Afogado(2)

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Ele era como um afogado.
Trazido pelas ondas,coberto de tristezas e espuma de rebentações tão antigas. Vestido de algas. E cheiro de solidão salgada. Eu devia tê-lo devolvido ao mar. Mas abracei como se fosse a minha tábua de salvação. E sofri a pior forma de amor. Aquele inventado. Eu estava cego pela escuridão,feito uma mariposa apaixonada pela luz,perdoei cada ferida aberta. E voltava a me machucar.
Hoje percebo que também estava afogando-me,pelas palavras que eu nunca falei,pelos sinais que evitei enxergar,verdades insinceras,mentiras piedosas.
Entrego-o ao mar,viajante. Antes que arraste-me junto,com a correnteza forte.
Mas ainda sinto o gosto salgado dos teus lábios e o peso dos teus braços.

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