De tão longe o viajante veio,de terras além da minha compreensão,trazendo apenas como bagagem uma desatenta estrela cadente e o meu coração,embrulhado em cetim. Chegou no começo de janeiro,durante uma chuvarada que alagou boa parte da cidade. Encharcado e judiado,entre tanto concreto e mormaço,parecia perdido no burburinho de guarda-chuvas e pessoas.
Dizem que o amor é como andorinhas livres,sempre partem,algumas voltam e outras,não. Enquanto o tempo corria,como um rio sem piedade,eu só gastava tempo com coisas bobas e perdia vida,preciosa,escorrendo entre os dedos.
Viajante,de onde tu veio não haviam flores? Não trouxeste nenhuma,para amenizar tua demora e enfeitar meu coração. Apenas uma estrela,aquela mesma que teimosamente brilhou até mesmo em noites negras. Dizem que sou um louco por ter esperado teu regresso,teus olhos claros de céu sem nuvens.
Mas tu guardaste com tanto zelo meu coração, devo recebê-lo com glórias e honrarias. Devolva-me o que dei-lhe como lembrete do meu sentimento. E more em mim.
Até os grandes homens curvam-se e seguem rios,quando precisam chegar até o mar. Vamos seguir esse rio até o começo de nós,quando não havia medo,vergonha ou rejeição. Quando o amor não precisava de um nome e desconhecia leis. Até mesmo grandes homens são vencidos.
More aqui comigo,farei teu abrigo debaixo da minha pele,preso em meu fôlego e liberto na minha poesia. Não quero viver sozinho. Sempre haverá um espaço em mim.
Vejo borboletas amarelas nascendo do meu corpo. E percebo que meu coração ainda lhe pertence,como tem sido desde o começo de tudo,de mim,de você, de nós e do resto.
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Ensaios sobre sangue, ferrugem e fogo
Short StoryFlores no meu jardim, enfeitam a solidão. Borboletas amarelas morrem tão rápido, quanto aparecem, no meu peito cansado. Estou tecendo histórias, escrevendo verdades e invenções,enquanto espero o amor. Ainda estou aprendendo.