qualquer momento ele estará chegando.

Eu estava inquieta - mais que o normal - e algo dentro de mim me deixava agoniada, estava com um pressentimento ruim. Um estrondo forte havia nos assustado e com eles gritos vindos atrás da porta. Alguém batia na porta desesperadamente e gritava pedindo socorro.

Minhas curtas pernas saltaram do sofá e rapidamente foram correndo abrir à porta, recebendo gritos de mamãe desaprovando o ato. Todo o meu pequeno corpo foi jogado ao chão assim que girei a maçaneta e outro corpo caiu em cima de mim, vulgo corpo de papai. Gritos histéricos e passos apressados foram se aproximando e com bastante esforço conseguimos colocá-lo no sofá.

Meus olhos pairaram em sua face e assim que o observei com mais cuidado todo o restante do meu coração havia sido esmagado. Sangue escorria em seu nariz e também em sua boca, seu olho esquerdo estava roxo acompanhado por algumas lágrimas que escorriam em sua bochecha suja de terra e sua boca entreaberta tentava sugar todo o ar que ele precisava para sobreviver. Me ajoelhei ao seu lado e orei baixinho em seu ouvido pedindo que Deus o ajudasse, enquanto minha mãe estava desesperada procurando algum kit de primeiros socorros e chorava compulsivamente.

- Candice vá para o quarto!! - ela gritou e eu me levantei do chão - Vá para o quarto, agora!

- Eu não vou - respondi forte porém com a voz embargada - Não vou deixar papai sozinho.

- Querida, por favor, me obedeça. Seu pai está precisando de mim, então colabore - abaixou-se a minha altura e tocou meus ombros.

- Ele também precisa de mim - puxei meu braço e fui em direção ao sofá - Vamos lá papai - peguei em sua mão e apertei - Eu estou aqui, com você. Vai ficar tudo bem - falei baixo e em resposta ele apertou minha mão.

- Eu preciso cuidar dele - aproximou-se de mim - Para isso preciso que você se afaste.

Por mais que fosse difícil admitir eu estava fazendo birra, e estava impedindo que ela cuidasse de meu pai. No entanto era algo de extinto, eu não queria me afastar e acreditava que segurando sua mão transmitiria mais força. Após me distanciar todo o procedimento de primeiros socorros foram feitos, curativos foram colocados, feridas foram limpas e então todo o caos havia passado - superficialmente.


atlanta, 06/09/2009; 09:03 p.m


Após anos do acontecido algumas coisas haviam mudado. Papai estava ficando cada vez mais ausente em minha vida e as brigas entre ele e mamãe haviam aumentado. Tudo bem que eu já tinha quinze anos de idade e estava uma adolescente um tanto quanto carente, porém eu sempre era acostumada a receber carinho do meu pai, e a ausência disso fazia muita falta.

Novamente todo aquele sufoco estava acontecendo de novo, mas infelizmente dessa vez nada tinha acabado bem.

Estava fazendo algumas lições escolares quando minha mãe recebeu algum telefonema. Seu rosto sem expressão agora era um rosto desesperado e olhos completamente marejados.

- Mãe, o que houve? - me aproximei tocando seu braço - Porquê está chorando? O que aconteceu?

- Eu estarei com você, tudo bem? - ela me puxou para um abraço molhando toda a minha camiseta com suas lágrimas - Eu estarei com você sempre, sempre, sempre - chorou baixo em meu ouvido.

- Por que você está chorando, mãe? - perguntei alterada - O que aconteceu? Me fala!

- O seu pai...

- O que tem o meu pai?

- Ele...

- Ele? - a incentivei a continuar agoniada.

- Me desculpe, e-eu t-e amo, tudo bem? - ela falava embolando as palavras.

- Pelo amor de Deus, pare de enrolar e fale logo o que está acontecendo.

- O s-eu -p-pai morreu.

Sabe o desespero? Pois bem, ele tomou conta de mim.

Em questão de segundos já estava em meu quarto gritando e quebrando todas as coisas possíveis ali existentes. Joguei-me na cama e abafei meu choro com soluções no travesseiro que logo estava molhado com minhas lágrimas.

Aquele tinha sido, sem dúvida alguma, o pior dia da minha vida.

atlanta, 18/06/15; 10:10 p.m

Tempos atuais

Meses atrás todo o meu foco estava voltado em terminar minha faculdade de direito e finalmente ter a minha tão esperada vingança, porém coisas aconteceram e impediram que isso acontecesse.

Acredita em finais felizes? Oh querida, não seja tolinha. Finais são as partes mais tristes de uma história, não deixe-se levar por contos tolos.

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