Sou morador de rua.
Já não tenho abrigo no teu peito.
Resido temporariamente no estreito espaço entre um abraço e outro.
Um processo que chamávamos de desabrigo.
Não sei quanto tempo irei caminhar pelo raso. Não sirvo para isso. Mas mergulhar nesse caos seria como abraçar um oceano violento.
Depois de acordar essa tempestade,tu partiu,de mansinho. Sem pagar pelos crimes.
Tento escrever algo belo,otimista. Entretanto,estou afogando-me em silêncios,que já não cabem em si e provocam transbordamentos.
Lembro de coisas que o tempo não atentou de levar. Marcas sob a pele que tento esquecer,mas ardem.
E as promessas que fizemos pesam como chumbo,parecem esmagar meu peito.
Faço pactos com a loucura ao desejar a mansidão. Eu já nem me pertenço,nem sei de quem sou.
Então resolvo simplesmente mergulhar. Abraço o oceano. E sinto-me tão perto do meu coração que costumava ser selvagem,percebo-o tão miudinho.
Escuto sons e vejo luzes,enquanto sou tragado por águas escuras e choro espuma de rebentação.
E afogo-me de mim.
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Ensaios sobre sangue, ferrugem e fogo
Historia CortaFlores no meu jardim, enfeitam a solidão. Borboletas amarelas morrem tão rápido, quanto aparecem, no meu peito cansado. Estou tecendo histórias, escrevendo verdades e invenções,enquanto espero o amor. Ainda estou aprendendo.