Meu Abrigo

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  Assim chega o amor.
  De mansinho.
  De repente,não sou eu. Existe outro morando em mim. Debaixo de pele,ossos,nervos e carne,sou um recém nascido,de parto prematuro,mas nasço já de olhos abertos,olhando esse mundo maluco,procurando teu rosto. Meu abrigo mudo.
  Visto teu corpo,cubro-me descaradamente com teus braços e eternizo teu cheiro de coisa limpa com meu olfato,farejo para guardar,além dos travesseiros e lençóis,para que a noite não seja uma ilusão. Eu guardo teu riso comedido,teu jeito calmo de falar e as piadas sem graça,mas que rio sempre,por estar cheio de um contentamento tão grande.
  Está tudo calmo e seguro,perco-me em detalhes importantes e meticuloso com bobagens e choro ao entardecer,uma saudade que ainda estou em processo de acomodação.
  Já não sou um,fui partido em dois,metade vivendo no outro,não consigo ser feliz sem urgência,estando incompleto não tenho muita serventia. Apenas sobrevivo.
  Desenho círculos na tua pele,descubro lugares antes proibidos e entendo razões grandes,escondidas em pequenas coisas.
  O amor é um rio,escolho mergulhar e até afogar-me,se for preciso. Só não desejo atravessar toda a minha vida sozinho,com o corpo usado e o coração virgem,sem aprender a amar.

Ensaios sobre sangue, ferrugem e fogo Onde histórias criam vida. Descubra agora